Folha de S. Paulo


O nível do Campeonato Brasileiro não é tão bom, diz Renato Gaúcho

Com a experiência de quase 20 anos como jogador e outras duas décadas como treinador, o técnico do Grêmio, Renato Gaúcho, 55, é enfático ao afirmar: "temos poucos craques atualmente e o nível técnico do Campeonato Brasileiro não é tão bom".

"É só olhar a tabela de classificação. Temos sete times que dispararam e brigam por algo relevante no Brasileiro, enquanto o resto luta para não cair. Essa é a maior prova que o nível técnico não é tão bom. O correto seria cinco ou seis times brigando para não cair", disse Renato.

O Grêmio é uma das equipes que lutam pelo título, apesar de o treinador considerar a situação difícil em razão da diferença de pontos para o líder Corinthians (58 a 49), rival desta quarta-feira (18), às 21h45, no Itaquerão.

"É a nossa grande chance de continuar na briga pelo título. Temos que fazer a nossa parte e depois ver o que acontece. Se o Corinthians vencer, abre 12 pontos faltando nove rodadas e aí será muito difícil de tirar a diferença porque ainda estamos na Libertadores", afirmou.

Vice-líder do Brasileiro, o Grêmio foi semifinalista da Copa do Brasil —perdeu para o campeão Cruzeiro nos pênaltis— e está na semifinal da Libertadores, o "grande objetivo do clube em 2017", onde enfrenta o Barcelona do Equador.

Em entrevista à Folha, ele disse também que tem o desejo de comandar a seleção e não se vê como treinador de uma equipe fora do país.

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Folha - O jogo contra o Corinthians é determinante para o Grêmio pensar em título?
Renato Gaúcho - É nossa grande chance de continuar na briga. Temos que fazer nossa parte e depois ver o que acontece. Se o Corinthians vencer, abre 12 pontos faltando nove rodadas e aí será muito difícil porque ainda estamos na Libertadores, que é a nossa prioridade. São dois grandes clubes e os dois melhores no momento de acordo com a pontuação.

Quais times ainda brigam pelo título?
O Corinthians pela gordura que conseguiu é o grande favorito para conquistar o título. Tem 85% de chance. Tem o Santos na briga, o Grêmio e até o próprio Palmeiras. Já vi muita coisa acontecer no futebol.

Como vê o nível do futebol brasileiro?
Não é dos melhores. É só ver a tabela. Temos sete times que dispararam e brigam por algo relevante. O resto luta para não cair. Essa é a maior prova de que o nível não é tão bom. O correto seriam cinco, seis times na briga para não cair.

Pelo investimento feito, a campanha do Grêmio nas três competições surpreendeu?
Está sendo um ano espetacular e podemos fechar com chave de ouro se ganharmos a Libertadores. Foi um pouco surpreendente porque o Grêmio ficou voando nas três competições. O Grêmio não está junto ou na frente do Corinthians porque muitas vezes trocou um time inteiro por conta da Copa do Brasil [eliminado na semifinal] e da Libertadores [semifinalista], enquanto o Corinthians disputou basicamente só o Brasileiro. Por isso, perdemos pontos importantes. Hoje, o nosso foco é a Libertadores, mas ainda estamos ligados no Campeonato Brasileiro e queremos ficar entre os quatro primeiros para garantir uma vaga na próxima Libertadores, já que não sabemos até onde vamos neste ano.

Então, o calendário atrapalhou o Grêmio?
Uma competição atrapalhou a outra, desgastou muito o time. O Grêmio não foi mais além neste ano porque acabou castigado pelo calendário. O Brasileiro é uma decisão a cada jogo, a Libertadores e a Copa do Brasil são torneios mata-mata. Haja grupo, haja time. Tem o cansaço, as lesões, as viagens. Ninguém aguenta jogar em alto nível todas as partidas. Por isso, o Corinthians tirou muito proveito disso.

Em 2019, a CBF vai exigir que os treinadores tenham as licenças da entidade para ficar na beira do campo. Vai fazer esse curso?
A CBF pode exigir a carteira de um treinador que está há cinco anos na função. Agora, você pegar treinadores que já ganharam um título, têm um nome no mercado e colocar para fazer um curso, aí não estou de acordo. Quem é que vai entender mais do que esse pessoal? O aluno vai ensinar o professor? Falta mais de um ano e não vou quebrar a minha cabeça agora sobre isso.

