Folha de S. Paulo


Nabil defende jogos no Pacaembu para fazer a torcida do Santos crescer

Divulgação
Nabil Khaznadar, candidato a presidencia do Santos Futebol Clube pela chapa Avança Santos, participa de mesa redonda com jornalistas no Octavio Cafe, em Sao Paulo. Foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Nabil Khaznadar tenta pela segunda vez se eleger presidente do Santos

Convencido que o Santos é a marca do futebol brasileiro com maior penetração no exterior, o empresário Nabil Khaznadar prega que o clube se abra para o mundo. Ou pelo menos, no início, para São Paulo.

A principal bandeira de sua campanha é fechar com a prefeitura da capital paulista um contrato de exclusividade para usar o Pacaembu por três anos. Seria onde a equipe mandaria a maioria dos jogos durante seu mandato.

"A nossa torcida pode crescer e dividir o Morumbi com os adversários, como aconteceu no passado. Se você não explorar a marca, não existe", defende.

Seria o primeiro passo. Ele quer preparar o Santos para que possa se transformar em uma sociedade anônima e receber investimentos do exterior.

Khaznadar sabe que isso será visto como a venda do clube. Jura estar disposto a comprar a briga.

"Todas as máquinas da Europa são empresas societárias. A gente quer deixar isso mastigado para quem vier a seguir", completa.

Khaznadar foi candidato em 2014. Terminou na última posição, mas alega que o cancelamento da primeira votação o fez perder cerca de 30% dos votos. Também confessa que o apoio do ex-presidente Odilio Rodriguez, que deixava o cargo com alto índice de rejeição, foi um problema.

"Era só mais um apoio. Eu não pedi o apoio do Odilio e nunca mais falei com ele", afirma, três anos depois.

Ele revela ter trabalhado por quase um ano para que a oposição tivesse candidato único. O nome que tentou costurar foi o do empresário Walter Schalka, CEO da Suzano, empresa de papel e celulose. Ele aceitava lançar seu nome, desde que fosse consenso. Isso não aconteceu e Schalka desistiu.

"Respeitei [a decisão], mas fiquei bem chateado. Cheguei a propor que fosse feito um sorteio. Eu, Peres e Rueda. O nome que saísse seria candidato e os outros apoiariam. Não foi aceito."

O discurso de Khaznadar é de modernizar e "levar o Santos para o mundo". Ele sabe não ser tão fácil assim.

"De 60 mil sócios, temos 12 mil, 14 mil adimplentes. Vai diminuindo, diminuindo, daqui a pouco a gente vai sumir", afirma.

Leia abaixo a entrevista completa com Nabil Khaznadar.

*

Folha - Por que as oposições do Santos não se uniram?

Nabil Khaznadar - Tentamos até o último instante. Tanto que a gente foi a última chapa a ser lançada. Tínhamos o nome do Walter Schalka, presidente da Suzano, que se colocou na condição de sair candidato. Ele pediu que se saísse, gostaria da união das oposições. Dissemos que seria difícil, mas iríamos trabalhar para isso. Tentamos, mas o José Carlos Peres se colocou contra desde o início porque ele se achava no direito de sair candidato. Primeiro, por causa da idade (69 anos), ele achava que seria a última oportunidade dele. Também porque havia ficado em segundo lugar na eleição passada. E eu acho até que ele teria direito, desde que não tivesse trabalhado no Santos na gestão Modesto Roma. A gente acha que ele sempre faz o trabalho do Marcelo Teixeira para atrapalhar as oposições. Ali começou a minar um pouco a candidatura do Walter porque quem fazia todo o trabalho de bastidores do Andres Rueda, um cara que não é conhecido do sócio, era o Fernando Silva [ex-executivo de futebol do Santos e candidato a presidente em 2014]. Em um primeiro momento, ele abriu mão da candidatura do Rueda em prol do Walter. Então, a gente achava que sairia com o Walter. Até que em agosto ele me chamou para comunicar que não seria candidato porque havia renovado com a Suzano por mais três anos. Respeitei, mas fiquei bem chateado. Propusemos até fazer um sorteio em prol da união. Disse para ter um sorteio para decidir de forma mais justa. Eu, Peres e Rueda. Quem saísse, seria candidato e os outros engoliriam. Entrou o ego de muita gente. Eu também não conseguia mais segurar a minha base e a defesa das propostas que a gente não abre mão.

