Folha de S. Paulo


Muita gente já não sabe versinhos de cantigas, lamenta educadora

"Há muito o que aprender sobre o Brasil nas cantigas infantis", disse a educadora Lydia Hortélio, uma das maiores especialistas na cultura do brincar, neste domingo (27), no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro.

Lydia se reuniu com 30 educadores e artistas na Oficina de Brinquedos Cantados e Brinquedos Ritmados, com assistência da coreógrafa e pesquisadora Andrea Jabor.

O encontro, que integra a programação do 13º FIL (Festival Internacional Intercâmbio de Linguagens), teve o objetivo de compartilhar cantigas de roda, versinhos e parlendas, além de histórias musicadas, e refletir sobre sua importância.

"Muitas pessoas já não sabem versos", lamentou. "Deveria ser um exercício diário. Poderiam aproveitar o tempo parado no trânsito, por exemplo, para inventar versinhos."

Para começar a oficina, todos deram as mãos e formaram uma grande roda para cantar versos. Primeiro, todos entoaram um refrão; depois, cada hora um se apresentou no centro da roda para declamar quatro frases, no ritmo da canção.

Hortélio explicou que existem dois tipos principais de roda de versos: as líricas, mais românticas e com cantigas que falam sobre natureza, encantamento e amor, e as de desafio, chamadas de "despique", em que há uma provocação no limite do "xingamento", um "desaforo". Mas, claro, tudo em tom de brincadeira.

Conheça abaixo alguns versos cantados na roda. E, mais abaixo, a brincadeira de roda (também chamada de "brinquedo") "Ana Maria".

O 13º FIL (Festival Internacional Intercâmbio de Linguagens) começou na quinta-feira (24) e vai até 4 de outubro no Rio de Janeiro. Além de vários espetáculos nacionais e internacionais, o evento traz oficinas, mesas redondas e palestras voltadas para todas as idades.

*

Refrão:
"Tintiriri meu bem te vi
Tatarará meu sabiá
Quero ver, quero ver
Quero ver moça rodar"

Versos:
"Não tenho medo de homem
Nem do ronco que ele tem
O besouro também ronca
Vai-se ver, não é ninguém"

"Eu sou bem pequenininha
Do tamanho de um botão
Mas carrego o meu amor
Dentro do meu coração"

"Morena dos olhos pretos
Olhos pretos "matadô"
Se eu morrer por esses dias
Foi seus "zóio" que me mato"

"Quando eu era pequenina
Gostava de tudo brincar
Mas agora que sou mocinha
Meu brincar é namorar"

"Se eu soubesse que tu vinhas
Enchia a casa de cheiro
Perfumava com alecrim
E ´fulô´ de limoeiro"

"Por detrás daquela serra
Passa boi, passa boiada
Só não passa a (nome de alguém da roda)
Com a saia arriada"

"Por detrás daquela serra
Tem um pé de abricó
Quem quiser casar comigo
Vai pedir pra minha avó"

"Lá no alto daquele morro
Tem dois sacos de cimento
Quando um roça com outro
É sinal de casamento"

*

BRINCADEIRA DE RODA ANA MARIA

Ana Maria
Ficou de catapora
Por 24 horas
Vixe!

Todos dão as mãos na roda, e cantam e pulam sem parar, no ritmo da canção. Quando o refrão termina ("Vixe!"), todos devem abrir um pouco as pernas e "congelar" naquela posição.

Em seguida, recomeça a cantoria, e o brincante pula da posição em que está - com as pernas um pouco abertas. Ao ouvir "Vixe!", ele abre mais um pouco as pernas, "congelando" novamente.

E assim por diante, cantando cada vez mais rápido, até ficar com as pernas bem abertas, tentando se equilibrar. Conheça mais brincadeiras cantadas no projeto Mapa do Brincar, da Folha.

PARA CONFERIR

13º Festival Internacional Intercâmbio de Linguagens
QUANDO até 4/10
ONDE Rio de Janeiro, em nove teatros: Espaço Tom Jobim,Teatro Municipal Carlos Gomes, OI Futuro Flamengo, Teatro Municipal Maria Clara Machado, Espaço Cultural Municipal Sergio Porto, Casa Daros, Cinemaison Rio, Auditório da Fundação Planetário e Teatro do Colégio Pedro II - Realengo. Confira os endereços no site
QUANTO de R$ 5 a R$ 20; oficinas grátis, com inscrição prévia


Endereço da página:

Links no texto: