Folha de S. Paulo


Discreta e rígida, juíza definirá pena de Marin nos EUA

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A juíza Pamela Chen, do tribunal do Brooklyn, nos Estados Unidos
A juíza Pamela Chen, do tribunal do Brooklyn, nos Estados Unidos

Todos os indiciados no caso Fifa, o maior escândalo de corrupção da história do futebol, são homens. Mas o masculiníssimo mundo dos cartolas e seus conchavos secretos foi escancarado ao longo das últimas semanas num julgamento em Nova York sob o comando de uma mulher.

Pamela Chen, a juíza que mandou prender José Maria Marin, o ex-presidente da CBF condenado por receber propina, é a primeira lésbica de origem asiática -seus pais são imigrantes chineses- nomeada para um cargo desses na Justiça federal americana.

Sua nomeação para o assento, confirmada há quatro anos pelo então presidente Barack Obama, foi uma ideia do democrata Chuck Schumer, atual líder da oposição a Donald Trump no Senado.

"Julgo as mesmas coisas que os juízes que não são asiáticos ou mulheres", disse Chen, em entrevista ao jornal "New York Observer", há dois anos. "Mas também acredito que isso gera mais confiança no sistema para todos os que vêm depor diante da gente."

Stephen Yang/Reuters
O ex-presidente da CBF José Maria Marin (ao centro) chega ao tribunal do Brooklyn, em Nova York
O ex-presidente da CBF José Maria Marin (ao centro) chega ao tribunal do Brooklyn, em Nova York

Quando assumiu o cargo, Chen, uma das poucas mulheres num tribunal onde cinco dos juízes são veteranos da Segunda Guerra, lembrou que nunca foi "acusada de tomar uma decisão baseada em qualquer ideologia política".

Mesmo defendendo o compromisso com a imparcialidade, Chen parece representar tudo que a América de Trump tenta destruir –imigração, direitos civis e igualdade entre as raças. E o fato de ela ter presidido um julgamento de corrupção num universo avesso às mulheres deu uma dimensão muito mais política ao escândalo da Fifa.

Seu estilo passa longe do autoritarismo. Discreta, Chen nunca levanta a voz e diz se esforçar para não parecer "volúvel ou injusta". Nos depoimentos que se arrastavam por horas, ela parecia marcar o tempo jogando seus longos cabelos pretos de um lado para o outro, indicando o momento de levantar para se espreguiçar.

Mesmo nas horas mais críticas do julgamento, quando um dos réus passou a mão no pescoço fazendo um gesto de degola para uma testemunha, por exemplo, ou em brigas de advogados de defesa com os procuradores, Chen fazia o papel de conciliadora.

O caso Fifa acabou chamando a atenção para a juíza. Antes, ela já havia comandado casos de grande repercussão. No mesmo tribunal, julgou um grupo de mexicanos acusado de traficar mulheres, um clérigo acusado de arrecadar fundos para financiar ataques terroristas em mesquitas e uma gangue que planejou ataques racistas na eleição de Obama.


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