Folha de S. Paulo


Pivô de caso que levou cartolas da Rio-16 à prisão vive com luxo no Senegal

Jane Hahn/The New York Times
Papa Massata Diack, 52, a sports official, at home in Dakar, Senegal, Oct. 11, 2017. Prosecutors claim Diack was involved in a vote-buying scheme in competitions to host major sporting events like the Olympics. (Jane Hahn/The New York Times) ORG XMIT: XNYT5 DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM
Papa Massata Diack no hotel Pullman Teranga, em Dacar, no Senegal

Papa Massata Diack, dirigente acusado de participar de um dos maiores esquemas de corrupção já operados no esporte mundial, é figura conhecida em alguns dos mais luxuosos hotéis do Senegal. Antes de chegar ao fim do saguão do Pullman Teranga, na semana passada, ele foi cumprimentado por meia dúzia de pessoas.

Usando trajes típicos brancos, como costuma, Diack, 52, se acomodou a uma mesa de canto, com vista para o Atlântico. Sua irmã, Awa, carregava uma mochila preta repleta de documentos que Diack compilou para se defender.

Filho de Lamine Diack, ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo, Papa Diack é pivô de um inquérito cada vez mais amplo sobre corrupção, que atinge quatro continentes. Procuradores dizem que ele passou anos lubrificando transações por meio de propinas, na obscura interseção entre esporte, política e negócios.

Afirmam que ele esteve envolvido em um esquema para encobrir falhas em testes de doping e que intermediou compras de votos nas disputas para escolher as sedes de grandes eventos esportivos.

Mais recentemente, as ligações com os Diack resultaram na prisão de Carlos Arthur Nuzman, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), em meio a suspeitas de que a candidatura do Rio de Janeiro para sediar a Olimpíada de 2016 tenha sido ajudada por um pagamento de US$ 2 milhões (R$ 6,3 milhões) a Papa Diack.

Ele atuou como intermediário de seu pai, que teria garantido votos de outros membros africanos do Comitê Olímpico Internacional (COI).

As acusações criminais contra ele são tão numerosas e variadas que Diack sugeriu um plano para a entrevista: Awa tomaria notas sobre a conversa e, mais tarde, apanharia documentos relevantes do arquivo, entre os quais diversas reportagens. O arquivo não para de crescer.

"Essa é a maior mentira do mundo do esporte", disse Diack, procurado pela polícia da França. "Entendo que eu esteja sendo acusado, mas jamais foi provado que essas coisas começaram em mim."

Em três horas, descreveu as acusações contra ele como frutos do racismo e da inveja.

"Dizem que Lamine e seu filho estão envolvidos em trapaças. Depois de 22 meses de investigação, onde estão as provas?", disse. "Só reportagens na mídia. Se tivessem provas, teriam ido à Justiça."

"É problemático que um homem negro, da África, tenha tanto sucesso depois de 16 anos à frente da Federação Internacional de Atletismo."

No caso da Rio-16, as provas incluem transferências de dinheiro e e-mails.

Investigadores franceses identificaram pagamentos de US$ 2 milhões de um empresário brasileiro a contas bancárias controladas por Diack, na época em que o Rio foi escolhido para sediar a Olimpíada. No dia da votação, Diack transferiu US$ 300 mil (R$ 950 mil) a Frankie Fredericks, antigo velocista da Namíbia e astro em ascensão no movimento olímpico – coincidentemente, um dos três fiscais da votação.

Diack disse que o depósito era apenas uma coincidência infeliz. Os brasileiros fizeram o pagamento como patrocínio a uma nova prova de revezamento criada pela Aifa, e Diack serve como consultor de marketing da organização.

A afirmação contrasta com as declarações de Maria Celeste Pedrosa, secretária de Nuzman. Em depoimento, ela disse que o dinheiro era destinado à construção de pistas de atletismo na África, e que questionou por que o depósito deveria ser feito em uma conta de Diack na Rússia.

O pagamento a Fredericks se relacionava a uma dívida por um trabalho conduzido para patrocinadores de eventos de atletismo. Há uma investigação contra Fredericks.

A prova de revezamento que os brasileiros teriam patrocinado jamais foi realizada.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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