Folha de S. Paulo


Sem o Brasil e de cara nova, Maracanã reforça sua mitologia ao receber sua 2ª final

Em visita ao Rio em setembro de 1949, meses antes da inauguração do palco da final da Copa de 1950, o francês Jules Rimet, então presidente da Fifa, sentenciou:

"Homens passam, civilizações desaparecem, monumentos ficam. O Coliseu lá está como testemunho da Roma Antiga. O grandioso Estádio Municipal do Rio poderá ser comparado, sem exagero, ao Coliseu, pela suas linhas e gigantescas concepções arquitetônicas", registrou à época o "Jornal dos Sports".

O nome do estádio e parte da arquitetura mudaram. E Rimet mal imaginava que, tal como o Coliseu, o local seria chamado de arena.

Após 64 anos e quatro reformas, o Maracanã consolida neste domingo (13) sua imagem de templo internacional do futebol. Será o único protagonista brasileiro na final entre Alemanha e Argentina.

E a consolidação desse "mito" independe de recordes. O estádio Azteca, no México, por exemplo, já sediou duas finais de Copa (1970 e 1986) e ainda é o mais rodado em Mundiais –18 jogos, ante 15 no Maracanã.

Se não lidera os números, o antigo "maior do mundo" soma cenas e personagens que fazem das Copas apenas capítulos de sua história.

"É difícil citar um craque do pós-guerra que não tenha jogado no Maracanã", diz Roberto Assaf, autor do livro "Grandes Jogos do Maracanã". Pisaram o gramado da zona norte carioca nomes como Garrincha, Zico, Maradona e Di Stéfano. Pelé marcou ali seu milésimo gol, em 1969.

O estádio era sinônimo de seleção. "Ajudou na divulgação no exterior ser a casa do futebol mais forte do mundo", afirma o historiador Ivan Soter. O Maracanã recebeu 87 jogos da seleção em sua primeira metade de vida, ante 18 nos últimos 32 anos.

MUDANÇAS

O progressivo abandono da seleção não ameaçou o status do gigante, que sediou de títulos antológicos de clubes do Rio a shows de um Frank Sinatra no auge, em 1980, e missas do papa João Paulo 2º, em 1980 e em 1997.

A partir da década de 1990, arquibancadas de cimento deram lugar a cadeiras coloridas. A famosa geral, de ingressos baratos e torcedores irreverentes, sumiu nas obras para o Pan de 2007.

A reforma de R$ 1,2 bilhão para a Copa eliminou a divisão entre os anéis inferior e superior, marca registrada. E o público mudou, acompanhando a alta nos ingressos.

Para críticos da reforma, o "Maraca" perdeu a identidade –tornou-se uma arena elitizada, de traços europeus. Na estrutura que comportava 200 mil pessoas na inauguração hoje cabem 78 mil.

Apesar disso, continua como o segundo ponto mais visitado do Rio –atrás do Cristo Redentor. De outubro de 2013 a maio de 2014, 159 mil pessoas fizeram passeio pelo estádio –32% do exterior.

"Ainda que tenha mudado a arquitetura, o Maracanã continua a ser um templo sagrado do futebol. Parece o lugar ideal para levantar a taça", diz um protagonista da final de hoje, o alemão Thomas Müller.


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