Folha de S. Paulo


Primeira história de 'Turma da Mônica' ganha reedição com novo ilustrador

OS MÚSICOS DE BREMEN

É nas fábulas antigas que se assenta a tradição literária do mundo —em especial a dedicada às crianças. Ali, os irmãos Grimm são reinantes e fazem jus à fama, colorindo a vida de muitas gerações. Com simplicidade e alegria. E com as famosas morais da história, que permitem aprender além do puro prazer de ler.

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"Os Músicos de Bremen" aglutina numa mesma peregrinação um burro, um cachorro, um gato e um galo. Todos de certa forma rejeitados pelos antigos donos por não terem mais a serventia anterior. Primeira moral da história: nunca dispense um animal doméstico por ele ter se tornado idoso.

Os quatro, grandes apreciadores de música, decidem ir para Bremen, onde poderão formar uma banda —cada qual com seus talentos. Segunda moral: a união faz a força. Ou, se preferirem: nunca deixe de correr atrás de seus sonhos.

Acontece que a meio caminho decidem pernoitar numa casa, na qual se reúne um bando de ladrões. Unindo garras e gritos, dentes e coices, os bichos andarilhos afugentam os bandidos, assumem a moradia e ficam por lá mesmo. Outra moral: é bom prestar atenção às alternativas que o destino oferece às nossas opções. Ou: o caminho se faz ao andar. Mas essa foi inventada bem depois. (VIVIEN LANDO)

AUTORES: Jacob e Wilhelm Grimm
ILUSTRAÇÕES: Michel Boucher
TRADUÇÃO: Renata Dias Mundt
EDITORA: Estação Liberdade
QUANTO: R$ 23 (32 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo

Michael Boucher/Divulgação

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DEPOIS

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GUIA CULTURAL LIVROS - Guia 80 - Capas livros

Sabe-se que as crianças relutam em entender que nem tudo está ao alcance aqui e agora. O ilustrador francês Laurent Moreau decidiu empreender a tarefa de explicar a elas a "estrutura" do tempo, isto é, que na vida é preciso aprender a respeitar a ordem dos eventos.

Para isso, escreveu e ilustrou um livro cujo personagem reflete sobre alguns desdobramentos do "depois". Ao final, conclui que não se pode deixar de lado o agora.

Desde o início, apresenta-se a ideia de sucessão: "Depois do inverno, a primavera mostra outra vez as cores. Depois da semente, a flor sobe rumo ao céu". E passa por questões difíceis como "depois de muitos anos, será que serei o mesmo?".

O autor prefere lançar mão de um texto curto e bem simples, exposto em duas a três linhas, ideal para ser lido pelos pequenos. No trabalho bem colorido e artesanal de Moreau, que começa com ilustrações feitas à mão em cadernos de desenho, sobressaem os tons de azul, vermelho e laranja. Uma forma de aprender com prazer. (MARIO BRESIGHELLO)

AUTOR: Laurent Moreau
TRADUÇÃO: Adilson Miguel
EDITORA: SM
QUANTO: R$ 40 (48 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo

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MÔNICA É DALTÔNICA?

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"Mônica é Daltônica?" é uma das primeiras histórias da turma criada e desenhada por Mauricio de Sousa. Nesta edição, os quadrinhos ganham releitura, em versão "livro ilustrado", com imagens de Odilon Moraes, em uma coedição da Companhia das Letrinhas e da Editora Mauricio de Sousa.

Primeira história publicada na revista "Mônica", em 1970, ela tem um roteiro que se tornaria familiar aos leitores dos quadrinhos: os meninos tramam um plano infalível para derrotar a dentuça, que é a dona do pedaço. O líder desta vez não é Cebolinha, mas Zé Luís, o adolescente de óculos enormes, que conta com a ajuda de outros personagens que se tornariam famosos e frequentes nas revistinhas e tirinhas (Cascão, Titi, Xaveco e o próprio Cebola), além de outros que não se tornaram tão conhecidos (como Manezinho). Com o traço de Odilon Moraes, ao mesmo tempo autoral e atento a preservar os elementos essenciais de cada personagem, o livro mostra como as histórias da Mônica e sua turma ainda têm fôlego e brilho, tanto nos quadrinhos como em novas roupagens. As duas editoras irão publicar histórias clássicas da turma, relidas por novos ilustradores. (BRUNO ZENI)

AUTOR: Mauricio de Sousa
ILUSTRAÇÕES: Odilon Moraes
EDITORA: Companhia das Letrinhas/Editora Mauricio de Sousa
QUANTO: R$ 34,90 (48 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo

Odilon Moraes/Divulgação
14_15_MonicaOdilon Moraes/Divulgação

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MAURICIO, O INÍCIO

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Ao completar 80 anos no próximo mês, Mauricio de Sousa terá construído o maior império de HQs do país. Nem sempre o grande leitor de gibis de hoje será o aficionado de livros de amanhã.

Mas isso não lhe tira o mérito: ao criar personagens, crianças em sua maioria, e alguns bichos, como o primogênito cachorro azul Bidu, o autor não se preocupou com lições de moral supérfluas. A força do coelhinho da Mônica, da sujeira do Cascão e da gula da Magali prevaleceram sem culpas.

Em compensação, convocou os leitores a se preocuparem com a natureza, via o caipira Chico Bento, e a encararem a morte com mais facilidade, a partir das aventuras de Penadinho.

Neste volume comemorativo, que reúne três livros publicados em 1965, já se enxerga o embrião da longa trajetória que iria povoar o imaginário infantil (e não só) dos brasileiros. Com destaque a um personagem que nunca mais se repetiu, o Niquinho, e sua maravilhosa Caixa da Bondade. E que merecidamente abre o livro. Volte a ele, Mauricio! (VIVIEN LANDO)

AUTOR: Mauricio de Sousa
EDITORA: WMF Martins Fontes
QUANTO: R$ 99,80 (208 págs.)
AVALIAÇÃO: bom

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A INVASÃO MARCIANA

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Nesses tempos de preparação para a invasão de Marte pelos terráqueos, nada melhor do que ler "A Invasão Marciana", da escritora espanhola Catalina González Vilar. Porque, em primeiro lugar, ela não está falando de habitantes de Marte e sim do planeta Marcia. A seguir porque esses seres de um azul tão especial que é impossível reproduzir (nem mesmo pelo ilustrador Miguel Pang Ly), portadores de seus carrinhos de gelo sem o qual não sobrevivem (digo, o gelo), trazem aos humanos quase tudo o que está faltando.

A capacidade de se comunicar com bichos, plantas e micróbios, por exemplo. Bastando para isso que um marciano enfie um tentáculo até nosso esôfago. O que não é nada diante da grandiosidade que nosso mundo ganharia com o fim da falta de entendimento interespécies, não é mesmo?

O conhecimento com Marc, que desaba em sua varanda, faz o narrador da história —já velhinho e perdido em reminiscências azuis marcianas— mudar sua visão de mundo. E, no caso, do próprio universo, já que há mais de um planeta em pauta.

E permite aos felizes leitores de todas as idades sonhar com possibilidades melhores, levantadas lá atrás por Steven Spielberg e seu ET, o Extraterrestre. O que atualmente já é ótimo! (VIVIEN LANDO)

AUTORA: Catalina González Vilar
ILUSTRAÇÕES: Miguel Pang Ly
TRADUÇÃO: Livia Deorsola
EDITORA: MOV Palavras
QUANTO: R$ 39 (32 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo

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QUANDO UM ELEFANTE SE APAIXONA

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O canal dos bichos é o de mais fácil acesso aos leitores bem pequenos e o suíço Davide Calì opta por um bem exuberante —o elefante.

Acontece que seu personagem está apaixonado e toda sua paquidermice desaparece diante da timidez, ao deixar flores para a amada e sair correndo, experimentando roupas elegantes, tomando banho diariamente e iniciando um impossível regime.

Ou seja, o livro fala de amor —o que também pertence à compreensão universal de todas as idades.

Com dois trunfos assim, e muito bem ilustrado pela italiana Alice Lotti, que alia inocência com modernidade, a historinha cumpre sua função primordial de trazer o admirador de figuras coloridas ao universo da narrativa.
Primeiro passo para fomentar um bom leitor para o resto da vida. (VIVIEN LANDO)

AUTOR: Davide Calì
TRADUÇÃO: Adilson Miguel
ILUSTRAÇÕES: Alice Lotti
EDITORA: SM
QUANTO: R$ 40 (32 págs.)
AVALIAÇÃO: bom

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CADA BICHO COM SEU CAPRICHO

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Este livro em grande formato traz generosas ilustrações de página dupla, com fundo colorido que muda a cada nova imagem.

Os poemas de Carlos Machado são inspirados em bichos diversos, alguns deles bem brasileiros, como o Tatu, a Anta, a Preguiça e o Jabuti.

Certos poemas transformam animais em personagens, como o cão Nicolau e o pinguim Heitor, outros glosam os hábitos dos bichos, caso do Galo Carijó que quer ser cantor sertanejo, ou aproveitam características da morfologia animal —caso dos versos sobre a Borboleta, que "é uma lagarta de asa delta", e sobre o Cavalo Marinho, que "encaracola o rabo, sacode o focinho, mas sabe que é peixe e não cavalinho".

O projeto gráfico de Tereza Bettinardi valoriza as belas ilustrações de Geraldo Valério, revisitando, com soluções modernas e coloridas, um estilo clássico de ilustração e tipografia. (BRUNO ZENI)

AUTOR: Carlos Machado
ILUSTRAÇÕES: Geraldo Valério
EDITORA: MOV Palavras
QUANTO: R$ 39 (40 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo

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DULCE, A ABELHA

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O escritor mineiro Bartolomeu Campos de Queirós não chegou a ver sua abelhinha voar em português, embalada pelos maravilhosos desenhos de Mariana Newlands. Morreu antes, em 2012.

Da mesma maneira, sua criação, uma abelha diabética, não chega a cumprir seu destino completo, pois simplesmente não consegue transformar néctar em mel —desmaia antes. Debatendo-se em culpa e desânimo, ela sonha com a existência de flores diet, mas numa manhã decide fazer mais do que pode. E não dá certo.

Se eu fosse uma criança sensível, choraria com o desfecho. Mas faz parte do papel da literatura ensinar as dores antes que elas venham no plano real. É seu dever esfolar um pouco os corações iludidos, como um joelho depois do tombo.

Assim, ao perder o primeiro hamster o pequeno leitor já tem uma referência de finitude que ajuda a enfrentar a tristeza. E a aprender que a abelha Dulce e o hamster, vivem no mesmo arcabouço —o do afeto. (VIVIEN LANDO)

AUTOR: Bartolomeu Campos de Queirós
ILUSTRAÇÕES: Mariana Newlands
EDITORA: Alfaguara
QUANTO: R$ 37,90 (40 págs.)
AVALIAÇÃO: bom

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