Folha de S. Paulo


Leia entrevista com professor que fez dicionário com definições de crianças

Confira abaixo entrevista com Javier Naranjo, que reuniu definições dadas por crianças para diferentes palavras.

O resultado foi o livro "Casa das Estrelas", publicado no Brasil pela editora Foz.

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Folha - Essas definições poderiam ser as mesmas se fossem dadas por crianças de outros países, como Índia, China, Noruega?
Apenas começo a explorar palavras (razão e sentimentos) com crianças de outros países e sou tomado pela sensação, quase certeza, de que ser criança é igual em todas as línguas e em todos os países. Entendo que ser criança é uma forma de estar no mundo. E isto –neles– é o mais comum e o mais profundo. As crianças sonham, imaginam, ocupam a terra com seus jogos tão sérios, com sua crueldade sem reflexão e sua inocência. Com seu olhar fresco.

E em todos os lugares (uns mais, outros menos) sua voz é menosprezada. Por essa condição de serem crianças, creio que as definições poderiam ser as mesmas em todos os lugares, porque seu olhar é o mesmo: agudo e sem complacências. Mudam, isso sim, situações particulares de cada país, e as crianças dão também sua voz para falarmos dessas situações.

O que você achou das ilustrações que o livro ganhou?
As ilustrações de Lara Sabatier acompanham muito bem o livro, porque dialogam o tempo todo com as vozes das crianças. Ela fez várias coisas de que gostei muito: não são propriamente ilustrações para crianças, às vezes, em outras publicações os traços são infantilizados para torná-los, digamos, compreensíveis, menosprezando a inteligência das crianças. Desta vez não.
São ilustrações que chegam a todos e com outra aposta muito interessante: Lara em cada letra do dicionário faz uma história, é seu traço, é claro, mas nele há uma narrativa específica para cada uma das seções do livro. Linguagem simples e direta, estilo que se conta em pequenos relatos.

Como as crianças que têm frases no livro reagiram ao saberem que suas definições viraram livro?
Com alguns poucos me encontrei passados os anos, e estavam surpresos e reafirmaram com um brilho de verdade em seus olhos, o que disseram quando pequenos. Essas crianças agora são pessoas de mais de 30 anos com profissões diversas, famílias e vidas bem diferentes. Quando nos vimos, seus sorrisos e a memória feliz desses dias vividos dizem tudo o que há para ser dito.

O livro foi pensado mais para adultos ou para crianças?
As crianças reagem de forma parecida aos adultos, riem do que as outra crianças disseram, se comovem e ficam atentos com seus olhos bem abertos, em silêncio, quando há tristeza e dor que prevalecem. Mas o que em nós chora é o que eles estão vivendo agora: ser criança. A lembrança de criança em nós é o que chora e o que ri também. E o que agora somos e não podemos voltar atrás, o que fomos e o que já não seremos mais. Voltar a encontrar a maravilha, o assombro do mundo, a derrota sem atenuantes de nossas vaidades e a morte sempre como conselheira. De alguma forma as crianças sabem de tudo isso.


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