Folha de S. Paulo


Grupo hegemônico no Corinthians chega a dez anos e tenta ficar no poder

Eduardo Knapp - 20.fev.2013/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 20-02-2013 17h00:Para Segunda feira na FOLHA. Exclusivo. Entrevista exclusiva com Andres Sanchez (ex diretor de futebol na CBF) em bar no Paraiso. Andrez faz oposicao a Marin na CBF(Foto Eduardo Knapp/Folhapress.ESPORTES)
Andrés Sanchez, candidato a presidente, é o principal líder da Renovação e Transparência

Depois que o processo de impeachment do presidente Roberto de Andrade naufragou, em fevereiro deste ano, o deputado federal Andrés Sanchez (PT-SP) se reuniu com lideres da oposição no Corinthians. Pediu para que, em nome do clube, os ânimos se acalmassem.

Era uma tarefa difícil. Mas quem mais poderia fazê-la? Ex-presidente, responsável pela montagem da equipe que seria campeã mundial em 2012, referência na construção do Itaquerão, Sanchez é a face mais visível da "Renovação e Transparência", o grupo político que, neste mês, completou dez anos no comando do Corinthians. Mesmo relutante, ele anunciou nesta quarta (15) que será o candidato do movimento à presidência do Corinthians, em fevereiro de 2018. Se eleito, comandará o clube pela segunda vez. Já o havia feito entre 2007 e 2011.

Ele não teve sucesso em pacificar o Parque São Jorge porque não conseguiu sequer manter a ordem em seu grupo, que se dividiu em dissidências. Ao se licenciar da presidência no final de 2011, deixou o poder de forma interina para Roberto de Andrade e depois apoiou a eleição de Mario Gobbi. Em 2015, foi um dos fiadores da candidatura de Andrade. Com o passar do tempo, teve relação ruim com ambos.

Pessoas próximas a Sanchez disseram à Folha que no início do ano, ele não foi recebido por Roberto de Andrade no Parque São Jorge, quando tentou conversar com o atual presidente sobre os problemas do clube. Ameaçado pelo impeachment, Andrade foi ao encontro do líder político pedir apoio e foi atendido.

Sanchez adiou a decisão sobre a candidatura enquanto pôde. Decidiu colocar a campanha na rua para manter a "Renovação e Transparência" no poder.

"O grupo pediu para o Andrés se candidatar porque o clube passa por um momento administrativo complicado", afirma o atual vice-presidente André Luiz de Oliveira, conhecido no Parque São Jorge como André Negão, aliado de todas as horas de Sanchez.

A disputa pelo poder interno dividiu o grupo. Um exemplo foi a criação do "Corinthians Grande", movimento composto por Sergio Alvarenga, Fernando Alba e Felipe Ezebella, todos ex-integrantes da "Renovação e Transparência".Ezebella será candidato a presidente.

"A grande questão é que ao chegar aos dez anos hoje em dia, eles [integrantes do grupo que comanda o Corinthians] vivem um momento diferente. Nitidamente há um quadro de esgotamento da capacidade de resolver os problemas do clube. Mesmo tendo realizado coisas boas e essas precisam ser reconhecidas, a coisa mais complicada foi a ausência de transparência nas contas e na gestão", afirma Antônio Roque Citadini, um dos candidatos da oposição no pleito marcado para fevereiro de 2018.

Citadini contesta a "transparência". Mas a "renovação" também pode ser discutida e não apenas por ser usada por um grupo que já está no poder há uma década. Dos possíveis candidatos à Presidência, quatro foram integrantes da diretoria em pelo menos parte dos 14 anos em que Alberto Dualib foi presidente (entre 1993 e 2007): Andrés Sanchez, Paulo Garcia, Antonio Roque Citadini e Romeu Tuma Júnior. Osmar Stabile também é candidato. Há possibilidade de alianças até o pleito.

"Acho que é incontestável que existem dois Corinthians. Um antes e um depois da 'Renovação e Transparência'. Foi um período em que o Corinthians ganhou destaque no cenário mundial. Existem problemas, claro, mas no geral o Corinthians está muito melhor. O Corinthians precisa muito mais do Andrés do que o Andrés precisa do Corinthians", afirma Sergio Janikian, diretor de futebol em 2015, na administração de Roberto de Andrade, e que também se afastou do grupo político que domina o Parque São Jorge há uma década.

Davi Ribeiro/Folhapress
SÃO PAULO, SP - 07/02/2014: Eleição para presidente do Corinthians elegeu o candidato da chpa 10, Roberto de Andrade( de óculos). - (Foto: Davi Ribeiro / Folhapress ESPORTES) ORG XMIT: 10035836A
Roberto de Andrade é o atual presidente do Corinthians, apoiado por Andrés Sanchez

Nem todos concordam com essa visão.

"Eles traíram a confiança do associado quando pregaram a renovação e a transparência. O que menos se viu no Corinthians nesses dez anos foi sinal de renovação, principalmente nos métodos, e menos ainda transparência. É tudo nebuloso. Eles agem como se tivessem descoberto o Corinthians", reclama Romeu Tuma Júnior, candidato à presidência pela oposição.

PELA UNIÃO

"Relutei um pouco, mas decidi aceitar o desafio. A gente tem de fazer uma opção na vida e eu fiz a minha. Por isso que vou me licenciar na Câmara [dos Deputados] para me dedicar ao clube. O Corinthians é uma paixão", disse Andrés.

Dentro de campo, foram dez títulos conquistados. A média é de um troféu por ano. A partir de 2007 (quando aconteceu o rebaixamento para a segunda divisão), o Corinthians venceu a Série B (2008), Paulista (2009, 2013 e 2017), Copa do Brasil (2009), Brasileiro (2011 e 2015), Libertadores e Mundial (ambos em 2012).

A situação é diferente fora dos gramados. A conta da construção do estádio se tornou impagável e há conselheiros que defendem uma ação do clube na Justiça contra a Odebrecht, alegando que os valores da obra saíram de controle e que a arena não está terminada, algo que a construtora nega. Sanchez afirma já ter conversado com pessoas da Odebrecht para solucionar a questão.

Conselheiros ouvidos pela Folha acreditam que a situação pode chegar a um ponto de impasse se nada for feito nos próximos meses. O Corinthians não terá condições de arcar com os pagamentos e a Caixa Econômica Federal, credora dos empréstimos, não terá coragem de arcar com o custo político de tirar o estádio de um dos clubes de maior torcida do país por falta de pagamento. Ainda pesa sobre Sanchez a promessa não cumprida, feita em 2013, de vender os naming rights do Itaquerão por R$ 400 milhões.

A habilidade política dos integrantes da "Renovação e Transparência" será colocada à prova na eleição porque será o primeiro pleito em que chapas poderão concorrer sem estarem ligadas a um candidato à presidência e com apenas 25 nomes para o conselho deliberativo. Até 2015, era preciso uma lista com 100. Isso deverá fracionar a votação, obrigar os grupos políticos a fazerem alianças mais amplas e lidarem com interesses mais diversos.

"São dez anos em que o Corinthians passou a ter estádio, CT, conquistou Libertadores, Mundial... Foi um crescimento absurdo", completa Janikian.

Pelo currículo, pela história no clube e por ter a máquina da Renovação e Transparência, Andrés Sanchez é o favorito para ser eleito presidente.

"O clube não é banco. O clube não tem de dar banco.


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