Folha de S. Paulo


Membros do COI pressionam órgão a tomar atitude enfática contra Nuzman

Ricardo Moraes/Reuters
Carlos Arthur Nuzman chega para depoimento na Polícia Federal
Carlos Arthur Nuzman chega para depoimento na Polícia Federal

Membros proeminentes do COI (Comitê Olímpico Internacional) presentes na sessão da entidade em Lima, no Peru, cobram do órgão uma atitude mais enfática contra o presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Carlos Arthur Nuzman, 75 -também líder da Rio-2016 e membro honorário do COI-, por seu suposto envolvimento em esquema de compra de votos na eleição do Rio como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Em comunicado oficial, o comitê afirmou que vai esperar manifestação das autoridades brasileiras para tomar providências sobre o caso.

Ex-vice-presidente do COI e seu membro ativo mais antigo, o canadense Richard Pound, 75, disse que o escândalo afeta a credibilidade da entidade e "precisa ser resolvida imediatamente".

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O dirigente, que é tido como um dos mais críticos dentro da organização, não poupou queixas contra o próprio comitê internacional.

"Minha preocupação é que falamos [no COI] muito de ética e de valores, mas não fazemos nada. Não concordo com essa posição de esperar que as autoridades tragam os esclarecimentos e somente então agir", disse Pound, que já presidiu a Wada (Agência Mundial Antidoping).

"Não é possível propor um esporte ético se você não é ético", afirmou. "Se o COI estivesse fazendo tudo o que propõe, seria mais santificado do que a Madre Teresa. Mas sabemos que não é assim."

O canadense traçou um paralelo entre a suspeita atual com o escândalo dos Jogos de Inverno de Salt Lake City-2002, que também envolveu compra de votos de membros do COI e veio à tona em novembro de 1998.

Na ocasião, integrantes do comitê organizador do evento americano deram presentes e pagamentos em troca de sufrágios. A descoberta resultou na expulsão de dez membros do comitê internacional.
Pound, que era vice-presidente do COI na época, afirmou que a reação da entidade foi mais firme. "No caso de Salt Lake City, nós [o COI] fizemos a investigação. Não esperamos pela polícia ou qualquer outro. Agora não estamos fazendo nada", afirmou.

Denis Balibouse - 9.nov.2015/Reuters
Richard Pound discursa em conferência da Wada (Agência Mundial Antidoping)
Richard Pound discursa em conferência da Wada (Agência Mundial Antidoping)

Na segunda (11), o comitê executivo do COI emitiu comunicado no qual disse que entrou em contato as autoridades brasileiras para saber mais a respeito da investigação que tem Nuzman como alvo. Também ressaltou que vai agir desde que tenha provas. A posição passiva é contraproducente, diz Pound.

"O processo criminal leva muito tempo. E, se você é o acusado, quanto mais tempo, melhor. Documentos se perdem, pessoas morrem. É preciso caminhar mais rápido."

Ele avalia que as suspeitas prejudicam a reputação dos demais membros. "Quando pessoas veem que somos membros do COI perguntam: 'ah, você é um daqueles criminosos'?. Isso não é nada bom para a organização."

Figura central da candidatura de Madri-2016, que perdeu a disputa final para o Rio, Juan Antonio Samaranch, 57, também cobrou respostas.

"Temos um respeito à questão judicial, por isso não podemos emitir mais opinião neste momento. Foi uma vitoria que na época pareceu limpa. Agora, se ficar comprovado que houve irregularidades, os responsáveis
terão de responder e pagar."

Filho do homônimo ex-presidente do COI, ele disse que se houver provas de compra de votos haverá consequências. "Atuaremos decisivamente assim que tivermos mais informações a respeito."

Recentemente eleito para presidir o Comitê Paraolímpico Internacional, o brasileiro Andrew Parsons afirmou que "todos os envolvidos no esporte querem que isso se resolva rapidamente".

"Fica uma mancha, independentemente do resultado da investigação, porque já ocorreu a acusação. Espero que ela diminua no fim, mas de qualquer foram fica um gosto amargo", concluiu.

Nuzman é suspeito de viabilizar um esquema de compra de votos para a candidatura do Rio para os Jogos de 2016, de acordo com o Ministério Público Federal e procuradores franceses. O cartola foi intimado a depor no dia 5 de setembro e sua casa foi alvo de busca e apreensão em operação da Polícia Federal -foram achados R$ 480 mil, em várias moedas, e seus passaportes foram apreendidos. Seus advogados negam envolvimento no esquema.

As outras peças do esquema seriam o senegalês Lamine Diack e seu filho, Papa Massata Diack, que teriam recebido US$ 2 milhões de propina para influenciarem votos da África, e o empresário brasileiro Arthur Menezes Soares, ligado ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral.


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