Folha de S. Paulo


Despedida de Massa deixa Brasil sem piloto em Interlagos pela primeira vez

No momento em que o único piloto do país na categoria cruzou a linha de chegada, por volta das 15h36 deste domingo (12), iniciou-se um hiato sem prazo para terminar.

Foi quando Felipe Massa, 36, o mais bem-sucedido representante nacional na F-1 nos últimos dez anos, concluiu a participação no 14º e último GP Brasil de sua carreira -ele ainda disputará a etapa de Abu Dhabi, no próximo dia 26.

O sétimo lugar obtido foi celebrado, mas não pôde esconder uma verdade implacável.

Em 2018, pela primeira vez em quase meio século, o Brasil não terá qualquer representante na mais importante categoria do automobilismo.

O país mantinha pilotos no grid do campeonato consecutivamente desde 1970 –como passou a ser disputado em 1972, o GP Brasil nunca deixou de ver um piloto brasileiro.

Nas décadas seguintes, instituiu-se como referência nas pistas com oito títulos mundiais, arrebatados por Emerson Fittipaldi (2), Nelson Piquet (3) e Ayrton Senna (3).

Embora o último troféu date de 1991, com Senna, nos anos seguintes Rubens Barrichello e Massa amealharam vitórias e boas posições no Mundial. Coube a Massa o último grande momento, com o vice-campeonato em 2008.

O quinteto e José Carlos Pace, que dá nome ao autódromo de Interlagos, obtiveram 101 vitórias na categoria, o que faz do Brasil o terceiro maior vencedor, atrás de Reino Unido (266) e Alemanha (173).

"Será muito triste não ver um piloto do Brasil no grid", afirmou Fittipaldi.

Para ele, o maior problema reside na falta de apoio aos talentos brasileiros que estão no kart e precisam de investimento para chegar às categorias mais cobiçadas, como a F-1.

"O automobilismo nacional acaba meio abandonado. Agora, estamos pagando o preço. A falta de pilotos na F-1 vai afetar e dar uma esfriada no interesse pelo esporte", disse.

ROTINA DE ADEUS

Os efeitos, porém, ainda não foram sentidos. Neste domingo (12), ao chegar ao autódromo, por volta das 10h, Massa foi celebrado qual em um pódio simbólico. Ao descer do veículo que o deixou no circuito, foi abordado por mais de 30 pessoas que cantavam "olê, olê, olê, olá, Massa, Massa".

Era como um déjà vu do ano passado, quando o piloto chegou a despedir-se do público e se declarar aposentado, mas foi demovido após convite da Williams.

Depois da recepção calorosa, a comoção continuou no paddock. A cada metro, Massa era interpelado por transeuntes que lhe pediam fotos, autógrafos ou um abraço.

Os pais, Titônio e Ana Elena, o irmão, Dudu, a mulher, Raffaela, e o filho, Felipinho, quase sempre ficaram a tiracolo. No vaivém dos compromissos entre o box e o setor de hospitality da Williams, às 11h45 entrou ao vivo com Galvão Bueno em um programa da Globo, no qual recordou momentos de seus 15 anos e 271 corridas de carreira na F-1.

Em sua trajetória na categoria, Massa obteve 11 vitórias, todas elas pela Ferrari, escuderia onde teve mais sucesso –foi vice-campeão mundial há nove anos, e além dela defendeu a Sauber e a Williams.

Com elas, conseguiu 16 pole positions e 41 pódios.

Quando enfim se livrou dos pedidos, o piloto foi para pista. Ao contrário do ano passado, quando abandonou a corrida após acidente, ganhou quatro posições na largada e pulou de nono para quinto.

Ultrapassado por Lewis Hamilton na 21ª volta, caiu para sexto. Depois, perdeu uma posição para Daniel Ricciardo. Terminou sua jornada com a melhor posição possível dada a superioridade das duplas de Mercedes, Ferrari e Red Bull.

Como se quisesse deixar a imagem do país fincada na pista que não verá representantes em 2018, empunhou uma bandeira verde antes de estacionar no pit lane. Ainda no rádio da Williams, não conteve emoção nem palavrão.

"Aê, porra. Vamo, porra."

Também via rádio, ouviu mensagem do filho: "pai, eu estou muito orgulhoso de você". Ao deixar o carro, Massa agradeceu ao público, abraçou mecânicos e engenheiros e distribuiu beijos ao ar.

"Valeu uma vitória para mim, pela emoção da torcida, nunca vou esquecer. Eu vou sentir muita falta. A emoção foi imensa, e esse é um dia que nunca vou esquecer na minha vida", concluiu.


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