Folha de S. Paulo


Protestos de atletas negros têm longo histórico nos Estados Unidos

Arquivo/AP Photo
FILE - In this Oct. 16, 1968, file photo, extending gloved hands skyward in racial protest, U.S. athletes Tommie Smith, center, and John Carlos stare downward during the playing of
Os atletas americanos Tommie Smith (centro) e John Carlos no pódio da Cidade do México-1968

Os rompantes do presidente Donald Trump contra os atletas profissionais que protestam contra a injustiça racial e a resposta desafiadora dos times da NFL, a maior liga de futebol americano dos Estados Unidos, atraíram atenção renovada aos protestos políticos realizados durante a execução do hino nacional em eventos esportivos.

Atos de protesto como os registrados no domingo (24) na última rodada da NFL –após iniciativa do quarterback Colin Kaepernick contra a atuação de policiais contra negros– têm uma história longa nos EUA, e uma tradição igualmente longa de irritar os torcedores, dirigentes esportivos e políticos, majoritariamente brancos.

Em 1968, em uma cerimônia de premiação na Olimpíada da Cidade do México dois atletas norte-americanos fizeram aquele que se tornaria um dos mais famosos protestos políticos da história do esporte.

Tommie Smith e John Carlos, subiram ao pódio para ouvir o hino nacional dos Estados Unidos, depois de conquistarem ouro e bronze nos 200 metros rasos, e ergueram os punhos, envoltos em luvas negras, em uma saudação normalmente associada ao movimento black power. Pressionado pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), o Comitê Olímpico dos Estados Unidos os suspendeu e retirou da olimpíada.

A punição imediata pelas autoridades olímpicas serviu de advertência a outros, segundo o artigo.

A ação obviamente moderou o comportamento dos atletas negros norte-americanos envolvidos em cerimônias de vitória subsequentes. Ao aceitar as medalhas por suas medalhas de ouro, prata e bronze nos 400 metros rasos, também em 1968, Lee Evans, Larry James e Ron Freeman usaram boinas negras, mas não se comportaram de maneira a causar rancor da parte dos dirigentes.

Quatro anos depois da controvérsia de 1968, surgiu um novo incidente. Os atletas Vince Matthews e Wayne Collett, ambos negros, subiram ao pódio em Munique em um momento no qual os dirigentes temiam uma repetição do gesto de seus colegas na Cidade do México.

Os dois foram excluídos de competições olímpicas pelo COI.

HINO ABANDONADO

"Em meio a crescentes controvérsias sobre sua execução em eventos esportivos", afirmava um artigo de primeira página do "New York Times" em 16 de janeiro de 1973, "o hino nacional foi abandonado em uma seletiva olímpica de atletismo no Madison Square Garden".

O jornal citou o diretor do evento, que teria dito que executar o hino não era obrigatório porque "seu propósito e relevância em eventos esportivos jamais foram estabelecidos".

Um dia depois, nova reportagem de primeira página contava história diferente: "Garden executará hino antes de torneio de atletismo, afinal".

A reversão surgiu depois que o Comitê Olímpico dos Estados Unidos recebeu "numerosos telefonemas irados de todo o país", segundo o jornal.

Duas décadas depois, em março de 1996, nova polêmica com a execução do hino em eventos esportivos. A NBA suspendeu Mahmoud Abdul-Rauf, do Denver Nuggets, por sua recusa em se levantar durante a execução do hino nacional.

Abdul-Rauf, que se converteu ao islamismo em 1991, disse que não acreditava em se levantar para expressar respeito por qualquer ideologia nacionalista.

O verdadeiro problema, de acordo com um editorial do "New York Times", "não é a sabedoria ou a precisão da opinião de Abdul-Rauf de que a bandeira representa um 'símbolo de opressão', ou que os ensinamentos islâmicos ditem que ele não se levante durante o hino".

"O problema é a NBA estar cega ao fato de que tentar forçar participação em um exercício de patriotismo solapa os valores democráticos".


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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