Folha de S. Paulo


Mauricio de Sousa revela segredos dos personagens na 'Roda da Folhinha'

Para comemorar os 50 anos da Mônica, Mauricio de Sousa, "pai" da baixinha, gorducha e dentuça mais famosa dos gibis, participou anteontem à tarde da "Roda da Folhinha".

O evento, que também celebrou o cinquentenário da "Folhinha", aconteceu no MAM, no parque Ibirapuera, em São Paulo.

Crianças lotaram o auditório e ficaram com os braços cansados de tanto levantá-los para tentar conseguir um microfone e fazer as mais improváveis perguntas ao cartunista.

Veja vídeo

Assim que a "Roda" foi aberta ao público, veio da garota Estela esta dúvida: "Bidu é um schnauzer? Se não é, qual é a raça dele". "É, sim. No começo, eu tinha dúvidas. Mas resolvi confessar: é um schnauzer mesmo", respondeu Mauricio.

Fernando, 6, quis saber por que a Mônica é tão forte. O desenhista tinha a resposta na ponta da língua. "Todas as mulheres são fortes. Sem elas, estaríamos vivendo em cavernas desarrumadas."

Arthur, 8, questionou a idade da Magali, que também faz 50, de acordo com Mauricio. E Felipe, 6, emendou: "Como ela não engorda se come tanto?" Mauricio revelou que é por que a comilona faz muita atividade física.

Para Fernando, 8, é muito estranho a Mônica e o Cebolinha brigarem tanto e se casarem depois. "É assim a vida. Todo casal, de vez em quando, briga", tentou explicar Mauricio.

Mas quando Rafael, 8, pegou o microfone, o cartunista derrapou. Ele queria saber por que, na Turma da Mônica Jovem, o Cebolinha assinou como Cebolácio Júnior Menezes da Silva. "Foi uma brincadeira, esse não é o nome dele." O menino não se convenceu. "É verdade, está na revista!", disparou Rafael. "Mato esse roteirista qualquer dia", disse Mauricio.

Verônica, 10, arrancou do cartunista uma revelação pessoal ao perguntar em quem a dinossaurinha Lucinda, das histórias do Horário, é inspirada. "Em uma namorada que tive... Mas me casei e minha mulher não gostava muito de vê-la nas histórias."
Teve até puxão de orelha de uma assinante dos gibis.

Elisa, 9, filha dos jornalistas Sandra Annenberg e Ernesto Paglia, que a acompanhavam no evento, mandou esta: "Por que as revistas atrasam?"

"Eu mereço, né?", riu Mauricio. "Quando tiver qualquer problema, pode me avisar pelo Twitter [@mauriciodesousa] que eu envio a mensagem para o diretor da Panini [editora dos gibis]."

Nem na hora de dar autógrafos, Mauricio se safou da criançada. Lara, 4, queria saber se Mônica usava calcinhas e se, como seus vestidos vermelhos, elas eram todas iguais. Depois de pensar um pouco, ele confessou. "A Mônica tem um guarda-roupa com várias calcinhas iguais."

Mas não foram só as crianças que colocaram o desenhista "na parede". Tia Lenita, primeira editora da "Folhinha", que estava no palco como convidada, relembrou o tempo em que trabalhou com Mauricio no caderno e cobrou, brincando: "Por que você atrasava tanto para entregar as ilustrações?!"

Mauricio se divertiu: "Demorava para vir a inspiração", disse. E logo completou: "Eu tinha que ouvir essa 50 anos depois, né?"

Além de Tia Lenita, participaram do evento Laura Mattos, atual editora da "Folhinha", e Denise de Almeida, repórter do UOL Crianças. Leia trechos do bate-papo:

TURMA DA MÔNICA ADULTA

Vamos criar a Turma da Mônica Adulta. Para isso, estou entrando em contato com autores de novelas da Globo para nos ajudar com os roteiros. Walcyr Carrasco já disse que vai colaborar. Vai ser revista para adultos. Porque o adolescente da Turma Jovem vai envelhecer e pensar: "Cresci e não quero mais a revistinha".

50 ANOS DE MÔNICA

A personagem foi inspirada na minha filha, quando ainda era criança. Mas ela demorou para ficar sabendo. Foi uma amiguinha da escola que contou. Lembro que ela chegou em casa e perguntou: "Pai, é verdade que sou a Mônica das historinhas? Eu não sou brava daquele jeito." Mas ela era. E até hoje é. Atualmente, a Mônica é diretora comercial da minha empresa. Aquela que vai brigar pelos contratos.

CASCÃO VAI SE CASAR

Neste ano, assim como aconteceu com o Cebolinha e a Mônica, o Cascão vai se casar com a Cascuda na Turma Jovem. Ele não gosta muito de água, mas, para a festa, deve tomar um banho de rosas.

PERSONAGENS E FILHAS

Assim como a Mônica, a Magali também é baseada em uma filha minha. Uma vez, o marido dela ligou reclamando que a Magali comia muito, pedia pizza de madrugada. Não tenho nada a ver com isso ele já lia os gibis antes de casar. Aconteceu a mesma coisa com a Mônica, o marido disse que ela era briguenta. Mas os dois já se casaram com elas sabendo de tudo [risos].

INÍCIO NA FOLHA

Juntei desenhos e fui mostrá-los na Redação da Folha. Mas acho que peguei o rapaz em um mal dia. Ele falou: "Desista. Isso não dá futuro, faça outra coisa da vida." Meu mundo caiu. Não sabia se saía pelo elevador, pela porta ou pela janela do sexto andar.

Acabei pegando uma vaga de revisor. Depois, virei repórter policial. Quando o fotógrafo não conseguia fazer a imagem de um criminoso, ilustrava minhas próprias matérias.

Fiquei cinco anos assim, quase esqueci que era desenhista.

Foi quando fiz a primeira história do Bidu e ofereci para o jornal. Aí, passei a publicar tirinhas na "Ilustrada".

COMEÇO NA "FOLHINHA"

A "Folhinha" foi uma "escada". Tive a sorte de ter a companhia de uma jornalista criativa e exigente, como era a Lenita. Como não tínhamos uma grande equipe, fazia as ilustrações do caderno, desenhava as histórias do Horácio, as do Raposão. E quase não dava tempo. A Lenita brigava comigo porque sempre atrasava. A gente fazia mágica.

CORES DOS PERSONAGENS

Foi na "Folhinha" que meus personagens ganharam cores. Antes, eram todos em preto e branco. Tive de descobrir qual cor se encaixava melhor em cada um. Fui buscar cores primárias, e surgiram o vestido vermelho da Mônica, o amarelo da Magali, a cor verde para o Cebolinha. O Bidu saía nas tiras do jornal em cinza e ficou azul na "Folhinha".

LICENCIAMENTO DE PRODUTOS

[Sobre o fato de a Mônica estampar embalagens de Miojo] Se alguém quer colocar personagens em algum produto, abrimos uma sindicância para descobrir como é a empresa. O problema é que, com o passar dos anos, descobriu-se que produtos que todo mundo aceitava não eram saudáveis. Procuramos acompanhar essa evolução. Mas são as empresas que precisam tirar ingredientes que fazem mal.


Endereço da página:

Links no texto: