Folha de S. Paulo


O equatoriano: "Equador espera ressuscitar diante de Honduras"

O desconforto é o sentimento unânime do futebol equatoriano diante da derrota contra a Suíça, por um gol obtido pelos helvéticos a cinco segundos do final da partida. Ainda assim, hoje a expectativa é de que uma vitória contra Honduras reanime a torcida e os jogadores.

O técnico colombiano Reinaldo Rueda encontrou na "ingenuidade", "falta de concentração" e "emoção" de seus comandados a explicação para a derrota, mas as razões não são tão simples.

O Equador começou bem a partida e conseguiu marcar um gol cedo em uma bela cabeçada de Enner Valencia, o artilheiro da liga mexicana. Mas marcar o gol conteve o ímpeto equatoriano e pelo resto do primeiro tempo a equipe não tentou nenhum ataque e intensificou a marcação com a intenção de defender a vitória parcial. O banco ordenava que a seleção equatoriana cedesse a posse de bola aos suíços.

O segundo tempo revelou as deficiências defensivas do Equador, apesar de um meio de campo congestionado que deixava apenas Felipe Caicedo para tentar o ataque. O jogo mal havia recomeçado quando o volante de marcação Carlos Gruezo e o instável goleiro Domínguez bobearam, permitindo que Mehmedi cabeceasse de dentro da pequena área para estabelecer o empate.

O Equador não teve reação. Parecia contente com o empate. Antonio Valencia, do Manchester United, jogava a pior partida de sua passagem pela seleção. Opaco, sem iniciativa, sem exercer a liderança que caberia a um jogador de sua qualidade. Gruezo e Noboa, empenhados em acompanhar defensivamente o meio de campo adversário, eram nulos na criação.

Os atacantes Enner Valencia e Caicedo não receberam nenhuma bola decente que permitisse incomodar a zaga suíça. Antonio Valencia e Montero não brilharam e os alas não buscaram avançar para cruzar a bola para a área adversária.

E veio o momento fatal. Na única vez que pôde centrar com inteligência, Valencia colocou Arroyo na boca do gol mas ele tentou dominar a bola e perdeu a jogada. Em lugar de pressionar para impedir o contra-ataque, Arroyo ficou parado assistindo ao lance e os suíços perceberam que, no centro da área equatoriana, Jorge Guagua e Fricson Erazo estavam distantes, deixando um espaço que permitiria a aterrissagem de um Boeing 777.

Os suíços penetraram sem marcação alguma e Seferovic marcou o gol da vitória, com a ajuda da fraca marcação de Erazo e da inação de Domínguez que, com seu 1,96 metro de altura, está mais para jogador da NBA do que para goleiro.

A seleção equatoriana tem na sexta (20/6) a oportunidade de levantar a cabeça, recuperar o fôlego e ressuscitar ao menos em parte as suas esperanças de avançar para a próxima fase. O rival é Honduras, que em sua estreia também não mostrou muito diante da França.

Os dois rivais se conhecem pois, no processo de preparação para 2014, se enfrentaram três vezes. Na primeira vez, os hondurenhos, jogando em casa, conseguiram empate por um gol, em fevereiro de 2011. Um ano mais tarde, Honduras retribuiu a visita e perdeu para o Equador em Guayaquil por dois a zero. A terceira ocasião aconteceu há um mês, em Houston, nos Estados Unidos, e o resultado foi um empate em dois a dois.

O amistoso teve um ingrediente curioso. Os treinadores Reinaldo Rueda (Equador) e Luis Fernando Suárez (Honduras) são colombianos. Conhecem muito bem as equipes que dirigem, como seria de esperar, mas também sabem os segredos do rival. Suárez dirigiu o Equador e o levou às oitavas de final na Alemanha em 2006. Rueda conduziu Honduras à Copa da África do Sul em 2010.

Apesar do jogo decepcionante diante da Suíça e do silêncio dos equatorianos, há esperança quanto a uma vitória hoje. Será preciso que os jogadores deixem de lado a tendência de jogar recuados em seu campo. Diante da falta de um condutor, de um gerador de jogadas, o ideal seria recorrer a Antonio Valencia, que teve um bom desempenho executando essa função nas partidas finais das eliminatórias.

Aqueles que acreditam que Honduras será um adversário fácil estão enganados. Não devem esquecer que hoje o país ocupa o 30º posto no ranking da Fifa, apenas três abaixo da posição equatoriana. Também precisam recordar que os hondurenhos ficaram em terceiro lugar nas eliminatórias da Concacaf e que conquistaram o direito de vir ao Brasil em 2014 vencendo o México no Estádio Asteca.

O Equador tem os prognósticos a seu favor. O banco Goldman Sachs previu que o país passaria às oitavas de final. É a primeira vez que a instituição faz uma previsão desse tipo, e alguns brincalhões dizem que a previsão surgiu depois que o país entregou metade de suas reservas de ouro ao banco em troca de instrumentos financeiros.

O índice SPI (Soccer Power Index), da rede de esportes norte-americana ESPN, que em outubro de 2013 atribuía ao Equador 64,7% de probabilidade de passar às oitavas, mudou sua projeção. Depois da derrota diante da Suíça, atribuiu ao país 3,4% de chance de ser o primeiro do grupo e 17% de chance de ser o segundo. Honduras tem apenas 0,5% de chance de chegar em primeiro e 6,52% de chegar em segundo. As probabilidades mais altas de passar às oitavas cabem à França (92%) e Suíça (80,6%).

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Editoria de Arte/Folhapress

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