Para Hugo Moyano, 73, presidente do Independiente (ARG), a final da Copa Sul-Americana vai além do título. Candidato à reeleição, ele é o cabeça da família que espalha tentáculos pelo futebol nacional e sonha em dominar a AFA (Associação do Futebol Argentino).
Esse processo já começou. O atual presidente da entidade é Claudio "Chiqui" Tápia, genro de Moyano. O próprio Hugo quer ocupar o cargo.
Um dos sindicalistas mais poderosos da história argentina, ele está afastado da CGT (Confederação Geral do Trabalho), onde foi secretário-geral por 12 anos. Mas manteve aliados no comando.
"Hugo é Independiente acima de tudo. Defende o time em todas as circunstâncias e tem força para brigar pelos interesses do clube", afirma o técnico Ariel Holan.
A trajetória de Moyano é parecida com a de Julio Grondona, ex-presidente do Independiente que comandou a AFA de 1979 a 2014, quando morreu. Ele também controlava o Arsenal de Sarandí.
"Existe a ideia de que eu seja presidente da AFA, mas a única coisa certa é que não vou deixar o Independiente", disse ele.
A família tem influência em outros quatro clubes menores: Barracas Central (onde Chiqui Tápia é presidente); Alvarado de Mar del Plata, em que seu filho, Facundo, é vice e faz os aportes financeiros para pagar as contas; Club Atlético Camioneros de Córdoba e Club Atlético Camioneros, na Província de Buenos Aires.
Os dois últimos são sustentados pelo dinheiro do Sindicato dos Caminhoneiros, de onde vem a origem do poder de Hugo Moyano. Por causa disso, já disse publicamente ser a única pessoa capaz de "parar o país."
O título do Independiente seria importante também para Moyano pelo aspecto político. Ele se coloca como oposição ao presidente Maurício Macri e às reformas trabalhistas que ele propõe. O futebol se torna um caminho para manter uma linha de comunicação com Macri, que também apareceu na mídia argentina como dirigente esportivo -foi presidente do Boca Juniors.
Agustin Marcarian/Reuters | ||
Independiente venceu a partida de ida, em Buenos Aires, por 2 a 1 |
Moyano precisa fazer pressão política. Há investigação em andamento sobre associação ilícita e lavagem de dinheiro nos clubes de futebol do Argentina. Seu homem de confiança e guarda-costas Roberto "Polaco" Petrov foi preso junto com 26 barrabravas (como são chamados os núcleos violentos das torcidas organizadas no país).
A vitória no Maracanã é capaz de dar um impulso à ambição de influência política e controle do futebol para o sindicalista, que, no auge do poder, disse na cara da então presidente Cristina Kirchner que ela não foi presa porque seu marido [Nestor Kirchner] havia "se pendurado no saco de um juiz", ironizando investigação arquivada pela Justiça.