Folha de S. Paulo


Antologia destaca diversidade do HQ nacional fora do eixo Rio-SP

O FABULOSO QUADRINHO BRASILEIRO DE 2015

BOOM! No fogo cruzado das más notícias de 2016 (POW! Tome essa estatística HORRÍVEL sobre a crise! PLOFT! Ah, é? Fique com essa estatística TÉTRICA sobre a FUTURA crise! POIMMM), eis que surge uma notícia
alentadora: o cartum brasileiro nunca esteve tão diversificado, com tantos artistas de tantas gerações simultaneamente criando trabalhos em nível tão alto (e ganhando TÃO pouco, HA HA HA).

Reprodução
Página da antologia
Página da antologia "O Fabuloso Quadrinho Brasileiro de 2015"

É o que demonstra esta criativa antologia, surpreendente do começo ao fim, pelo caráter descentralizante —quebrando o mito do quadrinista branco, machista e do eixo Rio-SP, há artistas de tudo quanto é Estado, etnia, ângulo ideológico e orientação sexual. Enquanto vemos medalhões se reinventarem ("Pequeno Travesti", de Laerte), assistimos do nascimento de um jovem mestre das cores como Pedro Cobiaco ("Dentes de Elefante") à maturidade de Marcello Quintanilha, premiado em Angoulême ("Talco de Vidro").

No registro, há dos perturbadores Rafael Sica, Pedro Franz e André Kitagawa aos dramas sexuais de LoveLove6 e Chiquinha; da classe de Odyr, DW Ribatski e Felipe Nunes à corrosão de Alexandra Moraes, Ricardo Coimbra e Bruno Maron; do drama social-histórico de Marcelo D'Salete e Guazzelli à reinvenção literária de Fábio Moon e Gabriel Bá; da excelência gráfica de André Ducci à sutil tosqueira de Arnaldo Branco.

Lirismo, surrealismo, sátira política, comentário psicológico, charge metafísica: a HQ brasileira nunca foi tão rica. E olha que nem falei do extremo capricho da edição. $#&-SE a CRISE. (RONALDO BRESSANE)

O FABULOSO QUADRINHO BRASILEIRO DE 2015
QUANTO: R$ 97 (304 págs.)
ORGANIZAÇÃO: Clarice Reichstul e Rafael Coutinho
EDITORA: Narval/Veneta

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CÂNONE GRÁFICO - VOL. 2

A ideia de cânone é sempre controversa. Cânone do ponto de vista de quem, cara-pálida? Europeu? Anglófono? Ocidental? Negro, índio, feminocêntrico? Universal? Eis a primeira questão suscitada neste segundo volume de "Cânone Gráfico", antologia com supostamente o melhor da literatura adaptada pelos supostamente melhores cartunistas.

Divulgação
Ilustração para Senhor Felpudo, no
Ilustração para Senhor Felpudo, no "Cânone Gráfico, vol.2"

Tirando exceções como o russo Dostoiévski adaptado pelo brasileiro Kako (mais ilustração que HQ), ou Victor Hugo via Tara Seibel (idem), Rimbaud por Julian Peters (ibidem), Hoffmann por Sanya Glisic (idem ibidem, mas deslumbrante), Sacher-Masoch por Molly Key (sexy e classudo), Tolstói por Ellen Lindner (conservador mas elegante), Nietzsche por Gane/Piero (divertido) e mais alguns, todo o cânone aqui é anglófono: William Blake (com as maravilhosas ilustrações do próprio), Byron, Keats, Shelley, Coleridge, Poe, Melville, Twain, Stevenson, Wilde... enfim, um cânone discutível.

Há também muito desnível entre os artistas: do primário PMurphy ao bom tecnicamente mas brega Shalvey, há raros mixes de linguagem de fato criativos. Como Whitman transformado em super-herói por Dave Morice; as lindíssimas pin-ups de Alice, como a capa, de Natalie Shau; o inquietante chiaroscuro de Cantrell para o "Dragodonte" de Carroll; o levíssimo traço de Porcellino para o Walden de Thoreau. Enfim: se o antologista Russ Kick queria promover discórdias sobre um who's who tanto na literatura quanto nos quadrinhos, conseguiu. (RONALDO BRESSANE)

CÂNONE GRÁFICO - VOL. 2
QUANTO: R$ 132 (488 págs.)
ORGANIZAÇÃO: Russ Kick
TRADUÇÃO: Alzira Allegro e Flávio Aguiar
EDITORA: Boitempo

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UNIVERSO HQ ENTREVISTA

Em 2016, o "Universo HQ", um dos sites brasileiros pioneiros na criação de espaços exclusivo para os quadrinhos, faz 15 anos. Para comemorar, a equipe preparou um presentão: a reunião em suporte livro de entrevistas feitas ao longo desses anos com os mais ilustres habitantes do Olimpo dos quadrinhos.

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Capa de
Capa de "Universo HQ Entrevista"

São conversas despretensiosas, recheadas com perguntas certeiras. Cada uma traz o ano em que foi feita e um curto perfil do entrevistado. As entrevistas mais antigas são acompanhadas de notas para atualizar o conteúdo e evitar os equívocos.

O livro começa com o desenhista italiano Ivo Milazzo e passa por Neil Gaiman, Will Eisner, John Byrne, Milo Manara, Jim Starlin, Flávio Colin e Sergio Toppi, o que dá uma ideia do peso. E conclui com as entrevistas exclusivas com José Luis García-Lopez e Mauricio de Sousa.

A publicação reflete o bom momento das HQs no Brasil, garantida com a qualidade constante dos lançamentos e a expansão de festivais, e estimula a necessidade de não somente consumir, mas também de refletir sobre a nona arte. (MARIO BRESIGHELLO)

UNIVERSO HQ ENTREVISTA
AUTOR: Sidney Gusman
EDITORA: Nemo
QUANTO: R$ 78 (360 págs.)


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