Folha de S. Paulo


Ex-presidente da CBF, Marin será julgado a partir de hoje nos EUA

José Maria Marin, 85, o ex-presidente da CBF acusado de crimes financeiros no escândalo de corrupção da Fifa, verá uma paisagem diferente de Nova York a partir de agora.

Em prisão domiciliar desde maio do ano passado em seu apartamento na Trump Tower, um dos arranha-céus mais luxuosos da cidade no coração de Manhattan, o cartola começa a ser julgado nesta semana no Brooklyn, tendo de ir até a corte do bairro do outro lado da cidade.

Marin, Manuel Burga, chefe do futebol peruano, e Juan Ángel Napout, ex-presidente da Conmebol e ex-vice-presidente da Fifa, são os únicos dos 42 réus do caso nos Estados Unidos que se declararam inocentes das acusações de extorsão, fraude e lavagem de dinheiro, sendo que os demais se assumiram culpados.

Nas últimas semanas, foram condenados Hector Trujillo, ex-juiz e chefe da federação guatemalteca de futebol, e Costa Takkas, ex-secretário-geral da Associação de Futebol das Ilhas Caymã e ex-assessor da presidência da Concacaf -esses réus foram os dois primeiros sentenciados pela juíza Pamela Chen.

Marin é acusado de ter recebido propinas para conceder contratos na CBF para a Copa do Brasil, Copa América e Copa Libertadores. Ele foi preso em Zurique há dois anos, junto de outros seis cartolas, e extraditado para os
Estados Unidos a pedido da Justiça americana, que conduz a investigação sobre corrupção na direção do futebol.

Na primeira semana do julgamento, que deve durar um mês e meio, serão escolhidos 12 jurados e seis suplentes. Tanto a acusação quanto a defesa podem vetar eventuais jurados que possam ter algum viés sobre o caso, um processo que deve levar até pelo menos 10 de novembro.

Seus nomes não serão conhecidos e eles serão escoltados de suas casas até a corte pela polícia, permanecendo incomunicáveis durante todo o processo, o que a Justiça americana chama de "júri parcialmente sequestrado".

O pedido de manter secreta a identidade dos jurados -nem os advogados saberão seus nomes e terão de se referir a eles por um número- partiu da Justiça americana, que argumentou que os "interesses econômicos e penais em jogo resultaram em tentativas de obstruir a Justiça e impedir informação de chegar ao governo e ao público".

Os advogados de Marin, que em Nova York é defendido por Chales Stillman da firma Ballard Spahr, um dos maiores especialistas dos EUA em crimes de colarinho branco, entraram com recurso para derrubar a ordem, mas a decisão foi mantida.

No processo de seleção dos jurados, tanto a acusação quanto a defesa pode questionar os potenciais membros do júri. Centenas deles vão se apresentar no tribunal do Brooklyn nesta semana e responder questionários que depois serão analisados pelos procuradores e advogados.

Testemunhas começam a ser ouvidas a partir de 13 de novembro. Seus nomes também são mantidos em sigilo -procuradores do caso afirmam que por causa da dimensão do caso e do poder dos réus em seus países elas podem sofrer intimidação.

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30 MESES DEPOIS
O que aconteceu com os dirigentes presos na Suíça

Jeffrey Webb
ex-presidente da Concacaf

> Acusado de receber propina na venda de direitos comerciais de campeonatos da Concacaf. Indiciado por conspiração para extorsão, conspiração para fraude financeira e conspiração para lavagem de dinheiro
> Declarou-se culpado e concordou em devolver US$ 6,7 milhões
> Já foi julgado. Sentença será anunciada em 24 de janeiro de 2018

Eduardo Li
ex-presidente da federação da Costa Rica

> Acusado de receber propina na venda de direitos comerciais das eliminatórias da Copa. Indiciado por conspiração para extorsão, fraude financeira e conspiração para fraude financeira
> Declarou-se culpado e devolveu US$ 668 mil
> Já foi julgado. Data de anúncio da sentença será definida

Eugenio Figueredo
ex-presidente da Conmebol

> Foi acusado pela Justiça americana de receber propina na venda de direitos da Copa América. Indiciado por conspiração para extorsão, fraude financeira, e lavagem de dinheiro, aquisição ilícita de naturalização e auxílio na elaboração fraude fiscal
> Fez acordo de delação com a Justiça uruguaia e foi extraditado para o país. Ficou detido até abril de 2016, hoje aguarda julgamento em prisão domiciliar

