Radha Kumari nasceu em uma vila rural no Estado de Jharkhand, no leste da Índia, onde seis a cada dez meninas deixam a escola para casar. Hoje, com 15 anos, Radha orgulha-se de não fazer mais parte dessa estatística, mudança que atribui ao futebol.
Aos 13, ela começou a participar de treinos oferecidos pela Yuwa, uma ONG que luta contra o casamento infantil por meio de aulas de inglês e futebol para meninas.
"Antes eu pensava apenas em me casar, como todo mundo ao meu redor. Agora eu tenho planos e sonhos, quero ser engenheira mecânica", diz, em um inglês impecável.
Segundo o americano Franz Gastler, fundador da Yuwa, a maioria dessas meninas nunca teve chance de jogar e de se dedicar aos estudos. "Elas não entraram no futebol para mudar seu futuro, mas para jogar. No meio do processo, porém, elas começam a se questionar", diz.
Em um país que ainda sofre os efeitos da hierarquização e estigmas sociais impostos pelas castas, o futebol, por ser um jogo coletivo, sem restrições de gênero, castas ou classe social, abre as portas para uma nova realidade.
A ONG também faz visitas periódicas aos pais para falar sobre a importância de permitir às crianças tempo para estudar e jogar futebol.
O brasileiro Clebson Duarte, que trabalha como técnico na Índia há seis anos, também relata a importância do futebol para desfazer estigmas das castas.
"Eu dizia para eles: 'Aqui todo mundo é igual para mim. Não tem casta, não tem religião, não tem diferença se é menino ou menina'".
Durante quatro anos, ele trabalhou como voluntário dando aulas para os Dalits, a casta mais baixa no país.