Folha de S. Paulo


Chefe dos auditores diz 'fazer de conta' não ver irregularidades no Itaquerão

Luiz Antonio Medeiros, a maior autoridade do Ministério do Trabalho (MTE) em São Paulo, disse à Folha que o órgão está "fazendo de conta que não vê" irregularidades na construção do Itaquerão.

"Se esse estádio não fosse da Copa [do Mundo], os auditores teriam feito um auto de infração por trabalho precário e paralisado a obra. Estamos fazendo de conta que não vemos algumas coisas irregulares", disse ele ontem.

No último sábado, Fabio Hamilton da Cruz, 23, caiu de altura de nove metros durante colocação de arquibancadas e morreu.

Ele era funcionário da WDS Construções, empresa terceirizada pela Fast Engenharia.
Mas a Fast também é terceirizada. Foi contratada pela Ambev, que fez parceria com o governo paulista para a instalação das arquibancadas provisórias.

"Isso é trabalho precário. Não vamos nem entrar neste assunto porque vai atrasar ainda mais a obra. Falei com o ministro e ele deu respaldo. Estamos fazendo de conta que não estamos vendo", completou.

A Folha tentou entrar em contato com o ministro do Trabalho, Manoel Dias, mas a assessoria dele não respondeu às mensagens enviadas.

Antes de Cruz, dois operários já tinham morrido nas obras do Itaquerão. Em 27 de novembro do ano passado, Fabio Luis Pereira, 41, e Ronaldo Oliveira dos Santos, 43, foram vítimas fatais quando um guindaste tombou.

O estádio do Corinthians será palco de seis partidas no Mundial. Entre elas, o confronto de abertura, entre Brasil e Croácia, em 12 de junho.

Qualquer novo atraso pode complicar mais a finalização das obras dentro do cronograma oferecido à Fifa.

Desde o início da construção, o prazo para entrega era janeiro deste ano. Após o acidente em novembro, o prazo mudou para 15 de abril. Mas o primeiro evento-teste deve acontecer somente em maio.

SEM EQUIPAMENTOS

Segundo Medeiros, após a morte de Cruz, os fiscais do MTE constataram que havia operários trabalhando sem equipamentos de segurança individuais.

Hoje, às 10h30, representantes da Fast devem ir à superintendência do ministério levar documentos para a liberação do trecho da obra onde aconteceu o acidente. A região está interditada desde a última segunda-feira.

"Foram cinco itens pedidos. Se eles não apresentarem todos, não tem liberação. Eu não assino", diz Medeiros.

A questão que causa mais discussão é a necessidade de item de proteção coletiva para trabalhos feitos em ambientes altos. Uma sugestão dos técnicos do ministério foi a colocação de uma rede.

"É NR [Norma Regulamentadora], é lei", disse o superintendente.

Medeiros afirma que a rede é apenas uma opção. A Fast pode apresentar uma alternativa. A empresa se manifestou apenas por meio de nota em que lamenta a morte de Cruz e diz estar contribuindo com as autoridades.

Nas próximas semanas, fiscais do MTE vão fiscalizar a obra diariamente, garante o superintendente.

A proximidade da entrega do estádio traz o temor com a retirada dos materiais e equipamentos utilizados na construção.

"O momento do desmonte é quando acontecem muitos acidentes. Isso passou a ser a nossa preocupação", confessa Medeiros.

EX-SINDICALISTA, SUPERINTENDENTE FOI DEPUTADO

Luiz Antonio Medeiros, 66, é superintendente do Ministério do Trabalho em São Paulo desde julho de 2013.

Metalúrgico de formação, fez carreira como sindicalista a partir de 1978. Foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo na década de 80 e fundador da Força Sindical em 1991.

Candidatou-se ao governo de São Paulo em 1994 pelo PPR (Progressista Renovador, hoje extinto), Teve 2% dos votos. Ficou em quarto.

Eleito deputado federal em 1998, permaneceu na Câmara por dois mandatos, sendo filiado aos também extintos PFL (Partido da Frente Liberal) e PL (Partido Liberal).

Em 2004, presidiu a CPI da Pirataria no Congresso Nacional. O chinês Law Kin Chong, considerado o maior contrabandista do país, acusou Medeiros de extorsão. Nada ficou provado. O deputado rebateu denunciando Chong por chantagem.

Editoria de Arte/Folhapress

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