Folha de S. Paulo


Criador de 'Diário de um Banana' me ajudou muito, diz autor de 'Nate'

"Nate", que ganhou o sétimo livro no Brasil, tem mais coisas comuns com "Diário de um Banana" do que se pensa.

Em entrevista à "Folhinha", Lincoln Peirce, autor da série, diz que falou com o escritor do outro livro antes de lançar os seus. Leia abaixo.

*

Folhinha - "Nate" é sucesso em mais de 27 países, incluindo o Brasil. Por que o livro ficou tão famoso em diferentes culturas?

Divulgação
FOLHINHA - O escritor Lincoln Pierce, autor da série 'Nate' ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O escritor Lincoln Pierce, autor da série 'Nate'

Lincoln Peirce - Gosto de pensar que os livros são populares porque são divertidos e porque as crianças acham que o Nate é um autêntico menino de 11 anos. Quando eu tinha a idade dele e visitava uma livraria ou uma loja de livros, sempre corria os olhos pelas capas para ver como eram. Eu sou uma pessoa visual e gostava de livros com ilustrações interessantes. Sempre tento manter isso em mente quando estou trabalhando. Tento imaginar o tipo de livro de que eu teria gostado quando era garoto.

Além disso, também tento fazer o Nate parecer uma criança real, não um adulto em miniatura. Espero que isso faça dele um personagem que as crianças consigam se identificar. Quando uma criança me conta que o Nate se parece com ela ou com seus amigos, soa como música para os meus ouvidos.

Li em outras entrevistas que muitas das ideias para "Nate" vêm da sua infância ou da dos seus filhos. Como encontra novo material para os livros?
No momento, acho que eu até já esgotei as minhas memórias de infância! Mas sempre há novas ideias para serem encontradas, é só uma questão de ficar pensando. Muitas das minhas piadas ou histórias preferidas não foram inspiradas em acontecimentos da vida real. Elas são apenas ideias que vieram à cabeça enquanto eu estava no escritório.

"Nate Faz a Festa" acabou de ser publicado no Brasil. Há uma história real como inspiração para o livro?
A história em si não tem uma inspiração na vida real, mas a ideia para o livro começou com uma lembrança da minha infância. Quando eu estava na terceira série, um novo menino foi transferido para a nova escola, e a minha professora pediu para que eu fizesse amizade com ele. Nos primeiros dias após a sua chegada, fui responsável por mostrar os lugares a ele, ensinar sobre a rotina da sala de aula, apresentá-lo às outras crianças, essas coisas.

O problema é que desde o começo não gostei desse menino. Foi essa memória que deu ideia ao novo livro. O que aconteceria se Nate fosse responsável por cuidar de um menino de que não gostasse? A partir daí, a história criou vida. Achei que seria melhor dar a Nate e à outra criança um contexto, então comecei a mostrar isso por vários capítulos. Nate tem certeza que já encontrou o menino antes, mas não consegue lembrar quando ou onde. Curiosamente, o garoto que eu conheci na terceira série acabou se tornando meu padrinho no meu casamento 18 anos depois.

Qual a diferença entre escrever uma tirinha e um livro?
Escrever uma tirinha me vem muito mais naturalmente do que escrever livros —eu faço tirinhas há muito mais tempo. A diferença mais óbvia é que, numa tira, o trabalho é criar apenas uma piada. Você só precisa de alguns quadrinhos para desenvolvê-la e acabou. Um livro não é tão direto. Você precisa inventar a trama principal, mas só isso não é o suficiente para sustentar mais de 200 páginas. Então, é preciso adicionar tramas menores, "flashbacks", listas e assim por diante. Tendo criado esses elementos, você precisa desenvolvê-los e levá-los para algum tipo de resolução satisfatória em um número predeterminado de páginas. É muito, muito mais trabalho.

