LIVRO DOS COMEÇOS
O mais recente livro de Noemi Jaffe cumpriu a missão —tão poética, devido a seu título— de concluir a história da editora Cosac Naify, enriquecendo a melancolia do puro fato com nota de ironia. Dito isso, o livro pode ser filiado, como caçula minimalista, a ao menos duas tradições.
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| Capa de Livro dos começos |
Uma, a das experiências combinatórias/exploratórias do Oulipo (a "oficina de literatura potencial" criada por Raymond Queneau para aplicar restrições à criação literária), tendo afinidade particular com os inventários exaustivos de Georges Perec e sua assombrada observação do usual.
Outra —uma tradição latino-americana—, a literatura do prolegômeno inventada por Macedonio Fernández em "Museu do Romance da Eterna" (1967) e radicalizada por Mario Levrero em "La Novela Luminosa" (2005), nas quais ambos adiam infinitamente o começar.
Ensaio combinatório sobre a procrastinação, o livro de Jaffe nunca começa. Com isto, também não termina. (JOCA REINERS TERRON)
LIVRO DOS COMEÇOS 
QUANTO R$ 39,90 (38 págs.)
AUTOR Noemi Jaffe
EDITORA Cosac Naify
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UM MAPA TODO SEU
Sob o pano de fundo de um relacionamento amoroso do século 19 e da transição do período imperial para o republicano, com conflitos que gravitavam em torno do movimento abolicionista, Ana Maria Machado reconstrói as biografias do jornalista e diplomata Joaquim Nabuco e sua mulher Eufrásia Teixeira Leite.
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| Capa de 'Um Mapa Todo Seu' |
A narrativa procura esmiuçar a intimidade do casal, a personalidade inquieta de cada um e seu engajamento com as questões sociais num momento turbulento da história, em tom aproximado à crônica de época, visivelmente inspirado em Machado de Assis e nos próprios textos de Nabuco.
Ganha destaque a figura pouco conhecida de Eufrásia, mulher de temperamento marcante, com atitudes e ideias avançadas para seu tempo e o papel injustamente secundário reservado às mulheres. Como ela, muitas personagens ainda esperam pela recuperação de seu protagonismo histórico, no cotidiano, na política ou na literatura.
A despeito do peso documental, Ana Maria Machado narra com elegância uma história de amor e conflitos ideológicos. (REYNALDO DAMAZIO)
UM MAPA TODO SEU
QUANTO: R$ 39,90 (224 págs.)
AUTOR: Ana Maria Machado
EDITORA: Alfaguara
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PARA FUGIR DOS VIVOS
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| Capa de "Para Fugir dos Vivos" |
Dois irmãos retornam ao espaço cênico de suas memórias de infância e adolescência, a cidadezinha do interior de Minas Gerais onde o pai coveiro e a mãe opressora fizeram o que deu (quase nunca o melhor) pelo futuro dos filhos.
"Ah, memória, inimiga mortal do meu repouso!", diria Cervantes, diante da tempestade de culpas, repressão, solidão, religião, revolta, puteiro e cemitério.
Ambos estranhos um ao outro, o mais velho, o que pensa, escritor ainda a caminho, sonha com o reconhecimento, algum dia, pelas páginas desta Folha.
O mais jovem, o que calcula, gerente de banco, o que deu certo na vida, se arrasta melancólico aos pés de suas duas hierarquias, a institucional e a matrimonial.
Narrada em primeira pessoa, em duas partes, uma de cada irmão, essa obra é, antes de tudo, um belo trabalho de criação de personagens que se debatem no confronto com o que fizeram (e deixaram fazer) com suas vidas. (GREGÓRIO BACIC)
BRAZ VELLOSO 
QUANTO: R$ 38 (192 págs.)
AUTOR: Eltânia André
EDITORA: Patuá
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O EVANGELISTA
Em vez de perder o corte com o uso, o bisturi satírico de Manoel Herzog está cada vez mais afiado. Os dois primeiros romances "Os Bichos" e "Companhia Brasileira de Alquimia" são incisões cirúrgicas na hipocrisia social e no órgão cardíaco do Poder.
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| Capa de "O Evangelista" |
Com o livro seguinte —a coletânea de poemas libertinos "A Comédia de Alissia Bloom"—, o autor ganhou o Jabuti. Mas é com este irretocável "O Evangelista" que o escritor santista realiza sua melhor dissecação.
João Evangelista é o escrevente-chefe no cartório de Juizado Especial em que Pedro é o diretor da seção criminal. João Baptista e Salvador, irmão mais velho do Evangelista, são sócios num escritório de advocacia. Formada está a sagrada quadrilha que manipula o sistema em benefício próprio. Interagindo com ela, encontramos os avatares de Maria Madalena, de Herodes, de Caifás
Por meio da perspicaz analogia com o "Novo Testamento", Manoel Herzog além de escritor, advogado denuncia os bastidores invisíveis da corrupção no judiciário. (NELSON DE OLIVEIRA)
O EVANGELISTA 
QUANTO: R$ 38 (192 págs.)
AUTOR: Manoel Herzog
EDITORA: Patuá
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O LUME E O AGRESTE
É famosa a encenação da "Paixão de Cristo" na cidade-teatro de Nova Jerusalém, no distrito de Fazenda Nova, em Pernambuco. O idealizador foi o gaúcho Plínio Pacheco, que nos anos 1960 sonhou com uma réplica de Jerusalém em pleno agreste. Nessa época, Plínio já era casado com a atriz pernambucana Diva Mendonça, a primeira Maria, mãe de Jesus, na "Paixão" de Nova Jerusalém.
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| Capa do livro "O Lume e o Agreste" |
"O Lume e o Agreste", livro de estreia de Fabiano Costa Coelho, é a história romanceada de Diva e Plínio, dos filhos do casal e da construção do maior teatro a céu aberto do mundo. O novelo narrativo começa recuado no tempo, no final do século 19, segue desenrolando as peripécias violentas ou pitorescas dos avós e dos pais de Diva, esmiúça a vida atribulada dos protagonistas e dos filhos, terminando no início do século 21.
A estreia de Fabiano na literatura é marcante. A prosa sem ornamentos e a cuidadosa pesquisa biográfica e historiográfica reavivam a tradição dos romances de natureza épica, de Erico Verissimo e Jorge Amado. (NELSON DE OLIVEIRA)
O LUME E O AGRESTE
QUANTO: R$ 55 (432 págs.)
AUTOR: Fabiano Costa Coelho
EDITORA: Confraria do Vento
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OS GRINGOS
Lançado em 1973, "Os Gringos" volta agora com sete de seus dez contos originais sutilmente reescritos, aqueles que preservariam o espírito dos anos 70. Por exemplo, o do professor que, no auge da ditadura, transava com a mulher do cabo da Força Pública. Ou aquele em que o marido flagra a esposa e o vizinho à noite num terreno baldio.
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| Capa do livro "Os Gringos" |
Nessa nova versão, três contos atemporais em espírito são substituídos. Novidade é "Entrevista com Malavolta Casadei", em que Carbonieri responde a seu heterônimo. Entre provocações literárias e políticas, deplora o romantismo torpe, declara indignações datadas para com o mensalão e o presidente da CBF preso em Zurique e propõe um filme brasileiro a ser estrelado por Ricardo Darín.
Para quem não sabe, Mafra Carbonieri, 81, tem nas costas meio século de prêmios literários no Brasil, na Itália e em Cuba. E, quiçá, uns cinco minutos de elogios em nossas escolas. É pouco. (GREGÓRIO BACIC)
OS GRINGOS
QUANTO: R$ 36 (174 págs.)
