Folha de S. Paulo


Como os cegos leem? Assista a vídeo de roda de leitura feita pela 'Folhinha'

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Assista à versão sem audiodescrição e legendas no player disponível no meio do texto

Concentrada, Mell Rodrigues, 11, lê em voz alta para os colegas a história de Robin Hood. De repente, ela para a leitura e levanta a mão. "Eu não consegui enxergar a forca", diz.

A professora se aproxima. "É uma corda que prende no pescoço, deste jeito", responde, segurando com as mãos a garganta da menina, que abre um sorriso. "Agora eu vi!"

Mell é cega e, por isso, não entendeu o que era aquele objeto que aparecia na história. A menina participou da roda de leitura organizada pela "Folhinha" com crianças do Instituto de Cegos Padre Chico.

O livro sobre o personagem Robin Hood e todos os outros levados na atividade foram adaptados pela Fundação Dorina Nowill para quem não enxerga ou tem pouca visão.

Nas obras, letras e ilustrações são acompanhadas por pontos em alto relevo no papel, pelos quais cegos passam as pontas dos dedos –sistema conhecido como braille.

"Seria horrível se eu não pudesse ler, não saberia tudo que sei hoje", acredita o menino Diogo Teixeira, 12, que nasceu cego.

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OLHOS E OUVIDOS

Enquanto desliza os dedos sobre o papel, Kimberlly Pereira, 12, aproxima bem o rosto do livro. "Como enxergo um pouco, às vezes consigo ler com os olhos, mas a letra tem que ser muito grande", conta.

Na escola em que ela estuda, há crianças que veem só um pouco (como é o caso dela), alunos cegos e outros que enxergam normalmente. Por isso, a professora leva sempre três tipos de textos: convencionais, com letras em tamanhos maiores e em braille.

Mas, para os cegos, às vezes usar só as mãos não é suficiente. "Não consigo reconhecer cores nem alguns desenhos só passando o dedo pelos pontinhos do braille. A audiodescrição ajuda", diz Pâmela do Carmo, 12 (assista a vídeo com audiodescrição acima).

A professora Luciana Ruiz, porém, acredita que a descrição por sons não substitui a leitura. "Enquanto lê, a criança imagina o que quiser. Na audiodescrição, as imagens já vêm todas prontas."

Kimberlly concorda. "Se fôssemos depender só da tecnologia, como ficaria a leitura?", pergunta. "Antes eu estudava em uma escola em que só pintava e não lia nunca. Então acabava não aprendendo nada."

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Esta reportagem e todos os textos da Folha têm versão em áudio. Para ouvir, clique em "ouvir texto", abaixo do título.

Colaborou JÚLIA BARBON


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