Folha de S. Paulo


Conheça alunos de escola pública campeões de olimpíada de astronomia

O Jardim Trianon é um bairro da periferia de Taboão da Serra, na região metropolitana de São Paulo. Lá, crianças dividem o asfalto com carros, apostando corrida por vielas estreitas, que contornam casas coloridas e fachadas de tijolo à mostra. Nas lajes, os olhos não desgrudam do céu, onde pipas e papagaios travam batalhas épicas, disputando cada centímetro entre as nuvens.

Quando Davi Barros, 8, olha para cima, porém, ele nem repara nos papéis de seda que os meninos empinam. "Tem um monte de coisas além. Antes, eu achava que só tinha estrelas, a Lua e o Sol. Mas tem satélites, planetas, a atmosfera", diz o garoto.

O menino, que estuda na escola municipal Professora Ester Cordeiro de Souza, ganhou uma medalha de prata na última Olimpíada Brasileira de Astronomia. Mais de 800 mil participantes, de 16.575 escolas de todo o país, entre instituições públicas e privadas, participaram da competição, que aconteceu no primeiro semestre deste ano. O colégio do Jardim Taboão recebeu 64 medalhas no total.

Para isso, os alunos tiveram aulas semanais específicas de astronomia. Nelas, viram vídeos sobre Estação Internacional Internacional (ISS, na sigla em inglês), estudaram o Sistema Solar, foram ao pátio para entender os movimentos de rotação e translação da Terra e estudar outros conceitos astronômicos.

"Antes eu confundia. Achava que os astronautas viviam no espaço e vinham de vez em quando para a Terra. Mas aprendi que é o contrário. Eles saem daqui para explorar o espaço", conta Raquel Sousa, 7, que ganhou medalha de ouro na olimpíada –uma das seis que a escola pública recebeu.

As provas são divididas em quatro níveis, de acordo com a idade dos competidores. Os estudantes de ensino médio vencedores terão a oportunidade de representar o Brasil nas Olimpíadas Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA) e Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA) de 2016.

UM GRANDE PASSO

As crianças de Taboão vencedoras nunca visitaram um planetário. À noite, poucas estrelas apontam no céu do Jardim Trianon. "Eu nem sabia o que era a Nasa. Com a tecnologia deles, logo os homens vão poder voltar para a Lua. Ou chegar a Marte, meu planeta favorito, todo vermelho", conta Caio Durães, 11, medalha de bronze na competição.

O colégio planeja agora organizar uma visita a um planetário no próximo ano com todos os alunos. O mais famoso de São Paulo, no parque Ibirapuera, porém, está fechado e não tem previsão de reabertura. "Planetário deve ser igual a museu. Vários planetas, cometas. O teto escuro, com estrelas", acredita Davi.

Os campeões da astronomia não param de sonhar. Mas, no caso delas, ter a cabeça na Lua passa longe de ser avoado. "A Nasa faz um treinamento com os astronautas dentro da água, para eles irem se acostumando com a falta de gravidade no espaço. Um dia quero ir aos Estados Unidos e participar de uma dessas preparações", fala Caio.

Após participar de um treinamento da Nasa, o comandante da missão Apollo 11, Neil Armstrong (1930-2012), desceu por uma escadinha e pisou pela primeira vez no solo da Lua, no dia 20 de julho de 1969. É dele a famosa frase: "É um pequeno passo para um homem, mas um grande salto para a humanidade". Com uma rápida busca na internet, é possível encontrar a foto da pegada que ele e seu companheiro Edwin "Buzz" Aldrin deixaram no chão poeirento do nosso satélite natural.

Vencer a olimpíada de astronomia foi um grande passo para essas crianças, mas um salto ainda maior para os seus desejos. A fronteira de seus olhares não são mais as pipas no céu do Jardim Trianon, mas os anéis de Saturno, as naves espaciais e, claro, a Lua. "Queria viajar até lá um dia. Ia deixar uma pegada de sapatilha. Bem mais bonita que aquelas botas de astronauta", conta Raquel.


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