Folha de S. Paulo


Trama é filmada do ponto de vista dos alemães, na Segunda Guerra Mundial

A ÁGUIA POUSOU
Em 1976, "A Águia Pousou", de John Sturges, parecia um dinossauro. Após o furacão do cinema moderno que invadiu Hollywood a partir do final dos anos 1960, um filme de guerra, amplamente baseado no trabalho dos atores e no romance de Jack Higgins, transformado em roteiro pelo craque Tom Mankiewicz, apesar de seus inegáveis atrativos, parecia deslocado.

Divulgação

Mas essa trama filmada do ponto de vista dos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, na qual um grupo recebe a incumbência de sequestrar Winston Churchill, tem muita classe.

A começar pelo grupo de atores: Michael Caine, Donald Sutherland, Robert Duvall, Donald Pleasance, Anthony Quayle, e a jovem Jenny Agutter.

Há uma noção exemplar de humanidade, em que alemães e britânicos são manipulados em uma guerra cruel que, na origem, não lhes dizia respeito. Não é de fato sobre uma missão. É sobre o horror da guerra que fala o filme. (SÉRGIO ALPENDRE)

A ÁGUIA POUSOU
DIRETOR John Sturges
DISTRIBUIDORA Classicline
QUANTO R$ 29,90

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PHOENIX

O alemão Christian Petzold tem uma carreira irregular, mas com grandes achados dramáticos. Em seus melhores momentos, "Fantasmas" (2005) e "Yella" (2007), desenvolve dramas pesados em uma estrutura bem rígida, mas que comporta alguns voos audaciosos, facilitados pela base sólida dos roteiros que constrói com Harun Farocki e por um exímio trabalho com os atores.

Em "Phoenix", Petzold mostra sua musa, Nina Hoss, como Nelly, uma sobrevivente dos campos de concentração que teve o rosto desfigurado e foi tida como morta. Numa espécie de milagre chamado cirurgia plástica, tem o rosto reconstruído. Ela volta à sociedade, numa Berlim em ruínas, onde procura retomar sua vida e reencontrar Johnny, o escroque com quem havia se casado.

Com fortes toques de Hitchcock ("Um Corpo Que Cai" é uma clara referência) e do cinema alemão do pós-guerra, o filme tem lá seus exageros, mas se beneficia de um clima de estranheza muito bem arquitetado e suficientemente forte para garantir nosso interesse até o final acachapante. (SÉRGIO ALPENDRE)

PHOENIX
DIRETOR Christian Petzold
DISTRIBUIDORA Imovision
QUANTO R$ 39,90

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METROPOLIS

Um filme com quase cem anos de idade, em preto e branco, tratado como clássico interessa quem estuda cinema ou admira a linguagem audiovisual e sua história. Essa sobrecarga de valor, contudo, tende a afugentar os que consideram que o passado fica mais bem guardado em museus e livros.
Apesar disso, a impecável cópia de "Metropolis" em alta definição pode quebrar resistências, sobretudo dos que consomem filmes futuristas cheios de efeitos e gostam de saber muito sobre o gênero. Se a chamada ficção científica surge logo na origem do cinema com as fantasias de Méliès, é com "Metropolis" que o progresso torna-se negativo.
Em vez de fantasia escapista, a antecipação serve para fazer críticas à política, à sociedade e à ciência. Por que a visão de "Metropolis" quase um século depois de seu lançamento ainda provoca admiração? Porque o roteiro de Thea Von Harbou engrandecido pela imaginação de Fritz Lang resulta em um filme visualmente fantástico. E porque mostra que o tempo muda, e os homens não. (CÁSSIO STARLING CARLOS)

METROPOLIS
DIRETOR Fritz Lang
DISTRIBUIDORA Versátil
QUANTO R$ 49,90 (Blu-ray)

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A FLOR DO PÂNTANO

Mocinhas ingênuas e ao mesmo tempo espertas foram recurso comum no passado hollywoodiano para representar a efervescência libidinosa sem ferir a moral e os bons costumes.

"A Flor do Pântano", produção de 1957 formatada para atrair o público jovem, inaugurou a série de estripulias de Tammy. Ela é uma adolescente que vive solitária em um fundo de mundo até que um dia cai do céu um rapagão na medida dos seus sonhos. Adotada por uma família sulista toda reprimida, Tammy quebra as convenções com sua espontaneidade.

Os adultos a tratam como criança, mas a solteirona liberal logo reconhece nela um vulcão hormonal prestes a entrar em erupção. Debbie Reynolds (mãe da princesa Leia, Carrie Fisher) deita e rola com os diálogos de duplo sentido. Ao lado dela, Leslie Nielsen, bem antes de se tornar o veterano grisalho de paródias nos anos 1980, encarna o galã perfeito. A direção impessoal de Joseph Pevney não brilha nem atrapalha. (CÁSSIO STARLING CARLOS)

A FLOR DO PÂNTANO
DIRETOR Joseph Pevney
DISTRIBUIDORA Obras Primas do Cinema
QUANTO R$ 39,90

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VINTE E QUATRO OLHOS

Keisuke Kinoshita não está à altura dos mestres do cinema clássico japonês (Mizoguchi, Kurosawa, Naruse, Ozu), nem dos injustiçados Masaki Kobayashi e Tomu Uchida.
Irregular, era capaz de fazer filmes delicados e belos, mas também coisas inexplicáveis como "O Amor Inocente de Carmen" (1952).
"Vinte e Quarto Olhos" é, com justiça, um de seus filmes mais celebrados. A história de uma professora de hábitos modernos que vai trabalhar numa região remota no sul do Japão conquista pela simplicidade e pelas crianças que ela deve ensinar. A direção equilibrada deixa que as relações de respeito e admiração cresçam naturalmente.
Esse tipo de drama singelo, que Kinoshita fazia desde os anos 1940, vai influenciar, principalmente no tom, os filmes pelos quais Yoji Yamada ficaria famoso, sobretudo a longa série de longas com o personagem Tora San, que atravessou ao menos quatro décadas, desde o final dos anos 60: a simplicidade da vida e a beleza das relações e do aprendizado. (SÉRGIO ALPENDRE)

VINTE E QUATRO OLHOS
DIRETOR Keisuke Kinoshita
DISTRIBUIDORA Obras Primas do Cinema
QUANTO R$ 39,90

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DOSE DUPLA NATALIE WOOD

Nenhum destes dois filmes com a bela Natalie Wood é essencial, mas "À Procura do Destino", de Robert Mulligan, é superior a "Bob, Carol, Ted e Alice", de Paul Mazursky.
"À Procura do Destino", de 1965, é um retrato crítico da Hollywood dos anos 1930. Wood é Daisy Clover, adolescente descoberta por Raymond Swan (Christopher Plummer), dono de um grande estúdio. Ela vira atriz e cantora, num rápido e fabricado estrelato. O filme mostra sua tentativa de lidar com a máquina de esmagamento humano do show business e com todos que a rodeiam -entre eles o astro rebelde interpretado por Robert Redford. Fica nas entrelinhas que ele teve caso com todo mundo, incluindo Raymond.
"Bob, Carol, Ted e Alice" é uma tentativa de lidar com a contracultura e suas conquistas comportamentais. O primeiro casal do título quer experimentar novas coisas, e tenta inserir o segundo casal em suas experiências. Mas o filme é muito mais careta do que se propõe. (SÉRGIO ALPENDRE)

DOSE DUPLA NATALIE WOOD
DIRETORES Robert Mulligan e Paul Mazursky
DISTRIBUIDORA Obras Primas do Cinema
QUANTO R$ 39,90


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