Folha de S. Paulo


Tapete vermelho mostra que etiqueta não é garantia de elegância

O tapete vermelho é a prova irrefutável de que nem as etiquetas mais caras e prestigiadas, tampouco suas versões feitas sob medida a preços milionários, são garantia de elegância para ninguém.

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Misto de alívio e desespero: na chegada à cerimônia do Oscar, no último domingo (26), estrelas de cinema com stylists, personal trainers e toda sorte de recursos que o dinheiro e a fama podem comprar erraram –e também acertaram, justiça seja feita– o figurino no mais importante evento de moda do ano.

Meryl Streep, ganhadora do Oscar de melhor atriz ("A Dama de Ferro") apostou num longo dourado tipo "estatueta". Pois nem Alber Elbaz, o criador das roupas embelezadoras de mulheres, estilista cultuado (não sem razão) da Lanvin, grife do modelito usado por Streep, parece deter o selo de sucesso irrestrito estampado na etiqueta.

Ironicamente, o drapeado, marca registrada da maison, e geralmente eficaz em esconder imperfeições e emprestar um "que" de deusa grega à mulher, aumentou e tornou desajeitada a silhueta de Streep, atrapalhada por excesso de panos brilhantes.

Na maior parte das vezes, vestir uma personagem com a qual não se tem muita afinidade provoca efeitos desastrosos no figurino, não importa o quão bem feito e adequado à ocasião (mas não necessariamente a quem vai usá-lo) ele seja.

E eventos de gala como o Oscar são momentos em que este incômodo com o "papel" da noite é definidor para que uma mulher seja considerada bem ou mal vestida. Penélope Cruz é outro exemplo infeliz (talvez o pior de todos).

Embora parecesse muito à vontade ao incorporar uma diva norte-americana retrô, entre uma Jacqueline Kennedy e uma Grace Kelly morena, o tom do vestido Giorgio Armani desfavorecia o tom da pele, o cabelo, a atitude, tudo conspirava para assassinar a latinidade da atriz e transformá-la numa versão retrô menor de uma estrela americana.

Se fosse num filme, poderia ficar divertido. Mas, no tapete vermelho, todos esperavam a versão mais glamourosa da própria Penélope, não uma caricatura de uma atriz dos anos 1950.

Angelina Jolie pareceu fazer muito esforço para vender o que seus lábios carnudos vermelhos sugerem e seu estilo pessoal e seu corpo (cada vez mais) franzino negam na mesma medida: que ela é uma mulher muito sexy. Nem a Versace (Atelier), marca rainha da sensualiade à flor da pele, conseguiu "sexualizar" Angelina.

Se escolher o personagem (ou não saber interpretá-lo) renderá críticas certas ao look, ser fiel ao próprio estilo é quase garantia –aí um bom stylist faz a diferença– de sucesso.

Cameron Diaz e Jennifer Lopez são bons exemplos de mulheres que levam a sensualidade às últimas consequências e se protegem da vulgaridade com o humor.

J. Lo, mais experiente nesta seara, arriscou até recortes estranhos nos braços e um decote no colo perigosíssimo. Já Cameron caprichou num Gucci justíssimo para aumentar os quadris que a outra tem de sobra.

No outro extremo, a atriz iraniana Leila Hatami, de "A Separação", não abriu mão dos véus muçulmanos nos eventos hollywoodianos e conseguiu resultado leve e diáfano com seu look total –dos pés à cabeça, literalmente– branco com uma transparência sugerida.

Valerie Macon/France Presse
A atriz Penelope Cruz no tapete vermelho da 84ª edição do Oscar
A atriz Penelope Cruz no tapete vermelho da 84ª edição do Oscar

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