Folha de S. Paulo


Opinião

Mulheres são historicamente relegadas ao 2º plano no esporte

Associated Press
Bobby Riggs, abaixo, rebate bola na partida contra Billie Jean King
Bobby Riggs, abaixo, rebate bola na partida contra Billie Jean King

Declarar-se fã de tênis feminino desperta olhares em geral reservados a pássaros exóticos. "Tênis? Feminino?"

O estranhamento não é injustificado -em 2009, o tênis representava 4% do mercado mundial de eventos esportivos, empatado com hóquei no gelo, ante 43% do futebol.

Mas revelar-se fã de Federer, Nadal ou Djokovic ainda é menos chocante que dizer que se esperava um 2017 melhor de Angelique Kerber.

Os esportes femininos são, por motivos prontamente imaginados, historicamente relegados ao segundo plano -a ideia de que "esporte não é coisa de mulher" sendo o resumo de boa parte deles.

No tênis a situação não é diferente, ainda que seja um dos esportes mais igualitários.

Tanto o circuito masculino quanto o feminino são globais. Há torneios que recebem tanto homens quanto mulheres (em disputas separadas) e, em um punhado de casos, há prêmios de mesmo valor.

Muito do que há hoje de igualdade entre homens e mulheres no tênis tem suas origens nos esforços fenomenais de Billie Jean King e suas contemporâneas, uma parte dos quais é retratada no filme "Batalha dos Sexos".

Mas a luta feminista não tem tréguas, ainda mais em um mundo de retrocessos. Fora dos principais campeonatos, os eventos exclusivamente femininos pagam muito menos que os masculinos.

A diferença entre as receitas da ATP, associação que rege o tênis masculino, e da WTA, sua correspondente feminina, saltou de US$ 2,6 milhões em 2008 para US$ 37,4 milhões em 2014, o que ajuda a explicar a disparidade.

Os desafios fora das quadras estão também do lado de cá da bancada: Victoria Azarenka, 28, ex-número 1 do mundo e recém-retornada ao circuito após dar à luz em dezembro, foi questionada por um repórter se Roger Federer, pai de quatro filhos (nenhum dos quais ele pariu), era uma inspiração para o seu retorno.

Vale lembrar que Kim Clijsters, alçada ao Hall da Fama este ano, deixou a aposentadoria depois de se tornar mãe há menos de uma década. Após o retorno, ganhou três dos seus quatro Grand Slams.

À CNN, neste mês, Martina Hingis, que em 1997 se tornou a mais jovem vencedora de Grand Slam (entre homens e mulheres), ouviu do entrevistador: "O que você aprendeu com seu compatriota Roger Federer?". A resposta? "Ele é mais novo do que eu [10 meses]. Ele aprendeu comigo."

Seria o suíço um grande exemplo para as mulheres do mundo? Ou haveria uma falta de instrumental para falar dos feitos femininos?

Em artigo na BBC nesta segunda (18), Andy Murray lembra que o trabalho que dá tornar-se um dos melhores tenistas do mundo é o mesmo para homens e mulheres. Seria bom não precisar de um homem para que esse argumento fosse levado a sério.


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