Folha de S. Paulo


ANÁLISE

O ex-desconhecido Carille dar certo foi bênção para o Corinthians

A derrota para o Vasco, no segundo turno do Brasileiro de 2010, marcou a estreia de Fábio Carille como técnico interino do Corinthians e, ao mesmo tempo, a sexta partida seguida sem vitória. Meio tonto, enquanto negociava a contratação de Tite, Andrés Sanchez foi questionado sobre a situação do treinador provisório. Ao ouvir o sobrenome, perguntou: "Carille? Quem é Carille?"

Nem a torcida do Corinthians sabia. O nome como se conhecia Fábio Luiz Carille de Araújo era Fábio. Ou Fábio Luiz, chamado assim quando chegou ao Corinthians, reserva de Sylvinho na primeira metade dos anos 1990.

Do histórico dele como jogador, Andrés também não sabia em 2009, quando Mano Menezes e seu assistente, Sídnei Lobo, levaram à presidência a reivindicação de contratar mais um auxiliar.

O então presidente vetou o nome de Carille e explicou a Mano Menezes a razão: queria alguém identificado com o Corinthians. "Nós então descobrimos que o Carille tinha sido lateral do clube e dissemos isso ao Andrés. Acabou-se o argumento contra a sua contratação", conta Mano.

Foi Sídnei Lobo quem trouxe o agora campeão brasileiro para o Corinthians. Eterno assistente do atual treinador do Cruzeiro, o ex-volante Sídnei jogou no Paraná com Fábio Luís. Quando precisou de um estágio, Carille procurou o ex-colega e amigo.

Foi assim que surgiu a chance de trabalhar no Parque São Jorge, onde havia sido júnior. De 2009, quando chegou, até 2017, efetivado depois de Reinaldo Rueda recusar o cargo no Corinthians, aprendeu a trabalhar no estilo alvinegro deste século. Seguro na defesa e preciso no ataque.

Com Mano e com Tite, era o responsável pelos treinos do setor defensivo. Era, não. É. "Eu continuo treinando", disse Carille antes do clássico contra o Palmeiras, sobre seu refinamento com o trabalho na parte de trás do campo.

O Corinthians joga em 25 metros quando não tem a bola. Com ela, expande o campo como fazem as equipes mais modernas. É compacto. Se o que se pede aos treinadores brasileiros é atualização, Carille atualiza-se.
Não é a primeira vez que uma geração de novos técnicos chega à elite. Na década de 1990, os campeonatos brasileiros foram vencidos por Luxemburgo, Paulo Autuori e Luiz Felipe Scolari por quatro anos consecutivos. Eram os sucessores da geração de Telê Santana, Rubens Minelli, Zagallo e Ênio Andrade.

Tite e Mano Menezes estão longe da aposentadoria, mas o Corinthians não pode haver um revezamento entre dois nomes pelos próximos dez anos. Carille dar certo é uma bênção para o clube.

Mas não é acaso. Seu sucesso repete a história de Oswaldo de Oliveira. Substituiu Luxemburgo quando este foi para a seleção, em 1999. Chamava-se Oswaldinho e falava baixo. Não resistiu. Foi substituído por Evaristo de Macedo, que fracassou. Ao retornar, pedia para ser chamado de Oswaldo. Levantou a voz, com educação e segurança.

No ano passado, interino, Carille comportava-se como Oswaldinho. Escolhido para ser o técnico em janeiro, comportou-se como o chefe. O cargo é seu. O título brasileiro também.

Distância corinthians

Distância para o 2º colocado - Em pontos

A CAMPANHA VITORIOSA - Até a 35ª rodada

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SETE JOGOS DO QUE VALERAM O HEPTA
Principais momentos da campanha corintiana

7 de junho - Vasco 2x5 Corinthians
Sem quatro jogadores titulares, o Corinthians mostra pela primeira vez a força do seu elenco ao vencer o Vasco por 5 a 2. Com o resultado, o clube assume pela 1ª vez a liderança

14 de junho - Corinthians 1x0 Cruzeiro

Ronny Santos/Folhapress

Time consegue a 6ª vitória consecutiva, a maior sequência positiva em um jogo em que foi dominado pelo rival no 2º tempo. De acordo com o técnico Carille, a equipe "soube sofrer".

25 de junho - Grêmio 0x1 Corinthians

Rodrigo Gazzanel/Ag. Corinthians/Divulgação

Com um ponto de vantagem sobre o Grêmio, o Corinthians vence fora de casa o que pode ser considerada a 1ª final deste Brasileiro. Paulo Roberto, que pouco havia jogado, é o destaque

12 de Julho - Palmeiras 0x2 Corinthians

Rubens Cavallari/Folhapress

A equipe marca bem e, com avanços precisos e rápidos, vence o seu maior rival por 2 a 0. Jadson e Arana mar- cam os gols, derrubando invencibilidade de 28 jogos do Palmeiras em casa

19 de agosto - Corinthians 0x1 Vitória
Corinthians sofre sua 1ª derrota e vê o fim de uma invencibilidade que durava 34 jogos. O resultado também mostra a dificuldade do time quando enfrenta times da parte de baixo da tabela

17 de setembro - Corinthians 1x0 Vasco
Após duas derrotas, o time vence o Vasco com um gol de mão do atacante Jô. No dia seguinte à partida, o presidente da CBF pede que se implemente o árbitro de vídeo, o que não acontece

5 de novembro - Corinthians 3x2 Palmeiras

Danilo Verpa/Folhapress

Após sequência ruim, Corinthians vê diferença para o vice-líder diminuir para 5 pontos. Mas, com vitória sobre o rival, time começa arrancada que resultaria no título Brasileiro


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