Quais propostas?

Voto à distância [pela internet], preparar o clube para possivelmente se transformar em uma sociedade anônima, como os grandes clubes europeus... Esse quebra-cabeça, quando a peça chamada Walter Schalka saiu de cena, não fechou mais. Ele era a unanimidade. Assim como foi o nome do Laor [Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro] em 2009. A gente recebe mensagens ainda hoje dizendo que poderia ter se unido. Agora é tarde, está tudo registrado e vamos até o fim. Não tem mais jeito. Não foi de nossa parte. Eu não tinha nem intenção de sair, mas como a gente teve recall de 2014 com 800 votos nas costas, não tinha jeito. Até pedi para o [publicitário] Celso Loducca [se candidatar]. É o sonho dele. Mas ele não quer agora. [O vereador em São Paulo] Celso Jatene disse que está no último mandato, vai parar e que na próxima pode até participar. Jatene e Loducca me convenceram. Saí para manter a chama acesa e preparar até para 2020. A candidatura começou a ganhar corpo por causa da história do Pacaembu.

Alugar o Pacaembu por alguns anos e mandar a maioria dos jogos no estádio da capital é uma maneira de fazer a torcida do Santos crescer?

Acredito que a gente consiga voltar a crescer e dividir o Morumbi com os adversários como fazíamos nos bons tempos. Se você não explorar melhor a marca, não existe.

A eleição de 2014 foi muito polarizada e o senhor ficou em último. Por que acha que desta vez será diferente?

Quando houve o adiamento da primeira eleição em 2014 [por tentativa de fraude], acredito que 30% dos eleitores em São Paulo não voltaram. Isso mudou o quadro e a gente perdeu o termômetro. Acredito que na primeira eleição teríamos mais votos. Realmente o meu eleitor é diferente. Temos certa certeza de que perdemos de uma eleição para a outra. Tivemos também problema de ter recebido o apoio do Odilio [Rodrigues, ex-presidente], mesmo não tendo participado de nada da gestão dele. Eu apenas era conselheiro na gestão do Laor. Odilio assumiu o clube por causa do problema de saúde do Laor e quando decidiu nos apoiar... Não iria falar "não". Era mais um apoio. Acho que isso também prejudicou. Nunca mais vi o Odilio. Não tenho nenhum relacionamento com ele. O que mudou para esta eleição foi a experiência e as pessoas que estão se expondo mais. A gente quer fazer uma gestão profissional, com um trabalho melhor de bastidores, mídia social... Estamos expondo melhor as propostas, como a que o CT Rei Pelé vai virar Centro de Treinamento para a base e vamos fazer um novo CT para os profissionais. As propostas estão bem claras e nosso chamariz é o Pacaembu. O Santos precisa assumir o Pacaembu até porque o valor é viável.

Segundo o secretário de Esportes e Lazer de São Paulo, Jorge Damião, há uma concorrência em andamento e o Santos pode entrar nela se quiser. Se o senhor for presidente o Santos vai participar da licitação do Pacaembu ou quer alugar o estádio nos moldes do que o Corinthians já fez?

São duas coisas diferentes. A Prefeitura tem uma licitação que vai para a Câmara de Vereadores no ano que vem, mas o pessoal que mora no Pacaembu e tem uma associação ganhou uma causa no Supremo [Tribunal Federal] que brecou isso. Uma das licitações que eu vi propunha derrubar o tobogã para fazer um hotel e até acho que o Ministério Público não vai deixar isso acontecer. No nosso caso, a gente vai alugar pagando um valor anual. Nesse período, o estádio será do Santos e a gente pode fazer o que bem entender, pintar de branco e preto... Só não pode mexer nas cadeiras amarelas e verdes. Isso é determinação do Condephaat [Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico] ou do Estado de São Paulo. O restaurante e o museu também [não pode alterar]. No restante, a gente pode mexer em tudo. Envolve um valor que em dois clássicos fazemos o valor a ser pago no ano e pode ficar com o Pacaembu até 2020. Se outro time quiser jogar lá pode sublocar da gente. Isso ficou bem conversado.

Mas e a Vila?

