Folha de S. Paulo


Novo presidente do Santos quer auditoria para revisar contas

José Carlos Peres, 69, tem pressa. O novo presidente do Santos, eleito no último sábado (9) para mandato de três anos, até 2020, deseja o que define como "arrumar a casa" após o fim do mandato de seu antecessor Modesto Roma Júnior. A posse oficial do cargo, em 2 de janeiro, começará junto com uma investigação.

"Realizaremos uma auditoria séria, plena e consistente dos últimos cinco anos. Se descobrirmos algum esqueleto, vamos tomar providências", afirmou Peres.

A suspeita dos dirigentes é de que a dívida do clube ultrapasse a casa dos R$ 460 milhões. Outro temor recai sobre problemas com os pagamentos nas aquisições dos atacantes Bruno Henrique e Vladimir Hernández, além do zagueiro Cleber, que retorna de empréstimo no Coritiba.

"Estávamos fora do clube, não temos ainda uma informação tão certa lá de dentro. A partir desta segunda-feira (11) esperamos fazer a transição", afirmou.

O acirramento político nas urnas, marcado por denúncias, boatos e ataques nas redes sociais, ainda pode dificultar a pressa de Peres e o processo de transição previsto.

"É um requisito moral, mas não é obrigatório. Esperamos pelo bom senso e que o Santos seja colocado acima de disputas", explicou Orlando Rollo, novo vice-presidente.

A gestão de Modesto é contestada por uma série de atitudes. A mais recente envolve uma suposta tentativa de aumentar artificialmente o número de associados nos últimos meses para angariar votos no pleito.

A relação entre Modesto e o empresário Luiz Taveira também será um dos alvos da nova cúpula alvinegra. Taveira teve o maior trânsito na Vila Belmiro sob a gestão de Roma Júnior, responsável pela negociação de mais de um time de jogadores para o clube desde 2015. À Folha, em fevereiro, ambos disseram não serem amigos pessoais e que a relação é somente de "confiança profissional".

"Não terei empresário de estimação, todos serão bem recebidos. O Santos não é uma ilha, temos que criar pontes para que todos tenham os mesmos direitos, sejam jogadores, técnicos ou patrocinadores. Precisamos abrir esse leque, atender todo mundo, mudar esse muro que existe no clube hoje", afirmou Peres.

Natural de Monte Azul Paulista, o novo presidente trabalhou no mercado financeiro e já se envolveu em diversas correntes políticas do clube, inclusive na própria gestão de Modesto, quando foi gerente de marketing internacional.

Ele deixou a função em abril deste ano e atribuiu o desligamento a uma "decisão política", vislumbrando o pleito de dezembro.

Peres orgulha-se, por exemplo de ter sido o responsável por encontrar o atacante Gabriel Barbosa, atualmente no Benfica-POR, em 2006, quando ele tinha nove anos.

O principal "cartão de visita", no entanto, é o fato de ter participado ativamente do reconhecimento de mais seis títulos brasileiros, conquistados pelo clube na era Pelé, na década de 60. A decisão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) formalizou os títulos brasileiros conquistados entre 1959 a 1970.

O cartola afirma ter emprestado a própria residência, sem custos, para a montagem de uma subsede oficial dos Santos em São Paulo.

TÉCNICO E REFORÇOS

Se há pressa para entender o atual momento financeiro do clube, a corrida contra o tempo também se estende para o anúncio de um novo treinador. Desde a saída de Levir Culpi, em 28 de outubro, o cargo foi ocupado interinamente por Elano. Zé Ricardo, do Vasco, e Jair Ventura, do Botafogo, puxam a fila entre os nomes estudados.

Zé Ricardo já era um dos nomes preferidos de Modesto. O salário inferior ao dos antecessores, cerca de R$ 100 mil mensais, e a multa baixa, de dois meses de salário, são os principais atrativos.

"O perfil é de alguém que tenha o DNA ofensivo e lide bem com a base. É a coroa do rei", disse Peres.

O novo presidente santista é cauteloso quanto ao anúncio de reforços. Ele antecipou que precisará estudar a possibilidade cogitada pela gestão anterior de trazer Robinho, 33, que não deve renovar contrato com o Atlético-MG.

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COM DENÚNCIAS E BRIGAS, VOTAÇÃO LEVA 15 HORAS

O pleito que elegeu José Carlos Peres como novo presidente do Santos foi marcado por discussões acaloradas, denúncias e problemas. A votação durou 15 horas.

Sócios votaram simultaneamente na Vila Belmiro e na sede da Federação Paulista de Futebol (FPF), em São Paulo. Houve denúncias de tentativas de fraudes em três urnas: duas em Santos e uma na capital paulista.

Grupos oposicionistas relataram um possível beneficiamento a Modesto Roma Júnior com o "boom" de associados nos meses de novembro e dezembro.

"Nunca vi tanta gente de Piracicaba. Vieram muitas pessoas de lá, quero ver se seguirão no quadro associativo nos próximos três anos", disse o delegado Fábio Pierry, candidato a vice na chapa de Nabil Khaznadar, o menos votado.

A primeira das confusões foi protagonizada por Modesto e Orlando Rollo, vice de José Carlos Peres.

De frente para as urnas, Rollo apontou as supostas irregularidades entre os votantes em transmissão ao vivo por meio de uma rede social. Ele disse ainda ter sido agredido por correligionários do atual presidente. Modesto foi até o local e rebateu em discussão acalorada.

Os problemas nas urnas se estenderam durante toda a votação, provocando longas esperas aos santistas. Até mesmo as principais jogadoras do futebol feminino, como Maurine e argentina Sole Jaimes, encontraram dificuldades.

Em São Paulo, outro episódio curioso. Opositores flagraram um grupo de chineses na fila e questionaram a legitimidade do voto por meio de outro vídeo nas redes sociais.

"Eles foram apertados por todas as chapas de oposição e responderam: vou votar no amarelo, meu patrão mandou votar", relatou José Carlos Peres.

Ao final do período de votação, novas polêmicas. Os mesários responsáveis pararam a votação e cruzaram os braços acompanhados pelos grupos políticos, enquanto os associados que já se encontravam dentro do clube lutavam por seu direito a voto. O movimento atrasou por pouco mais de três horas o término do pleito e o início das apurações.

A apuração foi finalizada próximo à meia-noite, sem confusão. A chapa de José Carlos Peres terá direito a 42% das vagas do Conselho Deliberativo. Já os candidatos derrotados Andres Rueda e Modesto Roma Júnior ficaram com 29% cada um.


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