Folha de S. Paulo


'Vou tentar até o último momento uma vaga na Copa', diz Hernanes

Rubens Chiri/Reprodução/saopaulofc.net
Histórico: elenco finaliza preparação nos braços da torcida!Neste sábado (26) torcedores são-paulinos incentivaram o time antes do clássico contra o PalmeirasHernanes --- http://www.saopaulofc.net/noticias/noticias/treino/2017/8/26/historico-elenco-finaliza-preparacao-nos-bracos-da-torcida!/
O meia Hernanes durante treino do São Paulo no Morumbi

A recuperação do São Paulo no Brasileirão se deve muito a Hernanes, que está emprestado pelo chinês Hebei Fortune até o fim de julho de 2018. Nesta segunda passagem no clube, o meia soma oito gols em 15 jogos, além de três assistências, sendo duas contra o Santos.

O jogador afirma que está se sentindo muito bem. Quando chegou, no final julho, ele tinha dores na parte posterior das duas coxas. Hoje, elas sumiram e ele desfruta de um ótimo momento na carreira.

"Eu estou começando a sentir prazer no futebol agora. Sempre fiz muita força para poder jogar em alto nível. Há três maneiras de você encarar teu trabalho: com amadorismo, com profissionalismo e com paixão. Neste momento, sou apaixonado".

Com pouco mais de oito meses para a Copa do Mundo da Rússia, Hernanes espera chamar a atenção de Tite e ganhar uma oportunidade.

"Tenho dois objetivos só agora: terminar esse Brasileiro bem em dezembro e tentar até o último momento uma vaga para a Copa. Acredito que uns 13, 14 jogadores que, se correr tudo bem, já estão garantidos. O resto, ainda não", comenta.

Dono da marca de vinhos Ca'del Profeta, na Itália, onde mora a família, Hernanes explica o motivo de o São Paulo jogar melhor quando enfrenta times da parte de cima da tabela. "Quando você tem um estímulo de um jogo importante, é muito mais fácil. Porque você sabe, tem responsabilidade, tem o peso, não pode errar. Tem aquela tensão que te ajuda."

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Agora - O São Paulo precisava mais do Hernanes ou o Hernanes precisava mais do São Paulo?
Hernanes - As duas coisas. Desde julho de 2016, quando eu me apresentei na Juventus para a pré-temporada na Austrália, eu sentia dores na parte de trás das duas pernas. Começou a temporada, fui para a China e aquela dor me incomodando muito. Eu pensava 'será que é a idade já?'. Cheguei aqui, o departamento médico fez testes e descobrimos que eu estava com um déficit de força. Os fisioterapeutas me passaram exercícios e a dor desapareceu, sumiu. Eles souberam identificar e corrigir uma disfunção. Então, eu precisava do São Paulo também.

Imaginava que teria números tão bons neste retorno?
Não imaginava. Eu não coloquei nenhum objetivo de fazer tantos gols, aconteceu naturalmente devido a eu realmente estar consciente das minhas qualidades e aproveitando da melhor forma possível. A China foi importante porque eu pensei: 'me faltam mais uns cinco, sete anos, se tudo der certo, para continuar jogando. Daqui para frente eu quero aproveitar aquilo que de melhor eu sei fazer'. Não vou ser radical e dizer que não jogo, mas vou fazer de tudo e deixar claro para o treinador que minha posição é aquela, onde eu rendo melhor. E minha qualidade maior é finalização, chutar para o gol, fazer jogadas ofensivas. Vou, daqui para frente, utilizar isso aqui.

Sem seus gols, o clube estaria em situação delicada...
Difícil dizer. E se não tivesse vindo, como o São Paulo estaria?. Talvez teria aparecido alguém que fizesse minha função, ou não. Foi um momento que eu precisava do São Paulo, o clube foi me buscar, mas ainda não deu certo totalmente, estamos em um processo. Ainda temos de fazer mais. Esses números não querem dizer nada ainda.

Seu contrato de empréstimo termina em julho. Ainda está cedo, mas você quer continuar no São Paulo?
Tenho dois objetivos só agora: terminar esse Brasileiro bem em dezembro, com a consciência de que colocamos o São Paulo em uma situação de estabilidade, longe desse caos que a gente passou. E tentar até o último momento uma vaga para a Copa do Mundo. Depois eu repenso a minha vida. Mas meus objetivos são bem claros. O que vier será consequência do que estou fazendo aqui no momento.

Você disse que queria voltar a jogar em alto nível. Já se sente assim?
O mais importante é manter o nível de atuação, porque a minha função é dar suporte ao ataque, com passes, finalizações e assistências. Mas ao mesmo tempo ajudar na fase de construção das jogadas, na organização e não é simples. Requer muita concentração, muita energia. Eu olho as estatísticas e tenho errado pouco, isso está sendo legal. Não tenho tomado dribles, estou muito concentrado. Se eu conseguir manter esse nível de concentração e consistência, a tendência é sempre aumentar a cada jogo, vão aparecendo coisas novas.

A torcida já sonha com uma parceria entre Hernanes e Kaká no ano que vem. O que você acha disso?
Seria possível, se ele viesse seria muito bacana. Jogamos poucas vezes, só na seleção jogamos juntos, uma, duas vezes. Ele é um grande jogador, uma grande pessoa, um grande profissional. Seria um prazer e muito bom para nós, para o grupo e para o torcedor.

Você disse que tem mais uns cinco, sete anos em atividade. O Kaká, três anos mais velho que você, disse que não tem mais tanto prazer em jogar. E você?
Para mim é o contrário. Estou começando a sentir prazer no futebol agora. Sempre fiz muita força para ser o jogador que eu queria, fazer aquilo que eu acreditava. Sempre foi muito labutante, muito trabalho, muito sofrimento. Hoje não. Descobri o que eu preciso fazer, o que não posso fazer. Hoje começo realmente a sentir muito prazer em jogar futebol, não é só profissão.

Por que o São Paulo joga melhor contra times da parte de cima da tabela?
A coisa que exige mais energia do cérebro é se concentrar. Quando você tem um estímulo de um jogo importante, é muito mais fácil. Porque você sabe, tem responsabilidade, tem o peso, não pode errar. Tem aquela tensão que te ajuda. Às vezes, quando o jogo parece que não tem perigo, aí que é o problema. É quando você tem de amadurecer e saber que são esses os jogos mais importantes. Se não se concentra, não consegue produzir e performar no seu melhor, é até fisiológico. Aí que eu falo de maturidade: em todos os jogos você tem de conseguir encontrar o caminho de se concentrar.

O que a China te ensinou?
Foi um tempo muito bacana, porque eu fiquei sozinho, estava sem minha família e não tinha amigos. Joguei seis jogos e depois não joguei mais. Comecei a refletir e me ensinou algo muito importante: que eu tinha de retomar um foco na minha situação, senão eu não conseguiria alcançar os objetivos que eu ainda tinha no futebol. Eu tive de me esforçar muito e eliminar distrações. Teve uma hora que falei 'estou cansado de ser ruim'. Cansado de treinar, querer fazer alguma coisa e não conseguir. Por estar em uma situação que você está sem jogar, você fica desmotivado, sem inspiração. Você acaba se distraindo. Sem foco você não dá conta de fazer até as coisas mais simples. Mas quando teu foco é consistente, você consegue fazer coisas que nem mesmo você acreditava que fosse capaz.

Por que a equipe tem oscilado tanto neste campeonato?
É reflexo de um processo. As coisas não acontecem do nada, de uma hora para a outra. Como nós fazemos as coisas na vida, no futebol? A gente planeja, se prepara para executar e quando vamos executar às vezes não sai do jeito que a gente espera. Então a gente tem de corrigir, para na próxima vez tentar acertar. Esse processo tem de ser incansável até você atingir os objetivos. Tentamos algumas vezes, não conseguimos, mas estamos amadurecendo.

Com tantas saídas de jogadores, mudança na diretoria, parece que o São Paulo está vivendo duas temporadas em uma?
Parece realmente como a cidade de São Paulo: você não sabe se é verão, se é inverno, primavera. Faz calor, faz frio, aqui está assim. As estações aqui estão mudando muito rapidamente. Tomara que a gente viva esse último período com um pouco mais de certezas, de tranquilidade para trabalhar. Tudo faz parte de um processo. É difícil recompor o elenco rapidamente e ter entrosamento no meio da competição. Por que vendeu? Vendeu, não sei bem os motivos, mas pelo que me parece o São Paulo passava por um período de instabilidade econômica, politicamente também mudou. Essa desestabilização que aconteceu anos atrás que vai desencadear agora. Aí tem de vender jogadores para cobrir. São várias coisas que aconteceram não só no elenco em si, mas em todos os setores.

Consegue profetizar em qual posição o clube vai terminar o campeonato?
Não, não. Nosso objetivo é chegar a 47 pontos. A gente tem de colocar objetivos na vida e ir passo a passo. Então, no momento que a gente está, o objetivo é 47 pontos e basta. Depois pensamos nos próximos passos.


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