Folha de S. Paulo


Sem cachês por aparições em games, jogadores cobram R$ 100 mi em ações

Edison Vara/Reuters
Wellington Paulista (de verde) foi um dos jogadores a entrar na Justiça contra a EA Sports
Wellington Paulista (de verde) foi um dos jogadores a entrar na Justiça contra a EA Sports

Insatisfeitos com o uso de sua imagem, centenas de ex-jogadores e atletas ainda em atividade cobram indenizações das produtoras de jogos eletrônicos. Nomes como Paulo Baier, Magrão e Wellington Paulista já ganharam ações contra a EA Sports, fabricante da série de jogos oficiais da Fifa, um dos games mais populares de futebol.

Os jogadores exigem pagamentos por aparições nos jogos "Fifa Soccer" e "Fifa Manager" ao longo de 20 versões de ambos os games.

Somados, todos os processos contra a EA Sports que correm na Justiça brasileira ultrapassam R$ 100 milhões em pedidos de indenização. Desse total, cerca de R$ 15 milhões são oriundos de processos individuais dos atletas.

Outros R$ 36 milhões foram pedidos em ação do Sindicato dos Atletas Profissionais de Futebol do Estado de Santa Catarina. O sindicato paulista, por sua vez, exige R$ 50 milhões por aparições de centenas de atletas que se repetiram 4.204 vezes nos jogos, segundo a entidade.

Alguns casos individuais já foram julgados. Os jogadores ganharam valores menores do que o pleiteado inicialmente.

O goleiro Magrão, 40, do Sport, pedia R$ 220 mil. Ele ganhou o processo na primeira instância para receber R$ 55 mil. O atacante Wellington Paulista, 34, pediu R$ 120 mil e teve vitória na causa para receber R$ 10 mil em indenização.

As 42 ações julgadas em favor dos atletas, por enquanto, renderam um total de R$ 2 milhões em indenizações para os jogadores. Apenas nesses casos, o valor pleiteado superava R$ 7 milhões.

Muitos dos que hoje pleiteiam indenização já se aposentaram. Vampeta, por exemplo, entrou com ação em setembro deste ano. Ele pede R$ 100 mil por ter seu nome usado. Já Kléber, ex-lateral com passagens por Corinthians, Santos e Internacional, ingressou no Judiciário em abril e quer R$ 280 mil.

Em Santa Catarina, o sindicato dos jogadores quer indenização por 1.051 aparições de cerca de 400 atletas.

"Vamos pedir danos morais pela utilização irregular da imagem, nome, apelido e características dos atletas sem o consentimento dos mesmos e dano material pelos prejuízos sofridos pelos atletas por não terem negociado ou autorizado a utilização desses direitos", afirmou o advogado Leonardo Laporta, que move a ação em nome do sindicato catarinense. Os processos são movidos contra a Electronic Arts, a Electronic Arts Nederland e a Electronic Arts Limited.

Os sindicatos dos jogadores de Minas Gerais, Bahia e Goiás pretendem se juntar aos demais e pleitear valores na casa dos R$ 75 milhões, segundo apurou a Folha.

Os valores pedidos pelas entidades são frutos de uma média entre os salários dos jogadores e o que já foi obtido por outros em ações semelhantes contra as produtoras do videogame.

Segundo levantamento da reportagem, até agora apenas um processo foi julgado improcedente no Brasil. Ainda cabe recurso à decisão.

A EA Sports afirmou que não pretende se manifestar sobre os casos.

NEGÓCIO MILIONÁRIO

Os advogados dos jogadores argumentam que os contratos de trabalho com os clubes não autorizavam a cessão da imagem para os jogos. Os atletas não possuem cláusulas específicas desse tipo na documentação dos seus direitos de imagem com os times que representam.

Em 2015, a EA Sports oferecia apenas R$ 15 mil para cada time brasileiro estar no jogo "Fifa 16". Corinthians e Flamengo tiveram propostas maiores: R$ 50 mil para os dois juntos. As duas equipes não aceitaram a oferta e fecharam acordo de exclusividade com a Konami, fabricante do jogo PES (Pro Evolution Soccer), rival do Fifa.

Os sindicatos que representam os jogadores alegam que a EA Sports atingiu faturamento de US$ 212 milhões apenas com o "Fifa 16". Com a versão anterior, alcançou US$ 332 milhões. Em 2014, US$ 600 milhões.


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