Qual a maior virtude sua para comandar o Grêmio e como se mantém atualizado?
Antigamente, havia muito mais craques e os treinadores não esquentavam a cabeça. Hoje, o que faz a diferença são os caras dentro de campo. Vejo os jogos europeus e não têm nada de diferente. O que diferencia um pouquinho é do trabalho de cada um. Além de você entender de futebol e tática, a grande vantagem é o técnico saber ser gestor, o que é importantíssimo. Eu sou muito bom gestor.

Qual o segredo para ser um bom gestor?
Aí eu não conto. Não vou ensinar o pessoal a trabalhar. O mestre nunca ensina o pulo do gato. O que aprendi no futebol ajudou muito. Eu trabalhei com os melhores técnicos do Brasil e joguei com os melhores jogadores também.

Como trabalha para os jogadores concentrarem as atenções no Brasileiro e na Libertadores?
Nesse ponto eu sou muito bom. Eu converso muito com o grupo, eu troco ideias com eles. Eu falo a importância de não deixar o Brasileiro de lado. Apesar de ter pouquíssimas chances de ganharmos o título, ainda temos possibilidades matemáticas. Então, vamos fazer o possível. Outro detalhe importante que estou colocando para os atletas é a importância de colocar o Grêmio na fase de grupos da Libertadores do ano que vem independentemente do que acontecer na edição deste ano da Libertadores, porque ninguém nos garante que vamos ser campeões da competição agora em 2017. Então, por isso temos que estar focados na Libertadores e no Brasileiro. Podemos ter sucesso nas duas como também podemos pecar nas duas.

O Grêmio contratou jogadores que foram renegados em alguns clubes ou com idade avançada. Foi um pedido seu?
O Grêmio basicamente nem investiu e mesmo assim está chegando. Contratou jogadores nos quais muita gente nem acreditava mais, como nos casos do Léo Moura e do Cortez, que estão nos ajudando muito. Sobre esses dois jogadores eu indiquei para a diretoria no período de férias. Muita gente da imprensa e da torcida foi contra. Essa é mais uma prova que o Grêmio trouxe jogadores baratos e que estão nos ajudando. Alguns clubes fizeram grandes contratações e não conseguiram metade do que o Grêmio fez. Todo jogador que chega tem meu aval.

Você tem o objetivo de treinar a seleção brasileira?
Eu tenho sim, mas não agora. Se eu fizer um bom trabalho nos clubes, a minha hora vai chegar. Não tenho pressa. É igual jogador de futebol para chegar à seleção. Hoje, o Brasil está muito bem servido com o Tite e desejo um bom trabalho para ele e os jogadores na Copa do Mundo.

Ainda existe o questionamento do trabalho e do jeito do Renato agir. Como vê isso?
Não tem como saber se é por causa do meu jeito, se é por causa de ciúmes, da inveja. Porém, contra os números não adianta você brigar. Cada treinador tem sua maneira de agir, de falar. Eu tenho a minha e não vou mudar. Eu sou assim e ponto final.

Aceitaria treinar algum time do futebol europeu?
Não, 99,9% que não. Estou bem no Brasil, gosto daqui e trabalhar na Europa não me atrai. Tenho tudo aqui no Brasil. Prefiro ficar no Brasil.

Na última janela de transferência, Neymar foi negociado por R$ 222 milhões de euros. Se o Renato tivesse jogando ainda, qual o valor que o Renato seria negociado?
Eu falo sempre para o meu grupo: 'Eu nasci na época errada. Eu queria ter nascido nessa época agora para ganhar o dinheiro que vocês ganham'. Na minha época, tinha muito futebol e pouco dinheiro. Hoje, o futebol está menor, mas tem muito mais dinheiro. Tenho certeza que eu e os jogadores da minha geração iam ganhar muito mais dinheiro agora. Infelizmente, jogamos em uma época em que não tinha tanto dinheiro. Tem muitos jogadores que hoje ganham R$ 500 mil, mas se ganhassem R$ 100 mil ou R$ 150 mil estaria de bom tamanho. Hoje, temos poucos craques. O Neymar vale esse dinheiro porque depois do Messi é o melhor jogador do mundo.

RAIO-X - RENATO GAÚCHO

Nascimento: 9.set.1962 (55 anos), em Guaporé (RS)

Clubes como técnico: Fluminense, Vasco, Bahia, Atlético-PR e Grêmio

Principais títulos: Copa do Brasil-2007/Copa do Brasil/2016

Clubes como jogador: Grêmio, Flamengo, Roma, Botafogo, Cruzeiro, Atlético-MG e Fluminense

Títulos como jogador: Libertadores-1983, Mundial de Clubes-1983, Copa do Brasil-1990


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