Folha de S. Paulo


Uma disputa brutal atravessa ilhas e impõe desafios a atletas na Suécia

Divulgação/Jakob Edholm
OTILLO é uma corrida de natação de um dia no arquipélago de Estocolmo, Suécia.
Os competidores do Ötillö Swimrun World Championship entram na água de tênis

Ao raiar do dia na segunda-feira, 300 atletas de 24 países vestiram seus trajes de banho, toucas, nadadeiras de mão e tênis de corrida, e mergulharam nas águas em torno da ilha de Sandhamn, na Suécia. Sim, de tênis.

Os trajes estranhos se enquadram perfeitamente ao Ötillö Swimrun World Championship, corrida de aventura em que atletas correm e nadam por 75 km, passando por 26 ilhas de Estocolmo.

Um dos participantes era Rich Roll, 50, um dos mais conhecidos atletas americanos de provas de resistência e responsável por contas de mídia social populares, que fazem dele um influenciador junto a outros atletas, atores, escritores e empreendedores.

A Ötillö original nasceu de uma aposta de bar entre quatro amigos, em 2002.

Em 2006, Michael Lemmel, veterano de provas de aventura, assumiu a organização da prova e a transformou em evento formal. A versão atual segue a maior parte da rota original, por aldeias, florestas e terras agrícolas.

Os atletas correm em duplas, nadando um total de 10 km e correndo 65 km.

A despeito da temperatura gélida da água, da ordem de menos de 15ºC, os trechos de natação foram fáceis para Roll, que foi parte de duas equipes campeãs nacionais de natação nos EUA.

Roll também é veterano de corridas de longa distância, mas jamais havia enfrentado o tipo de terreno que encontrou na segunda-feira. A chuva que caía com força complicou ainda mais o desafio.

A maior parte da costa, nas ilhas percorridas, é ocupada por rochedos lisos e pedras soltas.

"É uma verdadeira corrida de obstáculos."

Roll começou a sentir cãibra nas pernas após 90 minutos de corrida, e quando o terreno enfim se nivelou, em estradas de cascalho e asfalto, ele mal conseguia se mover.

"Achei que corria o risco de não terminar a prova."

A linha de chegada, na ilha de Üto, fica na porta do bar onde a prova foi concebida. A história de Roll, como a da corrida, passa pelo álcool.

"Finding Ultra", seu livro de memórias, é um relato íntimo sobre sua metamorfose tripla, de um advogado do setor de entretenimento preso duas vezes por embriaguez ao volante a um homem sóbrio e sedentário, cujo peso chegou a quase 100 kg, antes que se tornasse um vegano.

A virada veio após seu 40º aniversário, quando ele começou a correr, pedalar e nadar, e deixou de comer produtos de origem animal.

"O peso desapareceu e comecei a pensar que, se era possível virar as coisas tão rápido, talvez não houvesse limite para o que posso fazer."

Em 2012, ele criou o Rich Roll Podcast, para compartilhar o que havia aprendido. Seu podcast de maior audiência foi com David Goggins, ex-integrante das forças SEAL da marinha, que superou a pobreza, o racismo a obesidade e se tornou campeão de provas de resistência.

Roll é um entrevistador habilidoso. A mistura de inteligência, interesse atlético e sentimento ajudou o Podcast a ter média superior a um milhão de downloads por mês.

Mas não é só o tamanho da audiência que impressiona, mas as pessoas que ele atingiu. "A força dele está na autenticidade", afirmou Kerri Walsh Jennings, tricampeã olímpica no vôlei de praia.

A despeito dos seguidores famosos, Roll diz que sua motivação são ouvintes comuns.
"Recebo mensagens de pessoas que se sentem solitárias", disse. Uma delas veio de um empreiteiro hidráulico da Louisiana, Josh LaJaunie, que em 2011, aos 32 anos, pesava 191 kg. Roll o inspirou a se tornar vegano, perder mais de 90 kg e se tornar campeão de provas de ultradistância.

Era nessas pessoas que Roll estava pensando ao decidir recuperar a forma em novembro passado, depois de cinco anos sem correr. Seu treinador, Chris Hauth, ajudou-o a acelerar seus treinos.

Naquela segunda-feira, na Suécia, nos três quilômetros finais da corrida que terminam com um trecho íngreme, ele por fim encontrou seu ritmo. Ele e Hauth, 47, terminaram como a dupla norte-americana mais bem classificada, com tempo de pouco menos de 11 horas (10h44min46seg).

Ainda que ele tenha conseguido tempo pior do que esperava, disse que se sentiu orgulhoso por concluir o teste.

"O principal é perceber que, mesmo que você se sinta péssimo por algum tempo, não é assim que você se sentirá o tempo todo", ele disse.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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