Vamos reformar a Vila, tirar um pouco daquele monte de camarotes que são a elitização do estádio. Aqueles camarotes atrás do gol são absurdos. Eu já achava aqueles na lateral gritantes. Os atrás do gol então... São muito mais. Era o calor da torcida em cima do goleiro adversário ou apoiando o nosso goleiro. A Vila tem de ser reformada. Não tem conforto nenhum, existem pontos cegos. Eu tenho cadeira na Vila e para mim, está ótimo. Mas temos de pensar no torcedor, que é o nosso patrimônio. A falta de conforto, ser ruim para chegar, estacionar, comer... A Vila é nossa casa e não podemos deixar de lado. É um estádio que pode voltar a ser um alçapão.

Toda eleição no Santos há expressões que reaparecem. Uma delas é que as finanças do Santos são uma caixa preta. O senhor sabe qual a situação financeira do Santos?

Sei porque acompanho os balanços, mesmo não sendo conselheiro.

E qual a situação financeira?

Se entrou o dinheiro do Neymar serão R$ 550 milhões de dívida. Se não entrou, são R$ 600 milhões. Em torno disso. Ou seja, Modesto vai entregar o clube três vezes, mais ou menos, pior do que recebeu. Uma gestão modesta, que pensa pequeno. Como foram as do Odílio e Marcelo Teixeira, que não souberam ir atrás de receita. Não souberam criar receita. Se você não cria receita, apenas mantém a despesa e aumenta dívida. Já conversei com apoiadores nossos que são os maiores credores do clube: o banco Itaú. Falamos sobre o alongamento da dívida. O Santos paga por ano R$ 10 milhões apenas de juros. Não dá! Isso é ficar correndo atrás do próprio rabo. Temos de ter um fôlego. Trazendo o Santos para São Paulo, se cria receita. Com a transparência do clube, já que vamos fazer um portal de transparência, mostraremos que somos um grupo sério, cuidando de uma instituição e mostrando para grandes empresas que podem investir no nosso clube de novo.

Essa questão do Santos se tornar sociedade anônima é polêmica. E se levada adiante com a sua eleição, gerará uma discussão imensa porque vai vender a imagem de que o Santos terá um dono. O senhor está pronto para esse processo desgastante? E quanto tempo leva?

A gente quer deixar o clube preparado. Como sou gestor de marcas internacionais - eu trabalhei com a Hugo Boss, depois trouxe a Puma para o Brasil, abri as primeiras lojas da Adidas, trouxe a Ralph Lauren -, quando digo preparar para se transformar em S/A, quero dizer que temos de deixar o clube pronto para uma oportunidade de aporte internacional. Meu modelo de negócios nesse sentido é o Bayern de Munique, que vendeu 8,5% para a Audi, 8,5% para a Adidas e 8,5% para a Allianz. Mas não é uma coisa fácil e rápida de ser feita. Primeiro porque precisa passar a lei no Congresso Nacional. Acho que vai passar porque segundo informações que eu tenho de pessoas próximas ao presidente [Temer], ele quer virar um cara mais popular e vai fazer isso. O futebol é popular. Com certeza, no meu terceiro ano de mandato a gente consegue preparar. Até porque, como você disse, vão dizer que vai vir um cara de fora... Olha o Manchester United, o Manchester City. Todas as máquinas da Europa são sociedades anônimas. A gente quer preparar o Santos profissionalmente, administrativamente para uma possível abertura de capitais. Queremos deixar para a gestão seguinte já pegar isso mastigado.

O senhor já tem alguma conversa de técnico?

Tenho nomes. Se falasse que não, estaria despreparado. Acho que a gente tem de decidir isso junto com o novo gerente de futebol, que deve ter autonomia completa, inclusive sobre os jogadores. Não dá para os jogadores mandarem no técnico e no gerente de futebol. Isso está às avessas. Hoje vejo os jogadores do futebol brasileiro muito mimados, mandando mais dos que estão hierarquicamente acima deles. A gente precisa trazer um gerente de futebol bom, com certo know-how, inclusive intelectual, e definir nome de técnico. Mas tenho dois ou três nomes. Eu gosto muito do Fernando Diniz. Só não sei se ele é do tamanho do Santos.

O que o senhor acha do elenco atual do Santos?

Não acho ruim. Acho cansado, velho, não identificado com o clube e com a torcida. Não me vejo representado por esses jogadores, a não ser por alguns. Mas aí acho que é muito culpa da gestão. Queremos criar um elo maior entre a administração e o time de futebol. Quem vai fazer esse trabalho será o Walter Schalka, que faz muito bem isso com oito mil funcionários na Suzano. Falta um pouco mais dessa interface, trazer o elenco para dentro do clube, uma interligação maior. Está muito uma visão de que uns estão lá em cima e os outros estão aqui embaixo. Você pega o exemplo do Zeca. Para mim, isso é o típico problema da falta de gestão. Chegar a esse ponto... Quando ele chutou a primeira bola [para longe] há seis meses, tinha de ter chamado o cara, tirá-lo de lado e perguntado o que estava acontecendo. Era claro que ia estourar outro problema. Existe distância muito grande do chefe para o funcionário. Então, tem de haver uma ligação maior, mostrar para o jogador o que é o Santos, a história do clube, o tamanho que é. As pessoas estão de passagem e indo embora. Isso tem de acabar. Não pode estar no Santos de passagem. Tem de estar no Santos por gostar do Santos. Isso o Laor fez muito bem na primeira gestão dele. Foi muito feliz nisso.

O senhor já citou o Laor algumas vezes e falou da dívida. A situação será tão difícil quanto a que o Laor assumiu?

Não. O problema será menor.

Mas para montar o time, o Laor encontrou dois jogadores (Neymar e Ganso) que o senhor não encontrará.

Não. Pelo contrário. Estão deixando só coisa ruim.

Preocupa? Porque é um ano de Libertadores.

Sim, preocupa. Mas pelo menos não vamos jogar a pré-Libertadores, senão já teria jogo em 27 de janeiro. Seria uma loucura. Neste caso, teria de manter a base. Não adianta. Vai ter de buscar [ reforços]. Estava conversando com algumas pessoas porque precisamos de um jogador para substituir o Lucas Lima. Tenho um nome em mente e vou precisar urgente porque o Santos estará na Libertadores.

O senhor planeja construir o CT para os profissionais aonde?

Precisamos dar condição melhor para a base, que é a nossa galinha dos ovos de ouro. Todo santista se orgulha de ter uma base como a nossa. Está certo que nós últimos três anos esta não foi bem administrada. A gente quer pegar o CT Meninos da Vila, na entrada da cidade, acertar com uma empresa internacional para assumir o CT mediante aprovação da Prefeitura e da Câmara de Santos. A aprovação deve acontecer porque é uma marca forte. E conseguiriam para nós um terreno na parte continental - não adianta procurar porque na cidade de Santos não vão achar nada -, na Rodovia Piaçaguera. Os jogadores iriam até lá trabalhar todo dia. Queremos ter um ginásio para montar a equipe de futsal ou levar para arena municipal porque o clube precisa voltar a ter time de futsal. A molecada precisa jogar. Todo grande craque saiu do futsal. A maioria, pelo menos. Como você sabe bem, os grandes clubes europeus têm o CT do profissional longe do centro. O da Internazionale fica no Lago di Como, a 40 minutos de Milão. Mesma coisa dos clubes ingleses e estive lá no ano passado. Nossos jogadores têm carros e podem se locomover. O que a gente não pode é fazer a molecada se locomover. A molecada tem de ficar na cidade, onde há escola, família, cultura. É isso o que a gente tem de fazer. Essa triangulação está muito bem equilibrada.

Uma questão que o senhor defende e já defendia na última eleição é o voto à distância. É uma discussão que comove muita gente. Uma das reclamações que são feitas é que não é seguro.

Isso não é verdade. Foi uma mentira colocada porque não queriam perder dos olhos deles quem vota. O medo é esse. Era e continua sendo. As outras candidaturas não vão colocar em prática. O Modesto não vai fazer isso. Na candidatura do Rueda, ele não foi na votação e o Quaresma [candidato a vice] votou contra. O [Orlando] Rollo [vice de José Carlos Peres] sempre foi contra. O Peres não apareceu, para variar, para votar. Todo nosso trabalho foi espelhado no Grêmio e no Internacional, que já vêm fazendo isso há anos. Foi espelhado também nas magistraturas que também fazem voto à distância. Estamos muito bem encaminhados para isso. Não existe nenhuma prova de fraude nas votações de Grêmio e Inter ou nas magistraturas. Até lamento porque as pessoas ficam usando argumentos que não são verdadeiros. Isso é uma pura mentira. É pena porque para o rapaz que mora em Fortaleza e é santista doente, a única coisa que ele teria direito seria votar. De 60 mil sócios, temos 12 mil, 14 mil adimplentes. Vai diminuindo, diminuindo, daqui a pouco a gente vai sumir. Se a gente não consegue dar para o torcedor que mora longe o direito de votar e sem medo de quem ele vai escolher votar, não há razão para o cara ficar pagando mensalidade.

