Muita bola vai rolar antes da Copa do Mundo de 2022, no Qatar, mas esse diminuto país árabe já colocou o time em campo na diplomacia.
Um dos indícios desses esforços é que Hassan al-Thawadi, secretário geral do comitê organizador do Mundial e um dos homens mais influentes do Qatar, tem intensificado sua agenda para promovê-lo internacionalmente.
Paira ao redor da primeira Copa em um país árabe uma série de controvérsias: de violações aos direitos dos operários dos estádios do torneio a críticas por investimentos em uma infraestrutura grande demais para a população local. Houve até acusações de corrupção em torno da candidatura qatariana.
O evento ainda pode ser prejudicado pela situação política. O Qatar está sob o embargo de seus vizinhos, incluindo a rival Arábia Saudita.
A reportagem assistiu em 31 de outubro a uma palestra de Thawadi na instituição cultural Casa Árabe, em Madri. Acompanhado por sua delegação, ele defendeu o evento, explicou seus planos e prometeu que os estádios estarão prontos a tempo -e terão uso após a Copa.
O Qatar tem apenas 2,5 milhões de habitantes, que dificilmente preencherão as arenas monumentais que ficarão como herança do Mundial. O estádio Khalifa, em Doha, por exemplo, terá capacidade para 40 mil pessoas.
"Quando apresentamos nossa candidatura, já sabíamos que a capacidade exigida pela Fifa não correspondia às nossas necessidades", Thawadi afirmou à Folha.
São raras as partidas com grande público no país, conhecido pela cultura do "majlis" -uma sala de estar em que os qatarianos se reúnem em longas visitas domésticas.
"É mais comum nos sentarmos no 'majlis' para assistir às partidas em casa, com os amigos [do que nos estádios]", reconhece Thawadi.
Por isso, algumas arenas terão arquibancadas provisórias, que serão removidas depois da Copa. Outras serão completamente reformuladas para outros propósitos.
O Qatar também planeja toda uma renovação de sua infraestrutura, incluindo criar três linhas de metrô para permitir que os torcedores possam assistir a duas partidas em um mesmo dia.
"A Copa acelerou todos esses projetos, mas eles já existiam", disse o organizador.
Jorquera/Casa Árabe/Divulgação | ||
Hassan Al-Thawadi, chefe do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2022 |
COPA ANTITERROR
O gigantismo dos investimentos faz parte do legado econômico e social que Thawadi promete ao país.
Esse costuma ser um tema controverso quando se trata de grandes campeonatos esportivos, como visto recentemente no Brasil com a Olimpíada de 2016 e a Copa de 2014 -obras que ele visitou.
Uma das teses de Thawadi é que os projetos vão impulsionar a economia e dar novas oportunidades aos jovens, servindo como uma espécie de vacina contra a radicalização e o terrorismo.
"É importante combatermos o contexto que fomenta o terrorismo", disse ele em Madri. "É mais fácil alguém que não tem um futuro pela frente desviar-se de seu caminho. Então, queremos garantir oportunidades de trabalho e
de educação, e o futebol pode ajudar nisso", afirmou.
O trabalho na construção dos estádios, no entanto, já rendeu algumas das críticas mais duras aos organizadores do Mundial de 2022.
Organizações humanitárias chegaram a acusar o país de usar trabalho forçado nas obras para as instalações.
"Todos os países têm problemas trabalhistas", afirmou Thawadi. "Mas estamos nos esforçando para adaptar nossa legislação, e ainda não terminamos", completou.