Folha de S. Paulo


Fifa ignora atrasos e falta de obras de mobilidade e aprova Manaus

Autoridades do Amazonas e da Fifa deram de ombros para os problemas de atraso e de mobilidade urbana que acometem a sede de Manaus, cujo estádio, com 76% de obras concluídas, é um dos mais atrasados da Copa de 2014.

A dez meses do Mundial, nenhuma obra de mobilidade urbana está em andamento na cidade, que vê avançarem apenas a reforma do estádio, dos dois centros oficiais de treinamentos e do aeroporto internacional.

Perguntado sobre qual nota daria para a preparação da capital amazonense para o mundial, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, desconversou. "O governador está dizendo que eu deveria dizer 11", brincou, durante evento em Iranduba, cidade próxima a Manaus, na tarde de terça-feira (20).

"Não é nem questão de dar nota, o certo é que o estádio é muito bonito, seu conceito é bonito, a Amazônia é muito importante para o Brasil e Manaus não podia ficar de fora da Copa", declarou, quando instado a falar sobre os problemas que a cidade possa enfrentar durante o Mundial de 2014.

Os dois principais projetos previstos na Matriz de Responsabilidade da Copa já foram descartados pelo Governo do Estado e pela prefeitura. O plano inicial previa a construção de uma linha de monotrilho e de um sistema de corredores de ônibus integrados (BRT), que, somados, consumirão cerca de R$ 2 bilhões.

Ambos ainda nem sequer saíram do papel. A Procuradoria Federal e a Controladoria Geral da União apontaram irregularidades nos projetos, os processos de licitação atrasaram e as obras já não ficarão mais prontas a tempo da Copa. A reforma e expansão do porto de Manaus também está parada, mas ainda prevista para o Mundial.

"As obras enfrentaram as dificuldades previsíveis, como licenciamento. Nós sabíamos das dificuldades que Manaus teria", disse o ministro do Esporte, Aldo Rebelo. "As obras serão executadas e entregues mesmo que não sejam na data para a Copa."

Por conta do fracasso das obras de mobilidade previstas na Matriz de Responsabilidade do Mundial, o governador Omar Aziz (PSD) e o prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) anunciaram um plano B, que custará mais R$ 1 bilhão e deve ser incluído no PAC da Mobilidade. A ideia é implantar corredores viários e ampliar avenidas.

"Nós estamos nos preparando silenciosamente para receber a todos aqui. Faremos a melhor sede do Brasil", disse o governador Omar Aziz.

Segundo material distribuído aos jornalistas durante evento de ontem, com o selo da prefeitura, o principal objetivo do plano de mobilidade da Copa limita-se a "incentivar o uso do transporte público".

ARENA MAIS CARA

A obra da Arena Amazônia ficou R$ 54 milhões mais cara e alcançou os R$ 605 milhões. O motivo, segundo a UGP-Copa (Unidade Gestora do Projeto Copa), foi uma alteração no projeto das arquibancadas superiores, que passaram a ser feitas no sistema de pré-moldagem, e não mais moldagem in loco.

Segundo Miguel Capobiango Neto, coordenador da UGP, a mudança foi necessária para não atrasar ainda mais a obra. "Estávamos às vésperas do inverno amazônico, quando começam as chuvas", diz. "Por isso foi preciso alterar o projeto para que fosse executado mesmo na chuvas e não comprometesse o prazo de entrega".

Tal atraso, por sua vez, foi provocado pela demora no repasse de recursos do BNDES, diz Capobiango. Pois, em 2012, o TCU (Tribunal de Contas da União) verificou sobrepreço de R$ 86,5 milhões na obra e determinou que o BNDES suspendesse o repasse até que a questão fosse resolvida.

"Os recursos só foram liberados às vésperas do período de chuvas", afirma Capobiango. O novo reajuste, de R$ 54 milhões, será bancado pelo Estado e já foi autorizado pelo TCU. "Foi preciso aumentar o volume de concreto pré-moldado. Apenas em concreto foram R$ 40 milhões."

Segundo a UGP, dos R$ 605 milhões do estádio, R$ 400 milhões provém do BNDES, R$ 100 milhões da Caixa Econômica Federal e R$ 105 milhões do Governo do Estado.


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