Rafael Esquivel
ex-presidente da federação da Venezuela

> Acusado de receber propina na venda de direitos comerciais da Copa América. Indiciado por conspiração para extorsão, fraude financeira e lavagem de dinheiro
> Declarou-se culpado e concordou em devolver US$ 16 milhões
> Já foi julgado. Data de anuncio da sentença ainda será definida pela Justiça americana

Julio Rocha
ex-presidente da federação da Nicarágua

> Acusado de levar propina na venda de direitos comerciais das eliminatórias da Copa do Mundo. Indiciado por conspiração para extorção e conspiração para fraude financeira
> Declarou-se culpado e concordou em devolver US$ 292 mil
> Já julgado. Data de anúncio da sentença será definida

Costas Takkas
ex-assessor da presidência da Concacaf

> Acusado de ter facilitado pagamento de propina para Jeffrey Webb na venda de direitos comerciais das eliminatórias da Copa do Mundo. Indiciado por conspiração para lavagem de dinheiro
> Declarou-se culpado
> Foi condenado na última terça (31) a 15 meses de prisão

José Maria Marin
ex-presidente da CBF

> Acusado de receber propina na venda de direitos comerciais da Copa América, Libertadores e da Copa do Brasil. Indiciado por conspiração para extorsão, conspiração para fraude financeira e conspiração para lavagem de dinheiro
> Declarou-se inocente
> Julgamento começa nesta segunda (6)

Também se declararam inocentes de todas as acusações:

Manuel Burga
ex-presidente da federação peruana

> Acusado de receber propina na venda de direitos comerciais da Libertadores, Copa América e outros torneios da Conmebol. Indiciado por conspiração para extorsão, fraude financeira e lavagem de dinheiro
> Declarou-se inocente
> Julgamento começa nesta segunda (6)

Juan Ángel Napout
ex-presidente da Conmebol

> Acusado de receber propina na venda de direitos comerciais da Libertadores, Copa América e outros torneios da Conmebol. Foi indiciado por conspiração para extorsão, conspiração para fraude financeira e conspiração para lavagem de dinheiro
> Declarou-se inocente
> Julgamento começa nesta segunda (6)

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LINHA DO TEMPO
Caso Marin

27.mai.2015
Operação conjunta de autoridades dos EUA e da Suíça prende Marin em Zurique, antes de congresso da Fifa. Ele e dez acusados de corrupção são banidos pela federação

3.nov.2015
Após cinco meses de cárcere na Suíça, Marin é extraditado para os EUA. Em Nova York, Justiça determina o valor da fiança (US$ 15 milhões) e ele passa a cumprir prisão domiciliar na cidade

Brendan McDermid/Reuters
O ex-presidente da CBF José Maria Marin chega aos EUA após ser extraditado
O ex-presidente da CBF José Maria Marin chega aos EUA após ser extraditado

3.dez.2015
O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e o ex-presidente da entidade, Ricardo Teixeira, são indiciados pela Justiça dos EUA, acusados de corrupção

26.abr.2016
Justiça dos EUA autoriza Marin a sair de casa para passeios de até quatro horas, um dia na semana. Antes, só podia sair seguido de segurança para se encontrar com advogados, participar de audiências, ir ao mercado ou à igreja

Camila Svenson/Folhapress
José Maria Marin, que cumpre prisão domiciliar em Nova York, vai à missana St. Patrick's Cathedral
José Maria Marin, que cumpre prisão domiciliar em Nova York, vai à missana St. Patrick's Cathedral

3.nov.2016
Marin é autorizado a sair de casa até sete vezes por semana, num raio de 3,2 km

21.fev.2017
Cartola tem recurso recusado pela Justiça dos EUA. Ele tentava anular a acusação de formação de quadrilha

18.out.2017
Pamela K. Chen, juíza do caso nos EUA, aceita pedido da procuradoria, que solicitou proteção ao júri que julgará a denúncia contra Marin. Membros não terão nomes divulgados e ficarão isolados durante o julgamento

Segunda (6)
Começa o julgamento de Marin. Primeira fase será de seleção dos jurados. Doze pessoas serão selecionadas em conjunto pela defesa e pela acusação em uma lista de quase 200

13.nov.2017
Após seleção dos jurados, serão ouvidas as testemunhas de defesa e acusação

Dez.2017
Começa fase de análise das provas

Jan.2018 a mar.2018
Data prevista para a divulgação da sentença


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