Folha de S. Paulo


Primeiro jogo será um desafio, diz árbitro brasileiro na Copa

Árbitro brasileiro na Copa do Mundo, Sandro Meira Ricci, 39, afirmou que o primeiro jogo que apitará no Mundial será determinante para trabalhar em outras partidas.

Em entrevista à Folha, o árbitro disse que chegará ao Mundial no melhor das suas condições físicas graças ao planejamento que cumpre com um educador físico e um fisioterapeuta há quatro anos.

Ricci terá como auxiliares na Copa do Mundo Emerson de Carvalho e Marcelo Van Gasse.

O trio apitou a final do Mundial de Clubes da Fifa, realizada no dia 21 de dezembro, quando o Bayern de Munique sagrou-se campeão ao vencer o Raja Casablanca, do Marrocos.

Ricci já processou o atacante Neymar, do Barcelona, depois de o jogador ter feito insinuações em uma rede social de que o árbitro teria prejudicado sua ex-equipe, o Santos, em uma partida, em agosto de 2010. Neymar foi condenado pela Justiça a pagar R$ 15 mil.

Em 2010, Ricci marcou um pênalti em cima do ex-atacante Ronaldo durante um jogo entre Corinthians e Cruzeiro no Pacaembu. O lance gerou muita reclamação do time mineiro.

No último domingo (18), o árbitro expulsou o atacante Fred durante o jogo entre Grêmio e Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro.

Além do árbitro e assistentes brasileiros, a Fifa definiu mais 24 trios de arbitragem e oito duplas de apoio, representando 44 países diferentes, para a Copa do Mundo.

Fabrice Coffrini/AFP
Sandro Meira Ricci durante seminário da Fifa em abril
Sandro Meira Ricci durante seminário da Fifa em abril

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Folha - O que você sentiu ao receber a notícia de que seria o árbitro brasileiro na Copa?
Foi emocionante. A sensação foi de que o esforço que despendi para construir minha carreira como árbitro ganhava, com essa distinção, com esse reconhecimento, ainda mais sentido. Amo o futebol, adoro ser árbitro e essa notícia foi muito bem-vinda, um presente que, sei muito bem, é merecido. Quando decidi fazer o curso para árbitro, não pensava que um dia poderia chegar a atuar numa Copa do Mundo. Primeiro foram os campeonatos amadores, depois jogos de categorias com atletas mais jovens, então vieram os campeonatos estaduais, depois os nacionais e, aí, as partidas internacionais. Entendo que o chamado da Fifa para que eu represente a arbitragem brasileira na Copa é consequência de um processo que vivo no dia a dia, o resultado do trabalho, da dedicação, do apoio que recebo da minha família e dos meus amigos.

Onde estava quando recebeu a notícia? Sozinho ou acompanhado? Foi pelo telefone ou pessoalmente? Como aconteceu?
Em janeiro último, voltava de férias com minha família. Estava num táxi, saindo do aeroporto rumo à nossa casa. Por meio do telefone celular, acessei minha caixa postal eletrônica e vi a mensagem vinda da Fifa. Estava sentado no banco ao lado do motorista e, depois de saber qual o conteúdo do e-mail, imediatamente me virei para compartilhar a notícia com minha esposa e minhas duas filhas, que usavam o banco de trás do carro. Como resposta, recebi os cumprimentos, sorrisos e carinhos. "Você merece", foi a primeira frase que ouvi da minha mulher, algo que nunca vou esquecer porque veio de quem, além de testemunha do meu esforço, participa ativamente da minha carreira. Mesmo minha garota caçula, com menos de 3 anos, se contagiou com nossa alegria.

Qual você acredita que será seu maior desafio na Copa do Mundo?
Entendo que estou bem preparado para atuar nos jogos. Chegarei no torneio no melhor das minhas condições, graças ao planejamento que cumpro sob as orientações de um educador físico e de um fisioterapeuta há mais de quatro anos. Portanto, confio que estou à altura do desafio que é representar a arbitragem brasileira na competição mais importante do mundo. Considero que o primeiro jogo será um desafio. E atuação do trio de arbitragem brasileiro nessa partida será determinante para que, se for o caso, venha a próxima oportunidade, o próximo desafio.

O que significa para você ter sido escolhido para apitar uma Copa em casa?
Sem dúvida, é especial. Imagine o que é representar a arbitragem do Brasil, país famoso no mundo inteiro pelo seu futebol, na maior competição desse esporte. Levo comigo a boa reputação dos colegas que me antecederam e que ajudaram a construir a imagem de respeito que a arbitragem brasileira desfruta hoje, no mundo inteiro. O fato de atuar em casa, sim, significa uma responsabilidade. Por exemplo: eu e os dois assistentes brasileiros, o Emerson Carvalho e Marcelo Van Gasse, serviremos de referência para os árbitros que virão de fora. Nos cursos promovidos pela Fifa, pudemos sentir isso: tivemos que responder a diversas perguntas sobre o nosso País. Por outro lado, estar no Brasil, para o trio brasileiro, significa também o bônus de poder ficar perto de casa, da família e dos amigos. E considero isso muito importante.

Qual sua expectativa sobre o Mundial?
Sinto que, conforme o torneio se aproxima, o clima de Copa do Mundo vai naturalmente ganhando força. E, como a competição será aqui, acredito que isso vai ser ainda mais intenso do que nas outras edições. Imagino que logo nós encontraremos ruas enfeitadas, muros pintados, pessoas com camisetas, carros com bandeiras. O evento é uma festa, será uma oportunidade especial para o brasileiro se mostrar como o povo alegre e acolhedor que é para todo o mundo. Portanto, tenho a melhor expectativa e acredito que tudo correrá bem. Essa será a melhor Copa de todos os tempos.

O que está fazendo de diferente para se preparar para a Copa?
O processo de escolha dos árbitros que atuam na Copa do Mundo começa logo depois que acaba a Copa do Mundo anterior. Ou seja, desde 2010, a Fifa observa o desempenho dos árbitros para orientar a escolha daqueles que vão atuar nesta próxima Copa. Do mesmo modo, eu tenho me preparado, ou seja, minha preparação não começou recentemente. Há mais de quatro anos decidi buscar a orientação de um educador físico e de um fisioterapeuta. Agora, fica evidente que o trabalho desses dois profissionais me rendeu um diferencial. Além de prevenir os prejuízos que o desgaste físico poderia provocar nas minhas tomadas de decisão, estou menos sujeito a lesões. Nos últimos meses, firmei parceria com a Academia Body Tech para poder dispor de uma infraestrutura profissional, fundamental para o rigoroso cumprimento do planejamento que o educador físico, o fisioterapeuta e eu fizemos. Isso desde logo depois da notícia da escolha do meu nome pela Fifa. E consigo seguir uma rotina de preparação inclusive quando estou viajando para atuar em jogos. Assim, trabalho para estar pronto. E logo que for escalado, me apresentarei, junto com a dupla de assistentes, nas melhores condições.


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