Folha de S. Paulo


Teve Copa em Natal: A torcida goleou na sede de poucos gols e calamidade

Há sete anos, quando foi escolhida como uma das 12 sedes, Natal já começava o jogo ameaçada de corte. "Não vai ter Copa", pintavam nos muros.

Sete horas antes da primeira partida do Mundial na capital potiguar, o temor era o mesmo. "Não vai ter México e Camarões", diziam nos corredores da Arena das Dunas naquela manhã de sexta-feira, 13, enquanto os bombeiros não conseguiam vistoriar as cadeiras provisórias do estádio.

Choveu, como nunca. A Cidade do Sol entrou em estado de calamidade pública. Um morro desabou. Dezenas de famílias desabrigadas, sem água, sem energia elétrica. Brasileiros esquecidos. Estado de emergência.

Mas teve muita Copa em Natal.

Na sede em que a média de gols foi de apenas 1,25 por jogo (quatro partidas, cinco gols), a goleada foi da torcida.

Os mexicanos fizeram festa. Os americanos invadiram Natal. Os japoneses deram exemplo. Os uruguaios ganharam a primeira final da Copa.
Ganeses, camaroneses, gregos e italianos (estes apesar da forte ligação histórica com Natal) foram minoria e talvez sintam falta do forró e das belezas naturais de Natal mais do que do futebol apresentado por suas seleções na Arena das Dunas.

O estádio que já tinha visto o Messi, goleiro e gay, agora entra na história das Copas por causa de Luis Suárez.

A Arena das Dunas teve goteira nas tribunas e cachoeira no centro de mídia.

Teve Copa. Teve vice-presidente dos Estados Unidos perdendo o gol mais rápido da Copa e o rígido esquema de segurança americano que às vezes permite um café da manhã no hotel.

Teve Copa. Teve princesa do Japão e toda a educação japonesa dentro do estádio recolhendo lixo após o jogo.

Teve Copa. E ainda teve festa e, depois, reclamação uruguaia em Natal.

No final, a Babel natalense resistiu em pé. Mais do que isso, Natal saltou, festejou, comemorou, graças aos torcedores.

Ou como cantavam os mexicanos, os primeiros a fazer festa em Natal:
"Ay, ay, ay, ay, canta y no llores,
Porque cantando se alegran,
Cielito Lindo, los corazones."


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