Folha de S. Paulo


Plantas carnívoras têm digestão parecida com a dos humanos

O "Paute a Folhinha", ferramenta para comunicação com o leitor criada em fevereiro, recebeu uma dúvida de Bruna Dias Leite, 20, sobre plantas carnívoras.

Após ler a última capa da "Folhinha", sobre o tema, Bruna quis saber como funciona o sistema digestivo desse tipo de planta.

"A digestão das plantas carnívoras é parecida com a nossa, apenas não ocorre em ambiente fechado", explica o doutor em biologia José Mauricio Piliackas, 47.

Ler isso pode até parecer estranho, mas não é. Da mesma forma como o estômago humano fabrica enzimas (um líquido que acelera a transformação de alimentos em proteínas) para ajudar na digestão, a planta carnívora também produz essas substâncias. A diferença é que isso acontece em suas folhas.

Ze Carlos Barretta/Folhapress
Dioneia com um inseto em sua
Dioneia com um inseto em sua "boca"

"Principalmente para obter nitratos e fosfatos", afirma Piliackas. As carnívoras comem mosquitos e outros animais para conseguir esse tipo de nutriente, que não existe nos terrenos onde vivem.

A dioneia, cuja armadilha nas folhas lembram uma boca e os dentes, fecha-se para capturar as vítimas e digeri-las. Ela só volta a abrir cinco ou sete dias depois.

Já a nepenthes usa o líquido que tem dentro dela tanto como uma das armas para atrair os insetos quanto para retirar os nutrientes deles. É nessa pequena piscina, onde são produzidas as enzimas, que ela absorve seu alimento.

Planta com estrutura parecida à de uma garrafa, a nepenthes pode comer inclusive sapos, pequenos roedores e pássaros. "Se considerarmos que a musculatura de um inseto tem a mesma composição básica de uma ave ou anfíbio, com proteínas, a digestão acontece da mesma forma nos três casos", diz o professor Piliackas, colecionador e apaixonado pelas plantas carnívoras.

Mas comer demais não costuma ser bom nem para as plantas. "Tenho esse problema com as sarracênias, que acumulam muitos insetos em seu interior [um tipo de jarra]. Como fica muita matéria orgânica em decomposição dentro da planta, a folha acaba apodrecendo também", conta Piliackas sobre sua coleção com 280 espécies de carnívoras.


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