Folha de S. Paulo


Diego Costa encarou convocação como artimanha de Felipão

Centroavante brasileiro de maior destaque no cenário internacional na atualidade, Diego Costa não vestirá amarelo na Copa do Mundo. É provável que venha ao país no próximo ano, mas ostentando camisa vermelha.

O atacante do Atlético de Madri e artilheiro do Espanhol, com 11 gols --à frente de Messi e Cristiano Ronaldo, que marcaram oito--, abdicou de jogar pelo país onde nasceu para auxiliar a seleção da terra que o acolheu.

O jogador registrou em cartório, nesta terça-feira, documento afirmando que escolheu defender a Espanha. Ele deve ser convocado pelo técnico Vicente del Bosque para os amistosos contra Angola e África do Sul, em novembro.

Pouco depois de ser informada da decisão de Diego Costa, a CBF cortou o atacante dos jogos contra Honduras e Chile, para os quais Luiz Felipe Scolari o havia chamado.

Editoria de Arte/Folhapress

O atacante apareceu em uma convocação antecipada de cinco jogadores divulgada na semana passada. Segundo a CBF, a lista havia sido emitida para que eles tivessem tempo de tirar visto de entrada nos EUA, onde o Brasil jogara contra Honduras.

A convocação foi encarada pelo centroavante como uma tentativa de Felipão de coagi-lo a defender o Brasil ou transformá-lo em vilão nacional e isentar o treinador de responsabilidade por uma escolha que já havia sido feita.

"Foi como se a convocação fosse um favor. Diego também pensou assim", disse o amigo do jogador e comerciante José Menezes, que mora em Lagarto (SE), cidade-natal da estrela atleticana.

O goleador começou a se aproximar da Espanha depois de não ter sido chamado para a Copa das Confederações, em junho, mesmo com as fases ruins de Luis Fabiano, Pato e Leandro Damião.

De Del Bosque, recebeu a promessa de que seria convocado quando tivesse a cidadania espanhola, o que aconteceu em setembro, e que estava nos planos para a Copa.

"Com certeza, ele teria vindo de joelhos para cá [Brasil]. Morria de vontade, mas sofreu com o descaso", disse Paulo Sérgio Moura, presidente do Barcelona-SP, clube nanico onde Diego jogava antes de se mandar para a Europa, aos 17 anos.

O descaso ao qual o amigo do jogador se refere é a percepção do atacante de ter sido reprovado por Felipão.

Diego defendeu o Brasil contra Rússia e Itália, em março. Jogou, ao todo, 35 minutos. E não foi mais citado pelo técnico até a Espanha revelar interesse em usá-lo.

O atacante pode jogar pela Espanha devido a uma alteração no regulamento da Fifa em 2009. Com o novo estatuto, um jogador só não pode mais mudar sua cidadania no futebol se já tiver disputado uma partida não amistosa por seleção adulta.

Foi, aliás, baseado nesse artigo que o volante brasileiro Thiago Motta teve aval para jogar pela Itália.

O técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, reagiu com palavras fortes à decisão do centroavante Diego Costa, do Atlético de Madri, de defender a Espanha.

"Um jogador brasileiro que se recusa a vestir a camisa da seleção brasileira e a disputar uma Copa do Mundo no seu país só pode estar automaticamente desconvocado. Ele está dando as costas para um sonho de milhões, o de representar a nossa seleção pentacampeã em uma Copa do Mundo no Brasil", disse o treinador, em nota da CBF.

Já o presidente José Maria Marin disse, em São Paulo, que o caso ainda não está encerrado. Um encontro na próxima segunda-feira vai definir quais medidas a entidade vai tomar.

Mesmo que não consiga tornar Diego Costa inapto a jogar pela Espanha, o mandatário quer impedir na Fifa que outros jogadores tracem o mesmo caminho, naturalizem-se e deixem a seleção.

"Não podemos deixar abrir a porteira", afirmou.

Ao seu lado, no evento, o coordenador da seleção, Carlos Alberto Parreira, disse que discordava da posição de Marin e que, se o jogador quiser atuar pela Espanha, deve ter a posição respeitada.

Com a opção de Diego, dirigentes da CBF acreditam que o atacante será recebido com vaias pela torcida brasileira se for convocado para a Copa.


Endereço da página:

Links no texto: