Folha de S. Paulo


Meritocracia cria abismo financeiro entre clubes na Liga dos Campeões

Pierre Philipe Marcou/AFP
Real Madrid's French coach Zinedine Zidane (L) attends a training session at Valdebebas Sport City in Madrid on October 16, 2017 on the eve of a Champions' League football match against Tottenham. / AFP PHOTO / PIERRE-PHILIPPE MARCOU ORG XMIT: PPM2138
O técnico Zidane (à esq.) comanda o treino do Real Madrid na véspera do jogo contra o Tottenham

Ao priorizar a meritocracia, a UEFA acaba ampliando o abismo financeiro entre os concorrentes do seu principal torneio, a Liga dos Campeões da Europa, que terá sua terceira rodada da atual edição nesta terça-feira (17).

A fórmula empregada para a distribuição da premiação de mais de R$ 2,8 bilhões do principal torneio do mundo - e também o mais rico - leva em consideração as vitórias e, principalmente, as fases alcançadas ao longo da competição, o que concentra o dinheiro entre os times de Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália e França. O tamanho do mercado nacional para a venda dos direitos de TV também é levado em consideração na partilha do dinheiro.

Um time das cinco grandes ligas europeias tende sempre a ganhar mais do que um da Suíça ou do Azerbaijão.

O presidente da UEFA, o esloveno Aleksander Ceferin, disse que "resolver a divisão que existe entre os clubes ricos e pobres da Europa" é o grande desafio a ser atacado no curto prazo. Para ele, a disparidade é reforçada por episódios como a transferência de Neymar, que trocou o Barcelona pelo PSG por mais de R$ 800 milhões.

O histórico do torneio também atesta a discrepância e mostra que quanto mais dinheiro, mais longe o time vai. Considerando todas as edições da Liga dos Campeões - que tem este nome desde 1993 -, 96 equipes, de nove países, chegaram às semifinais. Neste universo, apenas oito (8,3%) eram de ligas de segunda linha na Europa. No caso, Holanda, Portugal, Grécia e Ucrânia.

Se o recorte for as quartas de final, a situação muda pouco. Somente 16,8% dos 184 times que chegaram entre os oito primeiros não eram dos cincos grandes países do futebol europeu.

Adrian Dennis - 12.set.2017/AFP
Qarabag's Brazilian midfielder Pedro Henrique controls the ball during the UEFA Champions League Group C football match between Chelsea and Qarabag at Stamford Bridge in London on September 12, 2017. / AFP PHOTO / Adrian DENNIS
O meia brasileiro Pedro Henrique, do Qarabag, durante uma partida da Liga dos Campeões da Europa

Só o português Porto, dirigido por José Mourinho na temporada 2003/04, e o Ajax, da Holanda, ganharam o troféu criado em 1993 sem pertencer a uma das cinco principais ligas.

Dos 55 países membros da UEFA, 23 nunca tiveram um time na fase de grupos da Liga dos Campeões. Mais da metade deles votou em Ceferin na eleição realizada há um ano.

O esloveno, que assumiu a UEFA no lugar de Michel Platini, suspenso por supostas irregularidades, tem pelo menos mais um ano e meio de mandato para tentar diminuir o abismo que existe entre os clubes multimilionários e aqueles que administram um orçamento modesto.

A pergunta de um milhão de dólares, segundo o próprio Ceferin, é como aumentar a competitividade financeira por toda a Europa. "Sou pragmático. Estou aberto a qualquer sugestão prática que possa beneficiar o futebol europeu", disse ele em um dos seus discursos.

SOBREVIVÊNCIA

A festa de clubes pequenos quando chegam na fase de grupos da Liga dos Campeões, como ocorreu com o Qarabag, do Azerbaijão, na atual temporada, tem sentido.

Neste ano, cada uma das 32 equipes que participam da etapa recebeu, independentemente dos resultados, R$ 47 milhões. Elas ainda terão a chance de ganhar R$ 5,6 milhões por vitória ou R$ 1,9 milhão cada vez que empatar.


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