"Nate" foi publicado depois de "Diário de um Banana". Houve uma conversou com Jeff Kinney [o autor de "Diário de um Banana"]? Ele influenciou seus livros?
Eu conversei com Jeff antes de começar o primeiro livro de "Nate". Na verdade, Jeff é a razão número um para eu poder escrever as histórias. Ele sempre foi um fã de "Nate" e me convidou para participar do site Poptropica.

Foi isso que tornou "Nate" popular, apresentando meus personagens para milhões de crianças que nunca tinham visto as tirinhas, e resultou no meu acordo para escrever as histórias de "Nate". Eu dei uma olhada nos dois primeiros livros de Jeff antes de escrever o meu para ter certeza de a história que eu tinha em mente não fosse muito parecida com a dele. Mas a verdade é que eu e Jeff escrevemos tipos de livros muito diferentes. Ambos são sobre meninos em idade escolar, mas os formatos dos livros não são muito parecidos.

Se Nate encontrasse Greg Heffley, sobre o que eles conversariam?
Ambos são dois jovens com vidas muito intensas, então cada menino provavelmente falaria sobre si mesmo. E talvez trocassem histórias sobre professores horríveis que tiveram.

Você já disse que não está interessado em transformar "Nate" em um filme com atores reais. Por quê? Está planejando alguma animação para os cinemas ou algum projeto para a televisão?
Nate é um cartum, não um menino real. Para mim, não faz sentido ter um menino real interpretando-o. Ter um ator de 11 anos vestido como Nate, com um cabelo igual, não tem nenhum apelo para mim. Houve algumas conversas sobre uma série animada para a televisão, mas neste momento não há nada certo. Eu sempre pensei que, se "Nate" não se tornar um filme ou um programa de TV, tudo bem. Eu já estou contando às crianças as histórias que quero, exatamente da maneira como quero.

Pode nos contar como é seu processo criativo? Li que você uma espécie de "tecnofóbico".
Eu realmente sou tecnofóbico! Mas tive que dar algum espaço para a tecnologia. Eu tenho um escâner em casa e, como escrevo livros, escaneio cada capítulo quando termino para mandar por e-mail para o meu editor em PDF. Isso é muito 'hi-tech' para mim. Geralmente começo a escrever à mão. Quando estou na metade de um capítulo, digito tudo, deixando espaço para as ilustrações e tirinhas. Depois, incluo os desenhos. Corto e colo muita coisa. Não como as pessoas fazem no computador, mas da maneira antiga, com tesoura e fita adesiva dupla face.

Quanto a terminar as ilustrações, eu faço tudo à mão. Não faço nenhum desenho no computador ou tablet. Isso gasta muito tempo, mas é um processo em que me divirto. Quando você faz todos os desenhos à mão, há sempre "bons acidentes" que acontecem: você comete um erro, mas acaba gostando mais dele do que da maneira que era para ser.

O que pensa sobre histórias em quadrinhos na internet?
Eu realmente não posso responder a essa pergunta. Embora eu ame histórias em quadrinhos, nunca gostei de ler on-line. Então não posso responder com autoridade sobre a internet.

E quanto ao próximo livro, "Big Nate Blasts Off" (ainda sem nome em português)? Você pode adiantar alguma novidade?
Posso dizer que Nate finalmente decide dar um tempo de ir atrás de Jenny e começa a gostar de outra garota. Mas isso é tudo o que eu vou dizer.

Acha que vai parar de desenhar as histórias de Nate? Assim como o cartunista argentina Quino, que parou de desenhar "Mafalda"?
Espero continuar a desenhar as histórias de "Nate" por muitos anos ainda. Os livros são algo diferente. Não acho que uma boa série seja aquela que dure para sempre. Há o perigo de começar a ser repetitivo ou criar livros dentro de uma mesma fórmula. Então não vai demorar muito para que eu deixe os livros de Nate de lado. Talvez eu possa criar alguns personagens novos, dos quais as crianças vão gostar do mesmo jeito.


Endereço da página:

Links no texto: