Um médico acusado de abuso sexual contra dezenas de jovens atletas quando atendia as equipes de ginástica dos Estados Unidos e da Universidade de Michigan se admitiu culpado de abuso sexual, na quarta-feira (22), diante do Tribunal do condado de Ingham, no Michigan. Ele deve ser sentenciado a pelo menos 25 anos de prisão.
O Dr. Lawrence Nassar, 54, foi formalmente acusado de abuso sexual contra sete meninas, a maioria das quais ginastas, mas também foi acusado de comportamento sexual inapropriado ou abusivo por mais de 130 outras mulheres e meninas, entre as quais Aly Raisman, McKayla Maroney e Gabby Douglas, três ganhadoras de medalhas de ouro olímpicas.
Em breve declaração na quarta-feira, Nassar afirmou que sua admissão de culpa permitiria que "a comunidade siga adiante, e o sofrimento cesse". "Oro a cada dia por perdão", ele disse.
A juiza Rosemarie Aquilina respondeu: "O senhor usou a posição de confiança que detinha da maneira mais vil, para abusar de crianças. Concordo em que é hora de que a cura comece, mas elas talvez necessitem de uma vida inteira para se curar, enquanto o senhor passará o resto de sua vida atrás das grades refletindo sobre o que fez ao lhes roubar suas infâncias".
Matthew Newburg e Shannon Smith, os advogados de Nassar, afirmaram em comunicado que "o acordo formalizado hoje foi negociado longamente com os promotores, e Larry Nassar colaborou muito com o processo. O acordo resolve todas as questões de conduta contra ele, tanto as incluídas quanto as não incluídas na acusação em curso, para os mais de 125 casos que estão sendo investigados pela procuradoria estadual do Michigan".
Durante a audiência, Raisman postou uma mensagem no Twitter descrevendo Nassar como "um monstro".
As meninas envolvidas no atual processo depuseram que Nassar abusou sexualmente delas, às vezes na presença de seus pais, quando estavam sendo tratadas por lesões esportivas. As queixas contra Nassar aparentemente começaram a surgir 20 anos atrás, mas a federação norte-americana de ginástica olímpica o demitiu apenas em 2015, que é a data em que a organização diz ter sido informada sobre os abusos.
"Ele convenceu aquelas meninas de que o que fazia era um tratamento legítimo", disse Angela Poviliatis, procuradora assistente da Justiça do Michigan, a um juiz, no ano passado. "Por que o questionariam? Por que questionariam aquele deus da ginástica?"
Raisman, que capitaneou as equipes de ginástica olímpica feminina que conquistaram medalhas de ouro para os Estados Unidos nas olimpíadas de Londres, em 2012, e do Rio, em 2016, vem sendo uma das críticas mais veementes de Nassar, e luta ferozmente para que as vítimas do caso sejam tratadas como tal, apesar de algumas críticas por terem esperado demais antes de denunciar os abusos.
| Valerie Macon - 7.mar.2016/AFP | ||
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| Aly Raisman posa para foto antes da disputa dos Jogos Olímpicos de 2016 |
"Por que estamos discutindo os motivos das meninas para não se pronunciarem?", ela declarou em entrevista ao programa "60 Minutes" este mês. "Por não estamos questionando, por exemplo, a cultura do esporte? O que a federação de ginástica norte-americana e o que Larry Nassar fizeram para manipular essas meninas e fazer com que tivessem tanto medo de falar?"
Depois da declaração de Raisman e de seu comentário subsequente, Douglas, que foi parte da equipe capitaneada por ela nas duas olimpíadas, tuitou uma citação de uma mensagem de Raisman sobre o abuso. O post de Douglas incluía um comentário dela, no qual dizia que "no entanto, é nossa responsabilidade como mulheres nos vestirmos modestamente e termos classe. Quem se veste de maneira provocadora/sexual atrai o público errado".
O comentário foi muito criticado como um ataque às vítimas, Simone Biles, vencedora do ouro na individual geral feminina da olimpíada de 2016, mostrou seu desapontamento ao tuitar que "me choca ler uma coisa dessas, mas não me surpreende".
Douglas tentou recuar quanto ao que havia dito, afirmando que foi mal interpretada e que nunca se deve atribuir culpa às vítimas. No seu esclarecimento ela revelou que também foi vítima de Nassar.
Maroney foi a primeira das ganhadoras do ouro olímpico a acusar Nassar publicamente, quando revelou detalhes sobre os abusos sofridos, em outubro, e Jamie Dantzcher, que conquistou uma medalha de bronze pelos Estados Unidos na olimpíada de 2000, era parte do grupo inicial de acusadoras de Nassar, no ano passado.
Embora a situação de Nassar no condado de Ingham pareça estar resolvida, ele enfrenta acusação semelhante no condado de Eaton, onde fica um clube de ginástica para atletas de elite. Ele também está esperando sentença por uma acusação federal de envolvimento com pornografia infantil, pela qual se admitiu culpado.
Tradução de PAULO MIGLIACCI