Folha de S. Paulo


Brasil é único país com aval a não testar árbitro de vídeo

CBF/Divulgação
Árbitro de vídeo, recurso em uso em alguns campeonatos
Árbitro de vídeo, recurso que deverá estar disponível na próxima Copa do Mundo

Um dos seis países autorizados pela Fifa para ser pioneiro na implementação do árbitro de vídeo no futebol, o Brasil foi o único que não conseguiu colocar o uso da tecnologia em prática em competições de abrangência nacional. São mais de dois anos de insucessos.

As alegações para a não implementação vão desde o alto custo e as condições dos estádios até a falta de equipamentos e a logística.

A meta para o uso do sistema no país agora é 15 de abril de 2018, quando será realizada a primeira rodada da Série A do Campeonato Brasileiro.

A utilização, porém, tem que ser aprovada em definitivo pela International Board, órgão responsável por definir as regras do futebol, em reunião prevista para ser realizada no dia 5 de março.

A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) consultou a Fifa pela primeira vez sobre utilizar vídeos em lances duvidosos da arbitragem em 11 de setembro de 2015. Seis dias depois, a Internacional Board negou o pedido. Em março de 2016, o órgão aprovou pela primeira vez a realização de testes com a tecnologia.

Três meses depois, em junho, a Fifa liberou seis países para a utilização do árbitro de vídeo: Austrália, Alemanha, Portugal, Holanda e Estados Unidos, além do Brasil. A CBF afirmou que pretendia utilizar o sistema em agosto de 2016, porém não o colocou em prática -ao contrário de todos outros países que tiveram autorização para o uso e implementaram o sistema em competições nacionais.

Em 2017, o árbitro de vídeo no Brasil quase saiu do papel durante o Brasileiro.

Em setembro, após um gol de mão do atacante Jô, que resultou na vitória corintiana sobre o Vasco por 1 a 0, o presidente da CBF na época, Marco Polo Del Nero, ordenou a implementação imediata da tecnologia. Dois prazos foram estabelecidos. Nenhum cumprido.

A entidade chegou até a convocar 64 árbitros para treinamentos com a tecnologia em Águas de Lindoia (SP).

"Determinei naquela oportunidade [logo após a 24ª rodada] que fosse na primeira rodada (25ª), mas eu sou leigo. Depois a gente vai buscar os técnicos, o Sérgio Correa (coordenador do projeto de árbitro de vídeo), o pessoal da Fifa, da Conmebol, buscando o melhor resultado. No dia que se aproxima... Existe um problema técnico. No mundo inteiro existe um problema técnico", afirmou Del Nero, banido pela Fifa desde o dia 15 de dezembro.

A Folha apurou que os problemas técnicos citados foram a dificuldade para a aquisição de um equipamento que possibilitasse o replay imediato, tanto para a transmissão de TV quanto para a central do árbitro de vídeo. O aparelho não existe no país.

A entidade também temia não conseguir implantar o sistema com a mesma eficiência nos dez jogos da Série A.

"Havia a necessidade da compra de equipamentos de tecnologia para ver o replay das sete câmeras, que é o padrão mínimo exigido pela International Board durante os jogos, de maneira imediata. Esse aparelho é uma fonte receptora. São equipamentos que não haviam em número suficiente no mercado", disse Manoel Serapião, instrutor de arbitragem da CBF e um dos responsáveis pelo projeto de implementação do árbitro de vídeo no Brasil.

Segundo ele, a CBF já prepara uma licitação para a compra dos equipamentos.

TESTES NO EXTERIOR

Nos países com testes, o tempo para a revisão do lance e a decisão final rendeu críticas de atletas e torcedores. Na Austrália, enquanto a recomendação da Fifa é de que a análise da jogada dure até um minuto, ela chegou a demorar quatro. Houve demora também em jogos na Holanda.

Nos EUA e em Portugal, há a divulgação na internet dos dados sobre o uso do recurso de vídeo. Em 91 jogos da MLS (liga profissional dos EUA), o VAR foi utilizado 23 vezes. A revisão foi considerada errada apenas uma única vez.

Em Portugal, o sistema de árbitro de vídeo entrou em ação 22 vezes até a 14ª rodada da primeira divisão.

Na Alemanha houve a maior polêmica até agora em países com o teste do sistema. A federação alemã demitiu um dos responsáveis pela implementação do sistema, alegando manipulação.

Editoria de arte/Folhapress

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