AUTOR: Mafra Carbonieri
EDITORA: Reformatório
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A ÁRVORE TODAS
A curitibana Luci Collin é herdeira da geração anterior à sua, aquela do quinteto mágico composto por Paulo Leminski, Manoel Carlos Karam, Jamil Snege, Wilson Bueno e Valêncio Xavier. Deles, só recebeu dívidas: gume experimental, massa humorística e a loucura da brevidade em época de baixo apreço pelo calibre curto.
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| Capa do livro "A Árvore Todas" |
Apesar da correnteza contrária, ela insiste em publicar contos nos quais todos os elementos literários de sua estima são expostos ao mais desabrido risco, como abordar o feminismo sob perspectiva irônica ("Isto é literatura feminina ou seja (autoretorto)") e armar a guerra de classes com os canhões do "non sense" e da paródia.
A estratégia de Collin é kamicaze: despreza a recepção, e compreende a literatura como objeto fora do mercado. Em tempos de mercantilização extrema, nunca uma mulher sozinha em casa diante da página em branco —a produzir algo que não está à venda- foi tão perigosa. (JOCA REINERS TERRON)
A ÁRVORE TODAS
QUANTO: 34 R$ (96 págs.)
AUTOR: Luci Collin
EDITORA: Iluminuras
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O CONTRÁRIO DE B.
Deve existir um "aquecimento global do espírito", um fenômeno climático interno que evolui com a explosão demográfica. Quanto mais gente no planeta, menos espaço moral e emocional. Quanto menos espaço nas grandes cidades, menos solidariedade, mais violência. Mais crueldade.
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| Capa de "O contrário de B" |
A coletânea de contos de Bruno Liberal, goiano radicado em Petrolina (PE), é sobre esse aquecimento global do espírito. São ficções terríveis, que flagram o marido torturando a mulher, o pai torturando o filho, o macho caçando e estuprando, a sociedade espancando e sendo espancada, delicadezas assim.
Nas 13 narrativas curtas, há sempre alguém gritando de raiva ou dor. Também há sempre alguém traindo. As geleiras do desgosto estão derretendo, provocando inundações de rancor e sadismo.
Este é o terceiro volume de contos do autor, que estreou em 2012 com "Sobre o Tempo". No ano seguinte, sua segunda coletânea, "Olho Morto Amarelo", venceu o 1º Prêmio Pernambuco de Literatura, promovido pela Cepe Editora. (NELSON DE OLIVEIRA)
A ÁRVORE TODAS
QUANTO: R$ 37 (108 págs.)
AUTOR: Bruno Liberal
EDITORA: Confraria do Vento
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OUTROS CANTOS
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| Capa de "Outros Cantos" |
A narrativa de Maria Valéria Rezende conduz o leitor por caminhos que se bifurcam, na direção do passado, ou na viagem de ônibus do presente. O encontro com personagens pela estrada evoca as muitas histórias reconstruídas na memória, como se os fios de um longo bordado existencial se entrelaçassem noite adentro.
O recurso pode até parecer manjado, não fosse a linguagem incisiva e densa que a autora manipula com leveza, para recuperar os fios da meada de um tempo de formação, não apenas afetiva e profissional, mas da consciência. Afinal, como ocorre em todo grande romance, o que está em jogo aqui é a temporalidade, ou as temporalidades que se cruzam: o estrangeiro, o mergulho no interior do país, a compreensão da pobreza e das desigualdades, o choque com os desmandos políticos, a descoberta da própria identidade, a procura da beleza perdida num lugarejo árido.
Maria Valéria inquire a realidade de baixo para cima, desde o subterrâneo, dando rosto e voz a personagens que poderiam muito bem se perder na fantasmagoria da história. (REYNALDO DAMAZIO)
OUTROS CANTOS
QUANTO: R$ 34,90 (152 págs.)
AUTOR: Maria Valéria Rezende
EDITORA: Alfaguara