Folha de S. Paulo


Fifa ignora própria lei sobre protestos e se preocupa com 'problemas maiores'

A Fifa proíbe, mas os torcedores não se importaram e levaram cartazes à Arena Castelão apoiando os protestos que acontecem pelo país.

Havia pedidos pelo fim da corrupção e críticas ao valor da passagem de ônibus e aos gastos para as realizações da Copa das Confederações e da Copa do Mundo de 2014.

Pelo código de conduta dos torcedores, elaborado pela Fifa, item 5.6, os torcedores não estão autorizados a divulgar qualquer mensagem política, ideológica ou assistencial --e quem compra o ingresso recebe essas orientações.

Antes do jogo, a assessoria de imprensa da entidade informou à Folha que a regra continuava valendo e que, dentro do estádio, o código de conduta dela era a "lei".

Não foi o que aconteceu. Funcionários da Fifa ignoraram os protestos e não houve relatos de seguranças retirando cartazes ou torcedores.

Dois "stewards" --os seguranças privados responsáveis pela ordem dentro das arenas nos eventos Fifa-- disseram que não havia recomendação para reprimir esses protestos.

A Folha apurou que a ordem da entidade era se preocupar com "problemas maiores" do que pessoas com cartazes ou faixas com críticas.

O universitário Murilo Melo, 23, foi um dos que protestaram dentro do estádio. Com o rosto pintado de verde e amarelo, o cearense entrou na arquibancada portando um cartaz em inglês informando que não reclamava por R$ 0,20, mas pelo "dinheiro público roubado".

"Eu tinha outro cartaz, que dizia algo como 'tomar no SUS', mas a Força Nacional de Segurança não deixou eu passar durante o protesto [do lado de fora do estádio]."

Quando tocou o hino nacional, antes da partida, alguns torcedores viraram de costas para o campo, seguindo pedido que alguns grupos de manifestantes fizeram por meio de redes sociais.

A Fifa toca 90 segundos do hino do país, mas as pessoas continuaram cantando até o final da primeira parte --que, como a segunda, termina com "pátria amada, Brasil".

"Fui cumprimentar o [árbitro Howard] Webb no vestiário e ele disse que nunca tinha visto algo igual, a música parar e o estádio inteiro continuar cantando e com voz mais elevada do que estava cantando antes. Eu acho que assustou um pouco a equipe do México", disse o técnico Luiz Felipe Scolari.


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