Folha de S. Paulo


Cinema itinerante visita periferias de São Paulo

Sou um felizardo: vou a pé ao cinema. No bairro onde eu moro, uma caminhada de 15 minutos me leva a cinco salas. Com dez minutos de carro, eu chego a diversas outras.

Mas, como eu disse, sou um felizardo. Bairros de periferia nas capitais e milhares de cidades pequenas não têm mais cinema. Seus moradores são os "sem-tela". Só veem filmes na TV ou no computador.

Foi pensando neles que nasceu, em 2004, o Cine Tela Brasil. Ele promove sessões gratuitas em uma sala itinerante, com 225 lugares. Quase 1,3 milhão de espectadores já passaram por ali.

"Mais da metade tem menos de 14 anos", diz o diretor e roteirista Luiz Bolognesi, que criou o projeto com sua mulher, a diretora Laís Bodanzky.

O maior sucesso da programação é "Tainá". "A molecada sai de uma sessão e volta para a fila", diz Luiz. "Às vezes, veem quatro filmes no mesmo dia."

Em julho, o Cine Tela Brasil visitará seis regiões da cidade de São Paulo. Não há cinema em quatro delas: Parada de Taipas, Jaçanã, Capão Redondo e Cidade Tiradentes.

Três filmes infantis estão na programação: "Turma da Mônica: Uma Aventura no Tempo" (2007), "Eu e Meu Guarda-Chuva" (2010) e "Rio" (2011).

Divulgação
Público faz fila para entrar na sessão
Público faz fila para entrar na sessão

'HÁ PRECONCEITO COM INFANTIS'

De 1995 a 2004, Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky desenvolveram o projeto Cine Mambembe. Eles viajaram 13 mil km em uma perua com um projetor e curtas-metragens, promovendo sessões gratuitas.

O Cine Tela Brasil nasceu graças a essa experiência. "Se havia muita criança, sacávamos 'Novela' (1992) e 'A Velha a Fiar' (1964)'", lembra Luiz. "Eles faziam muito sucesso com todos as plateias: urbanas, rurais, indígenas."

Por que poucos filmes infantis são produzidos no Brasil? "Falo por mim: existe entre nós, produtores, um preconceito, como se filme para crianças fosse algo menor", explica Luiz.

Ele participou do roteiro de "Planeta Verde", produção em 3D rodada na Amazônia, que será lançada em 2014, e planeja um filme com crianças sobre a história do Brasil

Divulgação
Caminhão que transporta o cinema
Caminhão que transporta o cinema

SÉRGIO RIZZO é professor, crítico de cinema e autor do blog Censura Livre


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