Folha de S. Paulo


O norte-americano: "As oitavas já são uma realização"

Quando o sorteio de dezembro de 2013 colocou os Estados Unidos no Grupo G —o "Grupo da Morte"—, muitos observadores não davam aos norte-americanos grande esperança de levar muito adiante sua campanha na Copa do Mundo.

Mas eles realizaram o que era considerado virtualmente impossível, tornando-se sobreviventes e chegando à segunda fase, deixando Cristiano Ronaldo —um dos maiores jogadores do mundo—, Portugal e Gana sepultados, e agora estão se preparando para a partida de mata-mata contra a Bélgica, terça-feira (1º/7), em Salvador.

Eles sabem que o encontro com uma das melhores seleções belgas dos últimos anos não será fácil.

O sempre otimista Jürgen Klinsmann, treinador dos Estados Unidos, na sexta-feira (27/6) disse aos seus jogadores que não deveriam se satisfazer com a simples classificação na fase de grupos, mas que deveriam buscar glória ainda maior. Ele instruiu os jogadores a reservarem passagens de volta para casa apenas depois de 13 de julho.

É essa a data da final da Copa do Mundo, no estádio do Maracanã, Rio de Janeiro.

É fato que a chance de os norte-americanos superarem a Bélgica, e os vencedores de Argentina x Suíça e Holanda x Costa Rica, é mínima. Eu não costumo apostar, mas de acordo com a agência de apostas britânica William Hill, a chance de os Estados Unidos vencerem a Copa é de um em 100.

Caso os norte-americanos sobrevivam até a final, eles farão história, espantarão o mundo, conquistarão manchetes em seu país e deixarão para trás a vitória por 1 a 0 contra a Inglaterra, em 1950, em Belo Horizonte, na lista de suas maiores realizações em Copas do Mundo disputadas no Brasil.

Mas, como eu disse, os Estados Unidos são um azarão.

É preciso encarar os fatos. Os norte-americanos não jogam o futebol mais bonito, e não ficam nem perto do "futebol-samba" dos anfitriões, mas mesmo assim têm a reputação de nunca desistir, batalhando até o último segundo de suas partidas.

Isso ficou evidente na vitória por dois a um contra Gana, na primeira partida da fase de grupos, quando o reserva John Brooks marcou o gol da vitória aos 41 minutos do segundo tempo.

No segundo jogo, eles não cumpriram as expectativas da torcida, cedendo a Portugal o gol de empate, por 2 a 2, a poucos segundos do final do jogo.

Na terceira partida, contra a Alemanha, eles foram simplesmente decepcionantes. Conseguiram segurar a Alemanha depois que esta marcou o primeiro gol, mas as oportunidades norte-americanas de empate foram tão raras quanto a neve no Brasil.

Para superar a Bélgica, os norte-americanos terão de encontrar uma maneira de marcar um ou dois gols, segurar os europeus e evitar as temidas prorrogação e decisão por pênaltis.

A equipe vem enfrentando problemas para fazer gols no torneio, comemorou apenas três deles, dois dos quais de autoria do atacante, e capitão, Clint Dempsey.

Isso significa que os Estados Unidos têm só um gol a mais do que o número de narizes quebrados nas três primeiras partidas —o de Dempsey e o do meio-campista Jermaine Jones.

Os dois estiveram em campo nos três jogos, e devem uma vez mais ser titulares diante da Bélgica.

Vai ver que é por isso que dizem que os norte-americanos jogam com a cara e a coragem.

Resta determinar se os norte-americanos continuarão a subir na elite do futebol mundial e se o seu jogo aplicado se traduzirá em sucesso na Copa do Mundo.

Vamos descobrir contra a Bélgica na tarde da terça-feira. Mas ter chegado à fase de mata-mata já é uma realização.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Editoria de Arte/Folhapress

Endereço da página: