Folha de S. Paulo


Liga de futebol americano, NFL adota cautela após onda de protestos

Stacy Revere/Getty Images/AFP
GREEN BAY, WI - SEPTEMBER 28: Green Bay Packers players link arms during the singing of the national anthem before the game against the Chicago Bears at Lambeau Field on September 28, 2017 in Green Bay, Wisconsin. Stacy Revere/Getty Images/AFP / AFP PHOTO / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Stacy Revere
Jogadores do Green Bay Packers de braços dados durante hino dos EUA, em nova manifestação

Diante da perspectiva de uma onda de protestos de atletas nos jogos da NFL deste sábado (30) e domingo (1º), os proprietários de times e os jogadores da principal liga de futebol americano dos Estados Unidos estão batalhando para decidir seus próximos passos, depois de uma das rodadas mais polêmicas que a organização já viveu.

Agora, eles precisam ponderar o desejo dos jogadores de rebater as críticas do presidente Donald Trump, ouvindo o hino ajoelhados ou de braços dados para conscientizar o público sobre a injustiça social.

Ao mesmo tempo, é preciso decidir como atender aos torcedores, que prefeririam que o futebol americano continuasse a ser só um esporte.

Enquanto o presidente disparava provocações quase todos os dias, os dirigentes da NFL e os jogadores se reuniram esta semana para discutir como proceder.

Pelo menos um time, o Denver Broncos, anunciou que seus jogadores ouviriam o hino de pé. Diversos jogadores de outros times expressaram o desejo de ouvi-lo ajoelhados, ou disseram estar discutindo o que fariam.

Na noite de quinta-feira (28), os jogadores do Green Bay Packers e do Chicago Bears se posicionaram de braços dados em suas respectivas metades do campo, durante o hino nacional, antes da partida entre os times em Green Bay, e pediram que os torcedores fizessem o mesmo.

A reunião na sede da NFL esta semana teve a presença de Roger Goodell, comissário da liga, e de diversos proprietários de times importantes, bem como a de meia dúzia de jogadores.

O encontro não resultou na adoção de quaisquer medidas concretas, ainda que um jogador que compareceu tenha dito que percebeu que o desejo dos proprietários é que os jogadores se levantem durante a execução do hino.

A questão causou um dilema incomum para a NFL –a necessidade de respeitar os desejos dos jogadores, que muitas vezes criticam os proprietários quanto a questões de saúde e de contratos de trabalho, e ao mesmo tempo considerar sinais de reação negativa dos torcedores.

Está claro que os proprietários e os executivos dos times prefeririam que os protestos acabassem, tanto por motivos pessoais quanto pelo risco de que irritem ainda mais o presidente, que é amigo e aliado de muitos desses proprietários, e que alienem os torcedores e patrocinadores.

Mas esse grupo também mostra cautela quanto à possibilidade de que suas ações pareçam autoritárias e maculem a imagem de unidade que a liga buscou projetar no final de semana passado.

O que emergiu de reuniões realizadas em diversos lugares da liga esta semana –de vestiários de times à sede da NFL– foi uma estratégia de não reagir agressivamente aos ataques de um presidente imprevisível.

Os jogadores, com ajuda dos dirigentes, tentam formular uma mensagem que demonstre seu desejo de se manterem unidos e ao mesmo tempo trate da intenção original dos protestos : conscientizar o público sobre a brutalidade da polícia contra negros e o racismo em geral.

"Os jogadores têm o direito de dizer o que pensam, por outro lado isso pode dificultar as coisas porque não existe ninguém nos Estados Unidos que não deseje honrar seu país", disse Arthur Blank, dono do Atlanta Falcons. "Em conversas com outros proprietários e o comissário, todos sentem a mesma coisa: apoiam os jogadores."

Mas em uma liga com 32 times, dois mil jogadores e ampla gama de opiniões políticas nos vestiários e nos camarotes dos proprietários, encontrar consenso vem sendo difícil.

Em Charlotte, diversos jogadores visitaram a casa de Jerry Richardson, o dono do Carolina Panthers, para expressar sua frustração com o que percebem como restrições à liberdade de falar sobre questões sociais.

Em Kansas City, o wide receiver Chris Conley, do Chiefs, afirmou que seus colegas de equipe lhe disseram respeitosamente que discordavam de sua decisão de se ajoelhar durante o hino.

Delanie Walker, do Tennesse Titans, disse que ele e sua família haviam recebido ameaças de morte, depois de ter apoiado os protestos.

O comissário Goodell e seus assessores tentaram atenuar as preocupações dos patrocinadores, na sede da liga em Manhattan.

Ainda que a Nike e outras empresas tenham divulgado comunicados em apoio ao direito de protesto dos jogadores, a DirecTV, empresa de TV por assinatura que dá acesso à transmissão de todos os jogos da NFL, deve permitir que os compradores peçam reembolso dos valores pagos caso mencionem protestos.

A liga também está monitorando a reação dos espectadores nas mídias sociais, onde surgiram vídeos de pessoas queimando camisas.

Quase todos os times receberam milhares de telefonemas de torcedores, a maioria em oposição aos protestos. Alguns devolveram pacotes de ingressos para a temporada.

"Compreendemos que haja raiva por aí", disse Joe Lockhart, porta-voz da NFL. "Entendemos que parte dela tenha base em agendas políticas. Mas a raiva de alguns dos torcedores tem por base os princípios deles. Compreendemos isso."

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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