O Santos não oferece nada nem para o sócio que mora em Santos.

Exatamente. Não tem sequer clube social. Não faz sentido. Tem gente que fala da barraca da praia. O Santos se preocupar com o tamanho da barraca da praia... Que eu acho que deve ter. Não sou contra, mas o Santos não pode ficar pensando na barraca da praia. O Santos é muito maior do que isso. A marca Santos é muito grande. Temos 14 mil adimplentes. O que é isso? Chegamos a ter 60 mil. Estamos encolhendo. Estamos sumindo. Mais um tempo na mão desse pessoal, vamos desaparecer. O Santos nunca vai acabar, mas vamos ficar muito para trás dos outros. Depois que o bonde passa, você não consegue pegar mais. Temos de tentar pegar o bonde de novo com o Pacaembu, que tem de ser nossa segunda casa.

E essa questão da camisa? O presidente teve a empreitada de ter camisa própria. O senhor tem alguma ideia?

Quando o Modesto fez esse modelo de fabricação própria, me perguntaram o que eu achava. Disse que só conhecia um clube na Europa que fez algo parecido e deu muito errado, o Liverpool. Tentou fazer isso e deu errado. É o meu ramo. Moda, camisa, roupa... Não faz nenhum sentido. Sobrar R$ 50 livre para o clube de cada camisa... É impossível. Com uma camisa custando R$ 500, o que não é o caso, uma margem de 10% para o clube é uma margem irreal. Agora infelizmente assinou contrato com a Umbro. Isso para mim não passa de uma queima de arquivo. Assim que assumirmos vamos atrás desses problemas, já sabendo que eles vão desaparecer com tudo. Eleitos, vamos tentar buscar tudo o que aconteceu de prejudicial ao Santos e colocar no portal da transparência para mostrar ao sócio o que foi feito com o clube nesses três anos. Na verdade, nos últimos seis anos. Que venha da última gestão do Laor a essa, com uma auditoria imparcial e independente.

Com o senhor na presidência, o Santos terá alguma relação institucional com o Neymar?

Eu tenho relacionamento com a família. Sempre foram meus amigos.

Mas do Santos.

O Santos tem de tratar bem seus ídolos. Neymar, no meu modo de entender, ajudou a trazer uma Libertadores, uma Copa do Brasil, ajudou a levar o nome do Santos para o exterior mais uma vez, fez um monte de torcedores mirins que vão vir na próxima geração. Perdemos alguns na saída dele, mas outros ficaram. O mínimo que você pode fazer é trazer o Neymar para dentro do Santos. Ele tem de ter o Santos como a segunda casa dele. Isso eu vou brigar. Não tenho nada, absolutamente nada contra o Neymar como jogador. O Neymar me deu alegrias que eu só ouvia as pessoas falando de 1968, 1969... Do grande time do Santos. O Santos do Neymar deve ter sido mais ou menos o que acontecia em 1962, quando jogavam por brincadeira. Você não pode pegar um ídolo desse, que hoje é maior do que o PSG, e descartar. Só o Santos para não ter um cara desse próximo. Não faz sentido. O cara é um ídolo.

Todos os clubes estão com dificuldade para encontrar patrocínio, tanto que a Caixa é o grande patrocinador do futebol brasileiro. Tem algum caminho?

Caminho é transparência e a profissionalização do clube.

Até que ponto a crise afetou essa busca?

Afetou e a falta de credibilidade do futebol brasileiro hoje ajuda as empresas a não apostarem nos clubes. É uma caixa preta. Se trouxer uma administração profissional e transparente, mostra para esse pessoal que vale a pena investir no clube. O que não dá é para depender de empresas estatais.

Isso funciona melhor quando o clube tem a imagem de um grande jogador.

Claro. A gente precisa fazer esse trabalho de marketing, profissional. Vamos mostrar que o Santos é marca internacional, é a maior do Brasil. Quem lembra de futebol do Brasil, lembra do Santos. A gente precisa reativar esse trabalho que está adormecido. As pessoas que passaram por lá deixaram a marca adormecida.

O senhor tem algum plano para o Pelé?

