Folha de S. Paulo


Condenado nos EUA, Marin vai aguardar sentença em presídio

Os jurados do caso Fifa condenaram José Maria Marin, ex-presidente da CBF acusado de participação no maior escândalo de corrupção na história do futebol, por seis dos sete crimes de que era acusado em Nova York.

O tamanho da pena ainda será anunciado pela Justiça americana –não há data-limite para a divulgação. A juíza do caso, Pamela Chen, determinou, no entanto, a prisão imediata do cartola, que vai esperar por sua sentença num presídio no Brooklyn.

Depois de seis dias de deliberações e mais de um mês de julgamento, Marin foi condenado pelo júri popular por organização criminosa, fraude financeira e lavagem de dinheiro envolvendo a negociação de direitos da Copa Libertadores e da Copa América.

No caso da Copa do Brasil, em que o cartola também era acusado de receber propina, Marin só foi condenado por fraude financeira, mas acabou sendo inocentado do crime de lavagem de dinheiro.

Esse não é o ponto final do caso. Marin e os demais réus ainda aguardam suas sentenças, sendo bem mais grave a situação do cartola brasileiro, que pode ter uma pena de até 120 anos de prisão caso receba a punição máxima por cada um de seus seis crimes.

Os meses que ele passou detido na Suíça, de maio a novembro de 2015, mesmo ínfimos diante do tempo de cadeia que ele pode pegar nos Estados Unidos, seriam descontados desse total -os dois anos de prisão domiciliar no seu apartamento de luxo na Trump Tower, em Manhattan, no entanto, não contam.

Numa estimativa conservadora, a juíza do caso afirmou que Marin pode enfrentar, no mínimo, dez anos de cárcere.

Quando anunciado o veredicto, o cartola nem se mexeu. Manteve os olhos quase fechados enquanto seus advogados começaram a argumentar com a juíza para que ele não fosse mandado de imediato para o presídio.

"Ninguém diria que este homem de 85 anos agora tentaria fugir do país", disse Charles Stillman, advogado de Marin. "Ele não vai nem até o elevador de seu apartamento sem autorização. O Natal está chegando e a melhor coisa agora seria permitir que ele continuasse em sua casa. Ele estará aqui no dia da sentença e aceitará a punição."

Mas a juíza foi irredutível, alegando que há risco de fuga no caso de Marin e que esse risco aumenta agora depois de sua condenação. "Não vejo motivos para adiar uma prisão que vai acontecer", disse Chen. "É algo que os réus precisam entender."

Na saída do tribunal, Stillman disse que agora entrará com um recurso para tentar ao menos manter Marin em prisão domiciliar. "Estamos muito decepcionados com o resultado, mas nunca vamos desistir", disse. "Não estou dizendo que ele não será preso, mas espero pelo menos que seja justa sua sentença."

Julio Barbosa, outro advogado de Marin, lamentou o fato de o tribunal do Brooklyn não ter considerado como esses crimes são punidos de acordo com leis estrangeiras -a juíza não permitiu a argumentação, alegando que isso poderia confundir os jurados.

O julgamento que acaba de chegar ao fim também turbina as buscas por outros réus ainda distantes do alcance da Justiça americana, entre eles Marco Polo Del Nero, recém-afastado do comando da CBF e de seu cargo junto à Fifa.

Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapress
O ex-presidente da CBF José Maria Marin chega ao Tribunal Federal do Brooklyn, em Nova York, onde foi condenado pela Justiça dos EUA

Em quase um mês de depoimentos, testemunhas no centro do esquema que pagou ao menos US$ 150 milhões em propina ao longo das últimas duas décadas deram detalhes de como uma indústria de pagamentos ilícitos atuou para irrigar contas dos dirigentes do futebol.

Firmas de fachada em paraísos fiscais como o Panamá e as Ilhas Virgens Britânicas foram usadas para fazer transferências para contas na Suíça, em Hong Kong, em Miami e Nova York. O fato de algumas dessas remessas passarem pela rede bancária americana foi o que trouxe a investigação para os EUA.

MIMOS E PROPINAS

Empresários do marketing esportivo como Alejandro Burzaco, da Torneos y Competencias, J. Hawilla, da Traffic, e Hugo Jinkis e Mariano Jinkis, pai e filho donos da Full Play, mimaram cartolas com viagens de jatinho, banquetes em restaurantes badalados e suítes de hotéis cinco estrelas por todo o planeta.

Os cenários da corrupção, no caso, eram tão vistosos quanto o volume de dinheiro desviado em paralelo a cada negociação de contrato de transmissão de torneios como a Copa América, a Libertadores ou a Copa do Brasil.

Mas todo o jet-set virou pesadelo quando a polícia prendeu sete cartolas sob o imenso lustre do Bar au Lac, hotel que funcionava como QG dos chefões da Fifa em Zurique.

Desde aquele traumático 27 de maio de 2015, a vida desses cartolas sul-americanos e seus comparsas no marketing esportivo virou do avesso.

Telefonemas nervosos de J. Hawilla em plena negociação de sua delação premiada na Justiça americana, como a gravação em que Marin é flagrado dizendo ter "acertado" o recebimento de propina, marcam o último episódio de uma novela de farras.

Quando chegaram os policiais que escoltariam o cartola até a prisão, na saída do tribunal, sua imagem já era outra. Ele tirou a gravata, o cinto e um cordão do pescoço, entregando tudo a um de seus advogados. Comeu uma banana e partiu para a cadeia.

EX-GOVERNADOR E TAMPÃO NA CBF

Condenado nos EUA por seis crimes cometidos durante sua gestão na CBF, José Maria Marin assumiu o cargo em 2012 para cumprir o restante do mandato de Ricardo Teixeira, que renunciou.

Aos 79 anos na época, era o vice mais velho e por isso ficou com o posto, seguindo regra do estatuto da confederação. Antes de ser presidente da CBF, foi vereador, deputado estadual e governador de São Paulo entre 1982 e 1983. Vice, Marin assumiu após Paulo Maluf -preso pela Polícia Federal na quinta (21)- renunciar.


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