Folha de S. Paulo


Com proprietários e jogadores unidos, NFL se insurge contra Trump

Com 32 times, a NFL, a liga de futebol norte-americano, é uma das competições mais duras, equilibradas e lucrativas do mundo. A partir dos eventos marcantes deste final de semana, esses 32 clubes, liderados por empresários bilionários, com elencos numerosos, têm um oponente em comum: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Os EUA testemunharam no domingo (24) uma onda de protestos em suas gigantescas arenas, espalhadas de Leste a Oeste. Na verdade, até mesmo Londres, onde jogaram Baltimore Ravens e Jacksonville Jaguars, foi palco para o crescente movimento entre os atletas, agora impulsionados também por comentários explosivos de Trump.

Na sexta, durante comício no estado de Alabama, o presidente pediu a demissão de atletas que se manifestassem durante a execução do hino nacional em cerimonial pré-jogo, com linguajar impróprio.

"Quando alguém desrespeita nossa bandeira, vocês não amariam se os proprietários da NFL ordenassem a retirada desse filho da puta de campo?", questionou.

Pois três donos de clube realmente foram a campo neste final de semana. Mas tomaram atitude bem diferente da sugerida. Os ataques de Trump colocaram donos e jogadores lado a lado. Shakid Khan (Jacksonvile Jaguars), Jeffrey Lurie (Philadelphia Eagles) e Daniel Snyder (Washington Redskins) perfilaram com seus atletas, num raro ato de unidade na liga.

Mesmo antigos aliados agora se veem contrariados. Sua campanha contou com doações de dez proprietários da NFL. Entre eles, estavam justamente Shakid (US$ 1 milhão) e Snyder (US$ 100 mil).

Segundo a revista "Forbes", o valor médio de uma franquia da NFL é de US$ 2,5 bilhões (R$ 7,8 bilhões).

Tom Brady, um dos jogadores mais populares da NFL e quem Trump já chamou de um "amigo" e entusiasta de sua candidatura, disse discordar da visão do presidente.

"Foi algo que procurou separar as pessoas", afirmou o marido da modelo brasileira Gisele Bündchen. "Qualquer um tem o direito de fazer o que quiser. Se você não concorda, tudo bem. Pode manifestar sua discórdia. Mas de modo pacífico, respeitoso."

A liga, como instituição, também saiu em ofensiva. O porta-voz da NFL, Joe Lockhart, disse nesta segunda (25) que nenhum atleta será punido. Nem mesmo aqueles que tenham ferido as regras da liga, como os jogadores de Pittsburgh Steelers, Seattle Seahawks e Tennessee Titans, que se recusaram a ir a campo para escutar o hino.

"Os atletas têm o direito de se expressarem. Foi um dia importante para a liga", disse Lockhart, que já foi o secretário de imprensa da presidência de Bill Clinton (1993-2001).

PROTESTOS

Diversos clubes da NFL deram demonstração de solidariedade antes dos jogos de domingo a jogadores têm realizado protestos. Eles têm se ajoelhado em campo, juntando os braços ou mesmo ficando fora de campo durante o hino, em desafio ao apelo do presidente dos EUA..

Repetindo um gesto iniciado na temporada passada por Colin Kaepernick, à época quarterback do San Francisco 49ers, vários jogadores da NFL passaram a se apoiar em um joelho durante a execução do hino, uma forma de chamar atenção ao que os esportistas veem como um padrão de racismo no tratamento dado pela polícia dos EUA a norte-americanos negros.

Em Detroit, vários integrantes do Lions se ajoelharam e o cantor Rico Lavelle se apoiou em um joelho e ergueu um punho fechado no final de sua interpretação do hino nacional dos EUA.

Na Filadélfia, policiais se uniram aos jogadores do Eagles e do New York Giants e ao proprietário do Eagles, Jeffrey Lurie, juntando os braços durante o hino como sinal de solidariedade.

Embora alguns norte-americanos simpatizem com os manifestantes, outros veem a recusa em permanecer de pé como um desrespeito pela bandeira e pelos membros das Forças Armadas que se sacrificaram ou morreram na defesa do país.

A controvérsia pode agradar a base conservadora de Trump no momento em que o presidente republicano se vê às voltas com as ameaças nucleares da Coreia do Norte, uma investigação sobre a suposta interferência da Rússia na eleição de 2016 e uma batalha para aprovar um reforma de saúde no Congresso.

Mas a postura de Trump pareceu ter convencido jogadores, times e a liga a afirmarem o que veem como um direito de expressar suas convicções políticas livremente.

A NBA TAMBÉM
Trump tirou o final de semana para entrar em controvérsia com atletas americanos em geral: além da ofensa a membros da NFL, usou suas redes sociais para também bater de frente com o armador Stephen Curry, um dos astros da NBA, a liga de basquete norte-americana.

Durante coletiva de reapresentação na sexta-feira, Curry, eleito o melhor jogador da liga em 2014 e 2015, afirmou que se recusaria a visitar à Casa Branca durante o mandato de Trump.

Uma das tradições da liga de basquete é que seu campeão vá à sede do governo para uma celebração e foto oficial. Em resposta, o presidente disse que visitar a Casa Branca deveria ser uma "honra" e que teria cancelado o convite aos Warriors.

Rival de Curry em quadra, contra quem jogou as últimas três finais da liga, o ala LeBron James, do Cleveland Cavaliers, rebateu o presidente. Nesta segunda, na reapresentação de sua equipe, manteve a linha ofensiva, classificando o presidente como um "vagabundo".

James também falou sobre a importância de os atletas se pronunciarem politicamente: "É o povo que manda no país, e, não, um indivíduo. Muito menos ele".

Técnico do San Antonio Spurs e da seleção norte-americana, Gregg Popovich afirmou que hoje os "Estados Unidos passam vergonha no mundo".


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