Aposentar a camisa 10. Acho absurdo ter tido um jogador como o Pelé e não ter aposentado uma camisa tão histórica e pesada como a dele. Eu tenho como uma das minhas prioridades fazer o Pelé, diferentemente do atual presidente, que dizia que ele estava inadimplente até há algum tempo atrás, ter catraca livre na Vila Belmiro e toda vez que ele for ao estádio acender o camarote dele, ter algum tipo de coroa. Pelé é um cara que deve ser preservado. Não vou colocar o Pelé para entregar pizza, porque aquilo foi ridículo [sobre ação de marketing]. Não sei quem teve aquela ideia... Foi na gestão Laor. Não entendi nada.

O programa de sócio-torcedor do Santos funciona?

O atual é muito ruim. O anterior era ruim, esse é pior ainda. O sócio-torcedor tem de receber benefícios. Não tem social ou voto à distância. É preciso dar alguns benefícios. Por exemplo: em jogos em São Paulo, o sócio que vier de Mogi Mirim vai ter uma pontuação, o cara que vier de Santos, terá outra, o cara que vem de outro Estado terá pontuação maior. A gente vai tentar ligar isso para dar maior incentivo para o torcedor vir e ter benefícios futuros. Precisamos usar várias ferramentas para trazer esse sócio e isso só acontece com parceiros. Claro que não vamos mudar tudo no mês seguinte porque não sei como é o contrato atual. É preciso analisar. Só porque o outro fez, não significa que gente vai romper imediatamente e criar um passivo grande, uma briga judicial sem sentido. Vamos sentar, fazer um acordo se for o caso. Vamos fazer o exemplo de um plano vencedor como o do nosso rival da Barra Funda (Palmeiras). Aquilo é um plano vencedor. Óbvio que o estádio ajuda. Eles têm um estádio que tem wifi, com estrutura boa. A gente pretende fazer uma melhoria boa nesse sentido no Pacaembu e na Vila Belmiro.

Digamos que o senhor seja eleito. Como gostaria de ser lembrado?

Como um bom presidente.

O que significa isso?

Campeão brasileiro com uma gestão boa e que deixou um legado para o próximo presidente, que tomara seja Walter Schalka, Celso Loducca ou Celso Jatene, por exemplo. Eu sou contra reeleição. Se fizer uma boa gestão, o presidente pode ficar, mas eu não vou ficar.

O senhor não vai tentar a reeleição?

Não.

O senhor é a favor do comitê de gestão?

Sou. É um comitê administrativo, só muda o nome. É que as pessoas que estiveram até hoje lá não souberam aproveitar. O Laor, com todos aqueles títulos que ganhou ficou deslumbrado e teve o famoso racha do pessoal de Santos e de São Paulo. Sou a favor, mas o estatuto precisa ser melhorado. Para mim, o melhor estatuto que existe hoje é o do Flamengo, que é o nosso melhorado em vários pontos. Nosso estatuto tem falhas. Quando a gente o fez era bem moderno, mas alguns pontos primordiais teriam de ser revistos. As pessoas confundem as coisas. O conselho fiscal tem de ser independente. Se eu for eleito, não vou nem participar de reunião do comitê de gestão. O presidente não tem de participar disso. O presidente vai lá para colocar medo, enquanto o legislativo foi feito para cobrar. Eles têm aquilo como uma estatal em que todo mundo faz o que quer. O cara entra na sala da presidência de bermuda e chinelo.

Já que o senhor conhece o balanço, a folha de pagamento do Santos é um problema? Não digo apenas no futebol. No geral.

É problema quando você não tem receita. O problema é ter 800 funcionários. Não é possível um clube que não tem sede social ter 800 funcionários. O Bayern de Munique, que é um exemplo, tem clube de futebol, sede social e 200 e poucos funcionários. Alguma coisa está errada. Isso foi uma das coisas que nos fizeram não nos unirmos a ninguém. A gente não está dando cargo ou cadeira para ninguém. Não vai ter indicação. Você não pode contratar porque é amigo do amigo. Esse conchavo não dá mais. O Santos tem de ser protagonista dessa mudança. O Santos sempre foi protagonista do futebol brasileiro. Nós precisamos arrumar a parte administrativa e a sorte dentro de campo. Esse cara (Modesto) teve sorte. Porque do jeito que ele comanda o Santos, era para ter caído. O amadorismo do Santos era para ter feito o time cair.


Endereço da página: