Folha de S. Paulo


Onça trazida da Amazônia convivia com alunos de escola de São Paulo

A atividade é comum até hoje nas escolas: o professor traz um objeto para a sala de aula (pode ser um bicho de pelúcia, um vaso com planta ou até um ovo) e cada dia um aluno fica responsável por cuidar dele e levá-lo para casa.

Em 1963, a Escola de Aplicação da USP, que naquela época se chamava Escola Experimental, resolveu dar um bicho de verdade para as crianças cuidarem. Mas nada de cachorros ou gatinhos. Elas levavam um filhote de onça para casa.

Na época, a "Folhinha" acompanhou o dia a dia da oncinha, trazida da Amazônia pela diretora. Ela andava pelas mesas, brincava com os alunos e usava uma coleira. Mas a relação com o bicho não durou muito. "As oncinhas, assim como as crianças, querem uma casa só delas, com alguém que cuide delas todos os dias", dizia o texto publicado no jornal.

De tanto mudar de casa, ela ficou doente e morreu. Sua pele foi colocada em um quadro e guardada no museu da escola.

A NOVA ONÇA

"Não sabemos o que aconteceu com a pele da onça. Perguntamos aos funcionários mais antigos, e ninguém conhece a história", conta Felipe Tarábola, vice-diretor da escola.

Hoje, o colégio não poderia criar um animal silvestre sem arranjar um problemão com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente). As atividades precisaram ser adaptadas.

"O objetivo da atividade com a onça era criar responsabilidade. Fazemos isso hoje com os livros. O aluno precisa cuidar bem deles, porque, no próximo ano, serão utilizados por outra turma. O livro é a nova onça", diz Felipe.

Mas, mesmo naquela época, não era comum levar animal silvestre para a aula. "A Escola de Aplicação não tinha nada a ver com outros colégios. Sempre experimentava coisas novas", conta Diana Vidal, professora da Faculdade de Educação da USP.

E até hoje segue assim. As aulas de ciências, por exemplo, são na horta.

Onça não pode mais. Mas o contato com a natureza continua.

Reprodução
Reprodução de página da
Reprodução de página da "Folhinha" de 22 de setembro de 1963

O QUE MUDOU DE LÁ 50 ANOS PRA CÁ

1963

- Não existia o Ibama. Era normal as pessoas terem animais silvestres em casa.

- A Escola de Aplicação tinha um filhote de onça.

- Só três em cada dez crianças e jovens iam à escola no Brasil (31%).

- Não era comum que alunos abraçassem ou beijassem professores.

HOJE

- Criado em 1989, o Ibama passou a fiscalizar a posse ilegal de animais silvestres.

- Ter filhote de onça é considerado ilegal.

- De sete a 14 anos, quase todos (93%) frequentam a escola no país.

- É normal demonstração de carinho entre alunos e professores.


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