Folha de S. Paulo


COB enxuga folha e corta aliados de Nuzman, mas mantém supersalários

Adrinano Vizoni/Folhapress
Presidente COB (Comitê Olímpico do Brasil, Paulo Wanderley

O COB (Comitê Olímpico do Brasil) demitiu na sexta-feira (15) aquele que era considerado seu último funcionário com "supersalário": o gerente-geral de Juventude e diretor-geral dos Jogos Escolares da Juventude, Edgar Hubner.

Ele tinha ganhos mensais da ordem de R$ 44,5 mil e era o derradeiro remanescente da cúpula formada na gestão de Carlos Arthur Nuzman, que durou entre 1995 e 2017.

Apesar da saída de Hubner, o organograma da entidade ainda mantém empregados cujas remunerações anuais têm valor próximo ao que confederações esportivas receberão ao longo de todo o ano de 2017 nos repasses da Lei Piva –que destina percentual da arrecadação bruta de loterias ao esporte nacional.

Os gerentes-gerais têm salário mensal que chegam a R$ 39.875. São os gestores Helbert Costa (TI e escritório de projetos), Sônia Saldanha (RH e processos), José Maria de Santucci (financeiro), Simone Lessa (contabilidade), Vitório Moraes (compras), Rafael Grabowksy (marketing), Jorge Bichara (performance esportiva), Adriana Behar (planejamento esportivo) e Gustavo Harada (jogos e operações internacionais).

Como comparação, eles recebem mais do que o teto estabelecido para o funcionalismo público, de R$ 33.763, pago a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Como todos os funcionários da diretoria e de gerência-geral do COB ganham 13º e outros três salários adicionais –que aparecem identificados nos holerites dos funcionários como "extras"–, a remuneração individual anual chega a atingir R$ 638 mil.

É quase o mesmo que as confederações de skate, surfe, caratê, escalada e beisebol/softbol têm previsto para 2018 (R$ 719.696,97) em recursos provenientes da Lei Piva.

O orçamento gasto com os salários dos nove gerentes-gerais chega a mais de R$ 5 milhões por ano em salários e bônus, sem contar demais encargos trabalhistas.

Em comparação direta, seria mais do que as principais confederações tiveram de repasse da Lei Piva em 2017.

As duas que mais ganharam, judô e vôlei, receberam R$ 4,264 milhões no ano, seguidos por ginástica, atletismo e vela (R$ 3,764 milhões).

Ao longo de seus seis mandatos incompletos, Nuzman manteve sigilo sobre os salários da diretoria e dos cargos de gerenciamento do comitê.

Ele, porém, sempre declarou que não recebia salários como presidente do COB.

Nuzman renunciou ao comando da entidade em outubro, depois de ser preso pela Polícia Federal sob suspeita de atuar como "ponte" em esquema de compra de votos para eleger o Rio sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Ele foi liberado no mesmo mês graças a habeas corpus.

Paulo Wanderley, que era seu vice e ascendeu ao posto de mandatário desde então, mantém prática diferente.

À Folha, ele confirmou que recebe a remuneração mensal à qual tem direito. O salário de Wanderley (cerca de R$ 22 mil) é bem inferior ao que recebem os gerentes-gerais.

A Lei Federal nº 9.532/97 determina que salários brutos de dirigentes estatutários de entidades que recebem verba pública não devem ser superiores a 70% das remunerações de servidores do Poder Executivo Federal, ou padronizado em cerca de R$ 22 mil por recursos da Lei Piva.

Esse valor pode ser retido pelo mandatário ou repartido entre sua diretoria.

Desde que passou a chefiar o COB, Wanderley impôs uma política de corte de gastos que já eliminou a cúpula que vinha da era Nuzman.

Além de Hubner, também foram demitidos o ex-diretor-executivo de Esportes, Agberto Guimarães (R$ 77,5 mil/mês), o ex-diretor de relações institucionais, Bernard Rajzman (R$ 45,5 mil/mês), o ex-diretor do Instituto Olímpico, Augusto Heleno (R$ 56 mil/mês), e o ex-secretário-geral, Sérgio Lobo (R$ 88,2 mil/mês).

Todos eles foram conduzidos aos respectivos cargos na entidade por Nuzman.

Em dois meses, Wanderley já desligou mais de 40 funcionários e espera uma economia de R$ 9,3 milhões na folha de pagamento. Outros cortes estão em andamento.

Editoria de Arte/Folhapress

OUTRO LADO

Procurado pela Folha, o Comitê Olímpico Brasileiro não contestou as informações e afirmou que atravessa um período de ajuste interno.

"O COB passa por um processo de reestruturação administrativa e financeira, o que implica em corte de pessoal e diminuição de postos de trabalho. O processo ainda está em curso, e visa otimizar os recursos disponíveis", afirmou, em nota.

O COB chegou a ter mais de 200 funcionários nos últimos anos, mas o presidente Paulo Wanderley previa cortar até 30% da folha. Além de cargos da diretoria, funcionários com mais tempo de casa têm sido desligados.

Na semana passada, uma secretária de Carlos Arthur Nuzman, Heloisa Almeida, foi demitida.


Endereço da página:

Links no texto: