Folha de S. Paulo


Há 40 anos, trânsito já era problema da cidade; leia texto da época

Não é de hoje que o trânsito é um problema para a cidade de São Paulo.

Há 40 anos, na edição de 20 de maio de 1973, a "Folhinha" contou a história de Renato, um garoto que quase foi atropelado.

Já naquela época, era comum ter "gritos, palavrões e sopapos" e ver os carros desrespeitando as leis de trânsito.

Leia o texto abaixo.

*

Quando Renato deixou o interior para estudar na cidade, não sabia dos grandes perigos que iria ter de enfrentar nas ruas.

Tia Sinhá avisou, explicou tudinho sobre os perigos do trânsito, mas nem isso evitou os sustos de Renato.

-- Cuidado, Renato --toda a cidade grande é trepidante, é fria, é cruel. As pessoas passam pelas ruas, não se cumprimentam, não se respeitam, não se amam.

--Mas por que tia? Lá no interior as pessoas não são assim.

-- É, mas aqui é diferente. Todos vivem falando alto para se fazerem ouvir, vivem correndo para chegar a lugar nenhum. Estão sempre com pressa. Quando vão para o trabalho, para a escola e mesmo quando vão divertir-se.

Reprodução
Ilustração de Folhinha de maio de 1970
Ilustração de Folhinha de maio de 1970

Pode ser segunda-feira, sábado ou domingo, feriado, dia de chuva, dia de sol, eles correm. Às vezes, quando param, é para morrer. Por isso, não se descuide ao atravessar as ruas. Se tiver qualquer dificuldade, pergunte ao policial de trânsito.

Não converse com estranhos, não entre em carros desconhecidos. E não corra também, nem beba coisa alguma que lhe ofereçam fora de casa e da escola.

Uma vez, quando Renato tentou atravessar, levou o maior susto de sua vida. os carros passavam em alta velocidade. Todos corriam e buzinavam como loucos, sem respeito algum com os pedestres que, como ele, também queriam atravessar. Uns corriam, passando pelos veículos que rangiam seus freios de maneira assustadora.

Gritos, palavrões, sopapos foi o que Renato viu. Igualzinho aos filmes violentos de bang-bang da televisão. Só faltava mesmo o revólver.

Se continuasse ali, perderia a aula. Então, sem pensar, Renato disparou a correr pelo meio da rua.

Ficou tão apavorado que seus joelhos tremiam. Foi uma brecada daquelas! Por pouco Renato não perdeu a vida. Não fosse o policial de trânsito, ele já teria virado anjinho.

-- Desculpe, seu guarda. Eu queria atravessar, estava atrasado.

-- Nunca mais procure fazer isso, meu filho --explicou o policial de trânsito. Procure atravessar onde existe semáforo e faixa de segurança.

Renato limpou os joelhos e a mala que caíra. E quando foi atravessar a rua novamente, procurou o semáforo e atravessou tranquilamente com o sinal verde na faixa de segurança.

Assim, Renato compreendeu que, respeitando as leis de trânsito, não é tão difícil viver numa cidade grande. E que o policial é mesmo um amigão, o anjo protetor das crianças. E sobretudo compreendeu que é muito importante voltar para casa vivo!


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