Folha de S. Paulo


Em HQ, cartunista conta a história de Edward Snowden e o considera herói

Humor e Erotismo

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O sexo é a força motriz de Milo Manara, famoso pela série "Clic". Menos conhecidas são as narrativas curtas em que traça perfis ou conta passagens pouco conhecidas de personagens históricos ""sempre tendo o erotismo como motor predominante. A combinação única entre humor nonsense, erotismo sutil e traço elegante, quase fotográfico de tão realista, fica evidente no trato que o artista dá à história ""com licença poética, claro, nem sempre com preocupação em ser fiel aos fatos: sua intenção é sempre fazer o coração disparar e os olhos esbugalharem.

Em "Câmera Indiscreta", Manara reúne algumas de suas HQs mais intrigantes, com personagens como Marcello Mastroianni, Federico Fellini, Casanova, Picasso, Borges, John Lennon, Pavarotti e Charlie Chaplin contracenando com as onipresentes mulheres de corpos perfeitos, marcas registradas do desenhista.

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Já em "Quimeras", além de trazer uma história protagonizada por Caravaggio ""tema de uma série de graphic novels que o autor italiano lançaria mais tarde"", Manara traz sensualidade a uma história de Asterix, faz sua versão particular de Barbarella e usa cores que lembram Marc Chagall, em narrativas que estrelaram revistas como "Frigidaire" e "Totem". No estilo, além de Hugo Pratt, outro mestre a quem Manara rende homenagem é Moebius. (Ronaldo Bressane)

Quimeras
QUANTO: R$ 79,90 (120 PÁGS.)
AUTOR: MILO MANARA (TRADUÇÃO RITA GRILLO)
EDITORA: VENETA

Câmera indiscreta
QUANTO: R$ 69,90 (112 PÁGS.)
AUTOR: MILO MANARA (TRADUÇÃO IDALINA LOPES)
EDITORA: VENETA

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AFRODITE

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Como eram ingênuos os anos 70! Curitiba, então, nem se fala. Enquanto o Vampiro mordia semivirgens pelas ruas, o casal Alice Ruiz e Leminski bolava tórridas historinhas de sacanagem na Grafipar, editora que juntava talentos emergentes da cidade, tão fria e carola quanto melíflua e safada. Ali eram sacadas as revistas "Atenção", de política; "Eros", masculina; e "Rose", feminina. Todas tinham HQs curtas, ilustradas por craques como Flávio Colin, Júlio Shimamoto, Marília Guasque etc. Apesar da libido ilibada do casal, vivia-se sob ditadura e na conservadora Curitiba: nada de palavrões ou nu frontal, o erotismo aqui se aproxima mais da pornochanchada que da sofisticação de Manara.

Nos roteiros de Leminski há humor; nos de Ruiz, feminismo ""como retratos de heroínas que (oh!) ousam dar pra quem querem. O esquematismo das narrativas e a estética hiper-naturalista tornam as HQs datadas. Outro problema é a redução do tamanho original, de revista para livro, o que turva a leitura de HQs mais ousadas como "Fuga", em que um assassino de mulheres se dá mal ao cair em um presídio feminino. (RB)

AFRODITE
QUANTO: R$ 54,90 (112 PÁGS.)
AUTOR: ALICE RUIZ E PAULO LEMINSKI
EDITORA: VENETA

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UMA VIDA CHINESA

O quadrinista chinês Li Kunwu começou a carreira como cartunista de um jornal em Kunming, no sudoeste da China. Sua produção é abundante: em 30 anos de carreira, publicou 30 livros. É um dos raros casos de autor que vive exclusivamente de HQs no país, com trabalhos esporádicos publicados em revistas europeias.

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A fama fora de lá veio com a trilogia "Uma Vida Chinesa". O projeto começou em 2005, quando o artista recebeu convite de editor estrangeiro. O objetivo seria mostrar a China ao mundo por meio do olhar de uma pessoa comum. O resultado são mais de 700 páginas da saga de três volumes escrita com o diplomata francês Philippe Ôtié.

O primeiro começa em 1950, quando seus pais se casam e lutam para criar os dois filhos num país convulsionado pela revolução. A história prossegue até a morte de Mao Tsé-tung, em 1976, em dois grandes capítulos. Quem espera uma HQ orientalizada vai se decepcionar: a influência dos mestres europeus é clara, tanto pelo belo desenho fluido em branco e preto como pela disposição dos quadrinhos. (MARIO BRESIGHELLO)

UMA VIDA CHINESA
QUANTO: R$ 44,90 (256 PÁGS.)
AUTOR: LI KUNWU E PHILIPPE ÔTIÉ (TRADUÇÃO ANDREA STAHEL M. DA SILVA)
EDITORA: WMF MARTINS FONTES

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Ilustracao de Lin Kunwu para
Ilustracao de Lin Kunwu para "Uma Vida Chinesa"

SNOWDEN, UM HERÓI DO NOSSO TEMPO

As histórias em quadrinhos têm se mostrado um suporte versátil para veicular ideias, não somente narrativas de ficção. Bom exemplo lançado em 2015 é o ensaio visual "Autocracia", de Woodrow Phoenix (Veneta), acerca do apocalipse motorizado da atualidade, e são bem conhecidas no país as HQs de não ficção de Joe Sacco, fortemente aparentadas à tradição do jornalismo de guerra.

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Em "Snowden, Um Herói de Nosso Tempo", Ted Rall, o cartunista editorial do jornal "The Los Angeles Times", se aproxima da seara das obras didáticas com apelo infográfico, relatando cronologicamente a história de Edward Snowden, ex-administrador de sistemas da NSA, a Agência de Segurança Nacional dos EUA, de onde roubou milhares de informações que revelaram ao mundo o que Big Brother fazia conosco: vigiar, e da maneira mais invasiva possível.

Snowden, perseguido como cibercriminoso, também revelou que o governo norte-americano infringia sua própria constituição, invadindo a privacidade de cidadãos inocentes, e não somente suspeitos. Ótima introdução ao assunto, como assinala Noam Chomsky na contracapa. (JOCA REINERS TERRON)

Snowden, um herói do nosso tempo
QUANTO: R$ 39,90 (224 PÁGS.)
AUTOR: TED RALL (TRADUÇÃO WALDEA BARCELLOS)
EDITORA: WMF MARTINS FONTES


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